Ensino médio - Estou aqui por obrigação

Capítulo 1

Entrar em uma van escolar às seis horas da manhã não é a melhor sensação do mundo, principalmente logo após o final das férias. Colocar o pé dentro do automóvel, segurar-se em um dos bancos e dar um impulso, entrando por completo no veículo, ouvir o banque da porta se fechando e o rolar dos pneus ou, talvez, observar através das janelas o seu afastamento de casa são as maneiras pelas quais o universo parece gostar de deixar claro o fim do descanso e da diversão. Agora você está oficialmente preso aos estudos e responsabilidades dos quais tentou fugir e ignorar durante o verão.

Henrique esforçava-se para olhar o copo meio cheio. Afinal, a volta ao colégio também garantia o seu reencontro com C.J., seu melhor amigo. Infelizmente, os garotos puderam aproveitar ambas as companhias por um curto período das férias, já que, logo na terceira semana em que estavam livres da escola, o Sr. e a Sra. Oliveira levaram seu amigo para uma viagem à Europa. Henrique teve de contentar-se com as atualizações dos Stories de C.J. e suas constantes e importunas mensagens. Apesar do empecilho, do tempo de descanso foi feito bom proveito.

Seus pensamentos viajaram pelas lembranças daquele tempo enquanto descansava com a testa colada na superfície fria e refrescante da janela. Lembrava da vez que ele e C.J. jogaram videogames durante um dia inteiro, sendo somente interrompidos pelos gritos da mãe do amigo que o ordenava para que se desvencilhasse do computador e fosse aproveitar o novo continente em que estavam. Lembrava de quando viajou com sua mãe para a casa de praia de seus avós e ficou completamente apaixonado por uma ruiva de olhos azuis que ignorou sua existência. Lembrava de tentar desesperadamente, em seu último dia de férias arrumar seu quarto. Henrique se apegou a cada mínimo pedacinho daqueles pensamentos antes de adormecer naquela, infelizmente, desconfortável posição.

Contínuos toques em seus ombros o fizeram despertar e se deparar com um par de olhos que o lembrou de como ele odiava a volta às aulas. A dupla de esmeraldas que o tinha perturbado durante cinco longos anos se destacava no ambiente escuro iluminado somente pela fraca luz que provinha dos postes nas ruas. Camile Mattos o encarava com um olhar zombeteiro e impertinente. A garota de apenas nove anos e que ingressaria em seu quinto ano escolar aproveitava triunfante o fato de ter acordado o menino o atormentando com incômodas perguntas sobre sua vida pessoal.

- Alguma namorada esse ano, Sr. Acho Que Vou Vomitar? – Camile proferia as palavras enfatizando o apelido que dera a Henrique devido ao acidente do ano anterior. – Pelo menos já ficou com alguém? Se serve de consolo, deve haver alguém que esteja tão desesperado que aceite beijá-lo.

Revirando os olhos, Henrique suspirou forte e colocou o melhor sorriso que seu humor matinal conseguia produzir. Riu sarcasticamente e voltou-se novamente para a janela. Agora que seu sono havia sido interrompido, preferiu somente observar os pedestres nas calçadas e imaginar suas vidas, qualquer coisa, por mais entediante que fosse, era melhor do que aturar a presença da jovem. Porém, Camile claramente não estava disposta a deixá-lo escapar tão facilmente.

- Devo presumir, então, que você ainda é virgem? – questionou com as sobrancelhas arqueadas e em um tom cínico – Qual é?! – ela rolou os olhos – Até minha irmã que é dois anos mais nova que você já fez aquilo. E olha que ela nem é tão bonita.

- Meu Deus! Você engoliu um pornô ou o que? – o garoto, que nunca estava em seu melhor ânimo tão cedo em uma segunda, gritou chamando a atenção do motorista que o dirigiu um olhar altamente reprovador. – Desculpa. – Ele murmurou.

- Eu sei das coisas, meu querido Henri. – A menina fez um sotaque francês ao pronunciar o apelido. – E bem que você poderia aceitar minhas ajudas, assim não teria que se contentar com sua mão.