Eu dei um jeito de arrastar um colchão velho para a Torre. Peguei o projetor que Tori tinha perdido entre as bagunças do quarto de hóspedes e deixei a sala com se fosse um cinema. Nina estava, estranhamente, com a Natalie. Nina não queria voltar para a escola de ballet, então Natalie se ofereceu para a dar aulas de contemporâneo até que se sentisse confortável em ter aulas na Academia novamente.
A fisioterapia não estava fazendo o efeito que todos nós esperávamos. Compartilhávamos da certeza de que Nina logo estaria de volta às pontas, mas depois desse tempo e das caretas dos médicos sempre que viam os exames, ela perdeu a esperança. Sem querer, estava fazendo de novo: se afastando. Falando menos, sorrindo menos e, na maioria das vezes, não a conseguia alcançar. Tinha medo de perder as sapatilhas como perdeu o pai. Eu tinha medo de perdê-la como perdi minha mãe. Era um impasse. Um doloroso e delicado impasse.
Pensei que, se fizesse algo diferente, talvez ela pudesse se sentir melhor. Cody e Tori foram dormir fora e, como é sábado, Margot não está aqui. Pensei que passaríamos o dia juntos, mas Nina quis treinar com Natalie. Talvez a fizesse sentir que ainda tem controle sobre algo. A melhor parte disso é que, por mais que Natalie ainda me odeie amargamente — e tenha todas as razões do mundo para isso —, já não culpa mais Nina pelos meus erros. Ela só ajuda Nina e não liga para o que as pessoas na escola dizem. Saiu do grupo de líderes de torcida, voltou a dançar de verdade para o seu canal no youtube e as vezes se senta conosco no almoço. É difícil fazer com que ela e Anna não pulem no pescoço uma da outra, considerando suas personalidades.... amargas. Nina acha engraçado como Max fica no meio dizendo à Anna que a Natalie é chata e como a Natalie revira os olhos e o dá um soco no ombro. Isso deve acontecer pelo menos três vezes na semana durante o último mês. A Natalie ter se aliado aos excluídos — eu era o rei do baile, então não era excluído se todo, mas nem lembrava disso na maior parte do tempo — fez nossos almoços mais divertidos. As vezes pensava que até o fim do ano letivo Anna e Natalie terminariam amigas, mas então lembrei que Natalie representava quase o que Anna mais odiava em um ser humano e que Natalie odiava o humor sarcástico de Anna. Nina ficava entre as duas, feliz por ser o meio termo entre os extremos. Ela gostava de Natalie e da sua amizade, mas sabia que jamais viveria em harmonia em um lugar onde Nat e Anna estivessem.Onde está? Eu cheguei.
- NinaRespondi sua mensagem avisando que estava na Torre e tinha uma surpresa. As velas espalhadas pela sala, a pizza que chegou há pouco tempo e o vinho que roubei da Toria — e que ela certamente dará falta e dirá que estou tentando embebedar a sua filha menor de idade. Eu até comprei lírios amarelos com todo o meu amor.
Eu vou tomar banho rápido e subo para te encontrar. Estou pingando de suor.
- Nina.E deve estar linda.
- Adam.Você nunca saberá, Collins.
- Nina.Em dez minutos, Davis aparece em pijamas confortáveis e invejáveis e com suas meias coloridas habituais. O cabelo úmido ondulado caem em seus ombros cobertos pelo tecido de seda verde como seus olhos e seu sorriso ilumina a sala mais que as velas seriam capazes, ainda que eu enchesse essa sala delas. Cobre seu rosto com as mãos pequenas tentando conter o sorriso bobo. Eu a avisei que era estupidamente romântico para que não precisasse disso, mas acho que ela não acreditou.
— Você se supera. — Murmura.
— Deu trabalho conseguir tantas velas a tempo da sua volta. E lírios e passar esse colchão pela porta sem que a sua mãe achasse completamente esquisito. — Sorrio.
— E você os subornou para que saíssem de casa?
— Não, eles foram por livre e espontânea vontade. E eu não teria dinheiro para subornar um casal de classe média alta sem nem ter um emprego. — Dou os ombros. — Eu posso ter um pouco da minha namorada ou a Natalie vai roubar você de mim como vingança?
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O Silêncio Entre Nós
RomanceHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...