Corridas

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Três anos antes

— Você não cansa de arriscar sua vida? — escuto meu irmão me perguntar assim que saio do carro enquanto todos estavam gritando e tirando fotos.

— Por que deveria? Você que devia estar correndo comigo. — digo a ele enquanto sentia um olhar de reprovação sobre mim.

— Por que você ainda faz isso? — ele grita uma última vez enquanto eu me afasto indo até os outros corredores.

— Eu me pergunto por que você não faz. — meu irmão me dá as costas e vai embora passando pelas pessoas que estavam em volta dos carros.

Atualmente

— Para de mexer nessa droga de carro e vai estudar. — escuto a voz daquele estraga prazeres.

— Cala boca, eu estou indo para a faculdade. — digo fechando o capô do meu carro e pegando um grande lençol que eu usava para cobri-lo.

— Onde você colocou a suspensão Off Road? — Dylan começou a puxar alguns panos que estava no chão e afastar algumas peças.

— Perto do quadriciclo, eu não vou chegar tarde, te vejo depois. — caminho até a porta, pego meu casaco e as chaves de minha moto.

— Cuidado com os captores, não dá bobeira em. — esse era o jeito dele de dizer "tchau".

Toda vez que subo em minha moto e vejo meu nome cravado em seu tanque de combustível, eu me lembro de quando meu pai montou essa moto... ele disse que seria minha quando eu tivesse mais idade, pena que ele não me viu andando nela. Sky, esse é o nome que ele me deu, ele nunca me disse ao certo o significado, mas acho que consigo imaginar o motivo.

Durante a manhã eu vou para a faculdade e estudo, estudo para um caralho, durante a noite eu meio que saio para correr. Nossa pequena cidade é conhecida por ter vários corredores "fora da lei" a polícia local tenta manter a ordem, mas obvio que eles falham miseravelmente.

Assim que estacionei minha moto eu recebi uma notificação, nem te conto que passo o dia todo esperando por isso. O estacionamento da faculdade é engraçado, nele existem várias motos e carros velhos ou acabados, mas todos nos sabemos quais são os verdadeiros carros deles.

~Soube que voltou a correr.
~Viu os policiais atrás de mim ontem?
~risos~
~Se liga, corrida hoje lá na Via 35 até 40.
~Qual o prêmio?
~Um Corvette.
~No horário de sempre?
~Sim.
~Te vejo lá, Max.
~Fechado Sky.

Maravilha, tava com saudades de ganhar um carro, se bem que to bem enferrujada, acho que vou correr no antigo autódromo hoje de tarde, três anos sem correr é tenso, mas enquanto isso preciso sobreviver a faculdade.

— Sky. Você fez o trabalho de 500 exercícios? — assim que entrei na sala de aula fui recebida por meus dois melhores amigos, Vincent e Marcus.

— Eram só 50, que drama. — me sentei perto deles pegando meu caderno, a aula já iria começar.

— Tá sabendo do prêmio de hoje? Um Corvette azul, que sonho em. — Marcus, diferente de mim e Vincent, é um humano e sua personalidade é carros ou quase isso.

— Sim, vou até aposentar minha BMW depois que conseguir ele. — Vincent completa, ele ainda tem esperanças... eu e ele somos, como posso dizer... fazemos parte dos 60% da população.

— Nem sonhando, eu vou ganhar aquele Corvette. — digo sorrindo entrando na brincadeira deles e eles ficam mais animados.

— Realmente, a gente vai deixar você ganhar já que aquele seu Mustang precisa ser aposentado. — eles rim da própria piada idiota.

— Eu montei aquele Mustang 65 e ele me garantiu todas as vitórias que eu tenho, vocês sabem disso. — eles ficam quietos assim que o professor entra em sala e chama a atenção de todos.

Sinceramente, estou com medo de correr hoje. Minhas asas ainda doem e eu mal consigo abri-las sem quase morrer de dor, aquela batida acabou comigo, a corrida de ontem foi coisa fácil, era curta e não valia tanto assim.

Max não o colocaria como prêmio se essa corrida não fosse importante, no mínimo vai ter uns 10 corredores dispostos a qualquer coisa só por aquele carro. Sinto que tem algo errado nessa corrida, não sei o motivo.

O primeiro que cruzar vence não importa como, com todos os carros da polícia atrás de nós, fica meio difícil ter regras, primeiro você vence, depois você se livra da polícia, se for pego a multa é enorme, caso você for maior de idade você é preso e paga a fiança com seu carro.

— Até mais tarde, preciso trocar o disco de freio do meu carro antes da grande corrida. — digo a eles assim que a última aula da manhã acabou.

— Nós também já vamos, soube que vai ter um carro novo, de fora da cidade. — escutei Marcus enquanto eles se afastaram.

— Sempre tem. — comentei a mim mesma ligando a moto.

Fui até uma das saídas da cidade, em direção a um conjunto de velhos galpões, abri o portão e acendi as luzes, bom saber que meu carro ainda estava ali, passei tanto tempo montando ele, estava na hora de experimentar esse motor de verdade, espero que ele ainda ligue... já faz um bom tempo.

Coloquei a chave e liguei o carro com o maior medo de perder mais um motor, mas dessa vez deu certo e finalmente eu poderia colocar ele para correr. Primeiro vou levá-lo para a oficina e dar os últimos retoques, e então estará pronto para correr.

— Olha só, esse era o seu projeto? — arrisco dizer que meu irmão ouviu o som do motor assim que cheguei na oficina, ele abriu o portão e eu entrei com o carro.

— Isso mesmo, deixa eu adivinhar, você esta com inveja. — saio do carro fechando a porta e assim como ele dando distância para analisando todo meu trabalho.

— Ta ele anda, mas será que corre? Pelo que me lembro você não é uma boa mecânica. — respiro fundo para não perder a cabeça, é claro que eu fico irritada com qualquer comentário dele.

— Você pode dar uma olhada? Tem um corrida hoje e o prêmio é um carro lindão. — passo por ele com uma certeza de que ele pelo menos iria abrir o capô.

— Eu não vou te ajudar a se matar. Pelo amor de Deus, da última vez você quase não saiu do hospital, aposto que você nem consegue voar ainda.

— A verdade é que você tem medo de voltar a correr, você acha mesmo que eu seria descuidada a ponto de destruir meu carro daquele jeito? Meu carro não capotou sozinho. — aquela pose, ele de braços cruzados me olhando de cima, o pai fazia isso quando estava bravo conosco, eu odeio isso.

— A verdade, é que você é impulsiva e ainda vai se matar correndo, você entende realmente o quanto tudo isso é perigoso? — já que ele não vai me ajudar, eu resolvo tudo sozinha.

Ele acha que ficar falando essas coisas vão mudar alguma coisa, ninguém acredita em mim, eu jamais capotaria meu carro. Respirei fundo e acelerei pela baia da praia até a antiga lanchonete que íamos com nosso pai quando mais novos, eu amava aquele lugar.

Ainda preciso fazer alguns reparos no carro, mas vou precisar voltar para o galpão, que merda.

In Your Veins (português BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora