Tiberias Calore VI, atual rei de Norta, o nomeiam de Chama do Norte. Estalo a língua. Que ridículo!
Não acredito que estou, praticamente, frente a frente com esse assassino genocida. O que antes era uma sensação de animação por, pelo menos, ter uma mudança na rotina monótona, agora se transforma no típico sentimento de repulsa que tenho por ele. Eu poderia vomitar em cima dele se pudesse, sem me incomodar com os olhares sobre mim.
Eu estaria realizando um sonho de infância.
Logo atrás, a rainha se aproxima enquanto cumprimenta a multidão de nobres com a cabeça. Diferente do rei, que usa roupas escuras onde o vermelho e o preto predominam, seu vestido azul-marinho e branco traz uma estranha leveza dentre os dois. Elara Merandus, uma murmuradora tão poderosa e mortal quanto às chamas dos ardentes. Noto que, lentamente, ela reverencia uma Casa em especial: sua família. Usam as mesmas cores, têm o mesmo cabelo enjoativamente louro e a mesma frieza nos olhares e nos movimentos meticulosamente ensaiados desde a infância, provavelmente.
Ao seu redor, estão os amigáveis e gentis sentinelas, com as suas roupas salpicadas de laranja e vermelho, com máscaras bizarras e os rifles enormes empunhados em suas mãos. As baionetas pontudas e afiadas brilham sob a luz do sol de verão, o que acho uma tremenda perda de tempo. Tiberias e Elara, juntos, poderiam dominar até Piedmont se pudessem. Não entendo por que eles precisam de um bando de sentinelas ao seu dispor para os protegerem sendo que podem fazer isso sozinhos sem esforço nenhum.
Reviro os olhos, tediosa. Deve ser só mais um chato pronunciamento real do rei que durará horas e horas. Me sinto cansada, e olha que o dia nem começou. Quando penso em sair daqui com o intuito de arrumar mais uma mesa para atender, alguém, desconhecido por mim até então, berra nos fundos dos camarotes, chamando a minha atenção e a do rei de imediato.
- Morte à Guarda Escarlate! - Para piorar - ou melhorar -, o grito é seguido por outros até a pseudoarena inteira ser preenchida com os protestos dos prateados. Protestos contra a Guarda Escarlate.
Me recordo dos boatos de Summerton, sobre a confusão feia que aconteceu naquele lugar ontem à noite. Prateados revoltados correndo para lá e para cá, desconfiando de tudo e todos. Pela primeira vez, vejo o medo neles. Um medo que facilmente pode ser convertido em um tipo genuíno de ódio fatal.
Eles podem ser vencidos pelos vermelhos, e temem isso mais do que tudo.
Odeio admitir, mas sinto que estou começando a ficar assustada com a manifestação animalesca das Grandes Casas ao meu redor. Em mais alguns segundos, este lugar vai virar um campo de batalha igual ao Grande Jardim. E eu estou bem na linha de tiro.
Para o meu alívio, Tiberias se pronuncia, sua voz sobressaltada. Isso foi o bastante para calar a multidão possessa.
- Já estamos cuidando da Guarda Escarlate e de todos os nossos inimigos! Mas não é disso que viemos tratar aqui. Hoje honramos a tradição, e nenhum diabo vermelho impedirá isso. Vamos realizar o rito da Prova Real para descobrir a filha mais talentosa que se casará com o filho mais nobre. Assim, encontramos força para unir as Grandes Casas e aumentamos nosso poder para garantir o domínio prateado até o fim dos dias, derrotando nossos inimigos dentro e fora das fronteiras. - Ele termina o seu discursinho comovente. Se eu me importasse, até choraria de emoção com as suas belas palavras.
Se Tiberias realmente soubesse o que é dominar...
Como a tradição manda, a multidão grita o seu típico credo.
- Força! Poder!
- É novamente tempo de defender esses ideais, e ambos os meus filhos honram nosso soleníssimo costume. - O rei faz um gesto com a mão.
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A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]
Fiksi PenggemarE se a vermelha que caísse na arena da Prova Real não fosse Mare Barrow, mas sim uma outra sanguenova tão forte e poderosa quanto? Uma garota com poderes de ardente que é capaz de criar as suas próprias chamas? Essa é a história de Ravenna Sylvester...