A primeira vez a gente nunca esquece. Ah! A primeira vez. Como se esquecer da mistura de sentimentos, o frio na barriga, o suor escorrendo na nuca, as mãos tremulas, a respiração ofegante, o olhar e a expectativa de que aquele momento dure para o resto de sua vida. O olhar é a melhor parte, porque através dele da para ver a sanidade se perdendo em meio a tanta loucura, da para enxergar as ultimas partículas de esperança esvaindo-se rumo ao prazer.
A minha primeira vez ocorreu no beco atrás da escola. Era uma sexta-feira,e o sol já dava lugar a lua,estava voltando para minha casa,quando encontrei Anna a garota mais bonita da minha classe.
Ela era daquele tipo de menina por quem os garotos iam para a aula toda manhã, só para admirar ela caminhando no corredor indo para a aula de história. Eu não era diferente desses garotos. Bom, não totalmente. Eu a achava maravilhosamente linda, e não só linda, mas também, tentadora. Quando ela passava por mim, com seus cabelos castanhos esvoaçando ao balanço de sua caminhada, meu coração disparava, minha boca salivava de desejo e a única coisa que queria fazer era possuí-la. Mas ela não sabia da minha existência.
Naquela sexta-feira depois uma longa caminhada, decidi que ela ia ser minha. E somente minha. Quando a encontrei, foi como se uma força sobrenatural tomasse conta de mim. Só me lembro de aborda-la na esquina com alguma pergunta boba e logo depois estávamos no beco. Nesse momento a noite já caíra por completo e as pessoas já não transitavam mais por ali. Começamos aquela dança de movimentos bruscos e suaves ao mesmo tempo, tendo como trilha sonora gemidos de dor e satisfação. A euforia tomava conta do lugar, meu corpo não desgrudava do dela, como se de alguma maneira estivesse possuindo sua alma, o desejo pulsava em minhas veias, o suor escorria pela nuca e sua respiração me fazia delirar. Então com seu ultimo suspiro deleitei-me de prazer ao ver seus olhos esvaziando se de toda a loucura que a cercava, tornando a eternamente enraizada em meu ser.
Não lembro como cheguei a minha casa, nem como terminou aquela noite exuberante. Só me lembro de acordar no sábado com muita dor muscular. Levantei para me lavar e tomar café. Quando ao passar pela sala vejo a foto de Anna no noticiário. Ela foi encontrada morta em um beco atrás da escola. Fora estrangulada e depois colocada na caçamba de lixo, suas vestes foram viradas do lado avesso e seus cabelos foram trançados de forma inocente, lembrando uma criança a caminho do parque.
Meu ser revigorou-se de tanta satisfação, lembrei-me do modo como seus olhos transpassavam medo e como sua vida foi abandonando seu corpo aos poucos até desaparecer completamente, deixando ali mais um ser cuja alma fora tirada a força.
Depois de Anna vieram mais onze. Todas elas tinham algo especial, algo que não sabia ao certo o que era, mas nada se comparava a Anna. Ela foi à primeira, a única que conseguiu me causar emoção, um sentimento que desconhecia algo que vinha de dentro, que exigiu todo o meu ser, todas as minhas forças.
As outras foram apenas tentativas vazias de reproduzir aquele sentimento enfurecedor e revigorante, que naquela sexta-feira fez meu coração pulsar vividamente.Algumas passaram bem perto de fazer meu coração bater daquela forma novamente,mas logo acabava,como se aquelas fendas no tempo fossem apenas ensaios para quando eu encontrasse minha Anna novamente.
Eu aprimorei meu Modus Operandi, eu o lapidei de acordo com meus delírios e minhas necessidades, e a cada uma delas que se juntam ao meu mapa do inferno, sinto que estou mais próximo do ápice, mas ainda não evolui o suficiente para encontra-la, não encontrei um caminho que me leve a ela, mas sei que estou perto, posso sentir isso. Posso sentir seu cheiro vagando por ai.Brincando comigo, como se fosse um jogo...Um jogo que ainda não sei como decifra-lo e nem faço ideia da próxima jogada ou quem esta dando as cartas.Mas sei que no final só sobrará um ganhador.E esse será eu.Serei recompensado por minha audácia e persistência.
Nada me fará desistir. Nada me impedirá de encontrar Anna.
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ONDE ESTÁ ANNA ?
Mystery / ThrillerA primeira vez a gente nunca esquece. Ah! A primeira vez. Como se esquecer da mistura de sentimentos, o frio na barriga, o suor escorrendo na nuca, as mãos tremulas, a respiração ofegante, o olhar e a expectativa de que aquele momento dure para o re...