Tela sem cor

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~Cap revisado~


As cortinas do atelier encontravam-se arregaçadas, permitindo que a luz iluminasse brevemente cada canto do ambiente. Dois homens seguravam cuidadosamente o quadro coberto por uma seda preta, Taehyung acompanhava a trajetória da obra por Hoseok. O pintor estava isolado dentro do quarto escuro enquanto a dupla de profissionais do museu levavam a tela para o avalista.

Hoseok havia terminado antes do previsto, tendo consequências por continuar a forçar sua visão após sofrer uma grave lesão com a exposição ao sol, mas estava satisfeito com o resultado. Valeu todo o seu esforço, sabia disso. Não conseguiu pregar os olhos durante a noite, contudo, suas olheiras não eram pelos mesmos motivos das noites solitárias e melancólicas.

O sentimento de quando iniciou a pintura havia aflorado-se depois do momento mágico que teve com Taehyung. Uma noite reveladora e energética, principalmente para Hoseok. Um banho frio foi tudo que ele achou precisar para apagar a labareda que consumiu-lhe por inteiro, no entanto, ao sair do banheiro, o peito ainda queimava. Um fogo que esquentou-o poucas vezes na vida, podendo contar nos dedos de uma única mão. Não havia dúvidas que o culpado era Taehyung, gerando um caos acidental, que partiu de uma involuntária amizade, e naturalmente sucumbiu para um sentimento provocador de diversos medos e, paralelamente, de imenso conforto. Hoseok soube onde extravasar todas essas emoções pulsantes, caminhando para o atelier, pegando no pincel e não largando-o mais.

Taehyung não sentiu-se desolado por ter sido abandonado, enrolando-se em uma coberta depois de sair do banho, encostando-se na porta do atelier para observar Hoseok. Não falou nada, e o pintor também não pareceu incomodar-se com sua presença. Sentindo-se envaidecido por ter o privilégio de assistir Hope trabalhando, Taehyung havia acomodado-se em uma cadeira, mas não aguentou acordado para ver o final da obra.

Maldosamente, o pintor escondeu o resultado, alegando ser uma surpresa para ele. O que restou-lhe foi obedecer, não retirando a seda em momento algum e guardando suas emoções para quando fosse ver a exposição.

Por agora, Hoseok repousava para recuperar-se do cansaço e dores nos olhos e cabeça, ansiando poder assistir ao leilão da obra que tanto o entusiasmou em fazer. O grande dia era amanhã, e não se importaria caso a tela não estimasse a meta, priorizando o significativo sentimento de satisfação e realização que ela lhe trouxe.

De olhos fechados com uma compressa fria por cima, sentiu a cama afundar-se ao lado.

— As cortinas já estão fechadas, a tela já está a caminho de Busan. — Taehyung informou, sentindo o peito apertar-se por ver o estado de Hoseok. — Certeza que está tudo bem?

— Sim, amanhã estarei novo. — Brincou. — E obrigado, Taehyung.

O loiro não soube ao certo do que o pintor estava o agradecendo, mas apenas sorriu e tocou na mão pousada sobre a barriga.

— Voltarei para casa, tenho que entrar em contato com meu cliente para saber se ele está disposto a comprar o quadro. E... — Deu uma breve pausa para molhar os lábios. — Se tudo der certo, quer tentar disputar comigo novamente?

Hoseok riu, apoiando-se pelos cotovelos, deixando que o pano molhado caísse em seu colo. Plenamente sabia que estava horroroso com as olheiras profundas, olhos vermelhos e inchados, mas não sentiu vergonha e Taehyung aparentou não dar a mínima também.

— Se quiser, eu posso ganhar a disputa como da última vez e te dar o quadro de presente.

— Por favor, não faça isso. — Disse risonho, mas não duvidando da coragem do pintor de cometer o mesmo erro. — Espero te ver amanhã no museu, também irei preparar uma surpresinha pra você.

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