POV Luiza

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Depois de ter que correr com a Milena para o hospital, quando eu cheguei à casa dela de madrugada, eu estava cansada mentalmente e fisicamente.

Acordei por volta das 08:00hs da manhã com meu celular tocando. Era o Gustavo, atendi brava com ele. Na festa ele não deu nem um passo em minha direção, conversava comigo como qualquer garota da turma, estava distante e como se não faltasse mais nada, olhava para outras garotas e sorria. O sacana me deixou irritada e enciumada a festa inteira.

_ Fala Gustavo, a vadia não te satisfez e você esta ligando para que eu termine o serviço?

Já atendi o celular com quatro pedras na mão.

_ Lu, ontem quando o Otavio saiu da festa, aconteceu uma tragédia. Ele e a galera sofreram um acidente. Ele a Karen e o Carlos estão na santa casa. Mas Lu, o Michel e a Gabi morreram.

Ouvindo a noticia com a voz de choro do Gustavo, fez meu coração parar. Sentei no colchão que coloquei do lado da cama da Milena. Queria ficar perto caso ela precisasse. Lembrei do acidente que eu e Caio vimos na hora que levávamos a Milena para o pronto socorro. Era meus amigos meu Deus. As lagrimas começaram a rolar dos meus olhos.

_ Onde você esta?

Perguntei me levantando, e indo ate o banheiro.

_ Estou no cemitério da Ressurreição esperando a chegada dos corpos. Vão ser velados e enterrados aqui. Por favor, morzinho, vem para cá? Preciso de você.

Meus amigos estavam mortos, meus irmãos de coração, meus companheiros. As pessoas que eu mais amava depois da minha família. Eu precisava estar junto com o Gustavo. Precisava abraçá-lo. Graças a Deus ele não estava naquele carro.

_ estou indo.

Desliguei o telefone e entrei no banheiro, tomei o banho mais rápido da minha vida. Troquei de roupa e fui para a cozinha onde encontrei os pais da Milena.

_ Tia, o Otavio bateu o carro de madrugada, o Michel e a Gabi morreram. Por favor, me leve no cemitério da Ressurreição?

Falei na maior calma, ainda não tinha caído a ficha que eles morreram. Tia Dina veio até mim e me abraçou, tio Miguel ficou de pé nos olhando e com uma expressão distante. Fiquei abraçada com a tia Dina por um tempo. Eu precisava disso.

_ Tia, por favor. Me leva?

Falei me afastando dela.

_ Mas e a Milena? Não vai junto?

Ela perguntou franzindo a testa.

_Não tia, ela brigou com o Otávio ontem e depois que ele saiu ela bebeu muito. Levamos ela para o pronto socorro, por isso ela ainda esta dormindo. Tia, não tenho tempo para explicar agora. Só posso dizer que foi um grande mal entendido entre ela e o Otavio. Agora por favor, me leva? O Gu esta me esperando.

Tio Miguel pega as chaves do carro e faz sinal para irmos. Saio atrás dele, a tia Dina sai de seu transe e vem atrás. Fazemos o caminho em silêncio. Ainda não consigo acreditar que eles se foram. Tio Miguel coloca o carro no estacionamento, desço e espero eles. Não quero entrar sozinha e ainda não liguei para minha mãe. Depois que eu ver o Gu eu ligo.

Quando entro no pátio, vejo Aline, Gustavo, Bruno e Rodrigo em um canto. Todos estão com o rosto inchado de tanto chorar. Nesse momento minha ficha cai. Penso na Gabi, no jeitinho dela, a bebê da turma. Toda maluquinha, engraçadinha, amiga e companheira. O Michel? Meu Deus ele todo serio, mas com um coração do tamanho do mundo. Só percebo que estou chorando quando sinto os braços de Gustavo em volta de mim. Me aperto nele, nesse momento quero grudar nossos corpos, quero que passe essa dor esse vazio no meu peito. Poderia ser ele naquele carro, graças a Deus que ele não estava. Lembro da Aline e olho por cima do ombro do Gustavo e vejo-a sentada em um banco com o Bruno e Rodrigo sentados de cada lado dela. Esta com os cotovelos apoiados na perna e as mãos segurando a cabeça. Seus ombros tremem. Minha amiga esta sofrendo. Ela perdeu mais que nós. Perdeu seu irmão de sangue. Seu único irmão. Me solto do Gustavo e caminho até ela, me ajoelho em sua frente.

Te esqueci? Só que não.Onde histórias criam vida. Descubra agora