O Garoto do Condomínio | Pelo mundo com você

52_ Eu perdoo você.

Depois que George saiu da sala, Scott me olhou com o olhar mais decepcionado do mundo. Eu nunca o tinha visto tão desapontado comigo antes.

O mesmo não disse nada, apenas negou com a cabeça, coisa que me fez sentir ainda pior, e saiu da sala fechando a porta.

Eu passei as mãos pelo meus cabelos me odiando por dentro por ter feito a pior besteira da minha vida e num impulso soquei a parede com toda força que eu tinha.

A dor que eu senti em meu punho nem se comparava a que eu sentia dentro de mim.

- Eu posso quebrar o seus dedos por você. - A voz de Carla soou na sala e eu imediatamente a vi parada na porta com o Hugo atrás dela.

Vê-la só me fez piorar. Eu não conhecia a Carla, não sabia nada sobre ela, mas ainda assim consegui ser a pior pessoa que apareceu em seu caminho.

A cada movimento que ela fazia eu não parava de pensar: eu estava me sentindo um lixo pelo que fiz, imagina o que ela estava sentindo.

- Por que estão aqui? - Perguntei assim que consegui formular as palavras.

- Eu fiquei sabendo do que aconteceria com você e não poderia deixar você ir antes de te dizer uma coisa. - Carla falou calmamente, e aquilo foi totalmente inesperado pra mim.

Eu, honestamente, esperava que a Carla fosse fazer um escândalo ou me bater, ou algo assim. Mas ela estava calma. Calma como eu nunca tinha visto antes.

- O que? - Perguntei curioso e a mesma deu um passo a frente, passo que me fez recuar.

- Eu... perdoo você. - A voz de Carla penetrou nos meus ouvidos me causando uma sensação completamente desconhecida.

- Perai... o que? - Arqueei uma sobrancelha. Eu realmente achei que eu tivesse ouvido errado.

- É isso mesmo. Eu perdoo você Tyler. Perdoo você por ter sido uma péssima pessoa, por ser machista, por ter dedicado seus dias a me faser infeliz, por ter tentado abusar de mim. Eu perdoo você. - Carla estava incrivelmente calma e desarmada.

- Como pode me perdoar? Eu fui um monstro com você. - A encarei incrédula.

- Eu perdoo você porque eu não quero mais sofrer. Não quero guardar em mim um sentimento que vai me fazer mal a cada dia mais. Não quero guardar mágoa... a prejudicada no final será eu mesma. - Carla nunca me pareceu tão sincera. - Eu sinto pena de você Tyler. E espero de todo coração que um dia você entenda que não pode ter tudo que quer. Eu te perdoo porque quero paz, não porque você merece.

As palavras dela me atingiram em cheio. Saber que a Carla me perdoava só me fez afundar mais ainda.

Era como se eu não merecesse nem o ódio dela.

- Por que ta tão diferente? - Foi a única coisa que não consegui deixar de perguntar.

- Um idiota entrou na minha vida e me fez entender, a força, que eu só vou ser feliz de verdade quando vencer os meus traumas e manter-me limpa por dentro. Eu... sinceramente... não queria estar na sua consciência agora. - A mesma sorriu e virou suas costas para sair. Hugo que estava parado atrás dela de braços cruzados me encarou de forma totalmente rude e logo saiu atrás dela. - Ah.. - Carla botou a cabeça pra dentro da sala novamente, só que dessa vez com um sorriso sarcástico. - Eu fiquei sabendo que os soldados de lá odeiam moleques imaturos e estupradores... boa sorte Tulio! - Ela riu e saiu da sala fechando a porta.

- Eu sou um idiota. - Falei para mim mesmo.

    • Carla •

Assim que saímos da sala onde Tyler estava, eu senti como se um fardo enorme tivesse saído de meus ombros.

Perdoa-lo não havia sido uma decisão fácil a se tomar, mas eu havia entendido que se eu guardasse mágoa, a prejudicada seria eu.

Tyler já estaria pagando pelos seus erros ( de uma forma muito injusta, devo admitir ), mas eu não merecia pagar por aquilo também.

Eu soube que havia sido a decisão certa quando um sorriso se formou naturalmente no meu rosto quando saímos de lá.

- Amor? - Hugo me chamou me fazendo olha-lo. - Eu não fazia ideia da mulher forte que eu tinha ao meu lado.

Sorri ao ouvi-lo e ia lhe responder quando fui interrompida por Brianna que tocou meu ombro.

- Eu posso falar com você? - Brianna me perguntou com seus olhos inchados. Era nítido que ela havia chorado.

Assenti e a mesma me puxou para um canto na delegacia.

- Olha Brianna eu... - Brianna me interrompeu.

- Eu só queria te pedir desculpas. - Me surpreendi. - A uns dias atrás Tyler foi na minha casa para falar comigo. Ele disse que o tio Scott havia trago umas pessoas do Brasil que eram parentes da esposa dele e disse que entre essas pessoas tinha uma garota que ele queria " pegar ". - Ela fez aspas com as mãos. - Eu não tinha entendido o porquê dele estar me contando aquilo, até ele dizer que queria que eu desse em cima do seu namorado. Por que se ele te traísse seria mais fácil pra ele.

A cada palavra que Brianna dizia eu me chocava mais.

- E você topou.

- Sim, e eu sinto muito por isso. Tyler é muito persoasivo quando quer. Você foi de fato a primeira e única garota que recusou algo pra ele. - Brianna me olhou no fundo dos olhos e em seguida vi uma lágrima descer pela sua bochecha que estava rosada devido ao choro. - Eu só queria pedir desculpas e dizer que admiro muito você. São poucas as garotas que passam por coisas assim mas permanecem fortes. Você tem alguém que te ama, tem sua família, tem sua consciência limpa... Você deve ser a inspiração de muita gente.

Acabei rindo da última frase dita por ela. Era difícil de imaginar alguém se inspirando em mim.

- Eu espero que possa me desculpar um dia. - Brianna sorriu fraco e eu assenti. Em seguida a mesma foi andando em direção a mãe de Tyler que chorava ao canto.

- Aquilo não é suficiente George. E se fosse com a sua filha? Você ia simplesmente mandar o cara pra uma escola militar? Isso não é suficiente para o que o Tyler fez. - Ouvi Scott e o olhei conversando com o pai da Brianna que eu havia acabado de descobrir ser um diplomata importante.

- Olha Scott, quando os demais soldados descobrirem o motivo por Tyler estar lá, aquilo vai se tornar muito pior do que a cadeia. Vai ter sorte se sair vivo de lá. - George disse ainda mexendo em seu celular.

- Acha que podem mata-lo?

- Eu não sei. Mas vai aprender a ser homem num instantinho. - Assim o mesmo finalizou e saiu da delegacia cercado por seguranças.

Permaneci parada os olhando até sentir uns braços me rodeando e em seguida um abraço de Hugo.

- Eu te admiro sabia? - Hugo sussurrou no meu ouvido. - Por isso vai ser a mãe dos meus filhos.

Arregalei os olhos e acabei rindo.

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Continua...