Prólogo

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Os prédios da rua central eram grandiosos e a grande maioria projetados por arquitetos de grande prestígio, mas de todos aqueles monstros de concreto, o mais antigo sem dúvidas era o do jornal da cidade, conhecido também como A Voz do Povo. Um nome bem comum, para um jornal comum de uma cidade comum.

Mas algo sussurrava na escuridão de que aquela cidade iria sair dos trilhos por um tempo, talvez fosse uma força maior, nunca saberemos. Desde a forma como a luz se projetava no asfalto até os berros que saía da boca de um bêbado, tudo gritava que logo toda aquela rua seria uma cena de um crime. Se alguém tivesse percebido aquilo, teria impedido todo o caos que foi o dia quatro de setembro.

A correria fora instalada nos corredores do prédio do jornal, as câmeras desativadas desde o início do pôr-do-sol não captavam a face de medo de Carlos Gosh que lutava para chegar logo no último andar, os que perseguiam iam atrás, determinados a colocarem suas mãos no pescoço flácido do velhote.

Quando chegou no elevador, Carlos conseguiu deixar para trás seus caçadores e subir, já se preparando caso eles chegassem lá antes que ele pelas escadas. Usando toda sua capacidade física, tentava desesperadamente abrir a porta que dava para seu escritório e falhando na missão. Atrás de si, vinham as criaturas prontas para empurrar o homem contra a porta.

Quando Carlos caiu no chão, percebeu que seu fim estava próximo, então veio a decisão na sua cabeça. Ele não poderia deixar aqueles brutamontes vencerem, não dessa vez. Viu na mesa de cima a escultura de mármore que havia ganhado num concurso e com toda força que restava naquele antigo corpo, se levantou e jogou na cabeça de um dos sujeitos, levando-o ao chão desacordado. Com o outro ele precisaria ser mais esperto, então correu na direção dele derrubando-o no chão e prendendo-o contra o chão com o peso de seu corpo, nocauteando seu rosto várias vezes até que ficasse igual seu parceiro do lado.

Assim que conseguiu, não perdeu tempo, estava destravando o cofre enquanto ouvia os murmúrios vindo dos corpos no chão, um aviso de que logo eles estariam de volta. O envelope pardo cheio de papéis valiosos estava em suas mãos, logo indo para outro cofre. E foi aí que viu vultos se levantando, e Carlos não via mais opções para sobreviver.

Nesse momento, acredito que até o tempo parou alguns segundos para que ele pudesse orar pela sua família, onde pedia a qualquer divindade que o estivesse ouvindo para que não permitisse que o destino deles se parecesse com aquilo.

Logo seu corpo já se encontrava no asfalto, sem vida e muito menos esperanças.

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