"Hoje vai chover" disse Gizelly ao observar pela janela do seu loft o céu de São Paulo com tons alaranjados. O tipo de paisagem que nem mesmo a pessoa mais pessimista concluiria que com aquela vista, iria chover. Mas na verdade com ou sem chuva, não faz a menor diferença para ela, o seu trabalho teria que ser feito do mesmo jeito.
E para a Gizelly, independente das adversidades, só existia a possibilidade de executar perfeitamente o seu trabalho. Ela só sai de casa para realizar o serviço após calcular cada segundo, cada ação, cada fala e cada passo. Ela sabia que o trabalho que estava prestes a fazer iria demorar apenas 50 minutos para voltar para a sua casa.
Fria, calculista, metódica e apaixonada por carros. A cada trabalho, um carro diferente que combinasse com o perfil de homem que seria a sua vítima. E o carro dessa vez foi um Mini Cooper conversível e logo após adentrar ao carro já foi preparando a playlist que ela havia feito especialmente para aquele trabalho do qual ela estava se preparando por semanas.
Gizelly estacionou o seu carro exatamente no local que havia combinado com a sua vítima, em uma das vagas que ficavam de frente para a Ruffus Lanchonete. Ela pontual, porém, o homem nem tanto.
"Boa noite" - Disse o homem após 12 minutos da hora marcada. Sem demorar muito, ela virou o rosto em direção a janela e olhou pela primeira vez para o homem que não a conhecia mas que ela sim, conhecia tudo dele.
" Olá, Boa noite!" - Respondeu Gizelly com um sorriso largo do qual não pertencia a ela, mas que fazia parte do seu trabalho ser simpática naquele momento.
"Você é a Gizelly né?"
"Sim, e você é o Victor, correto?"
"Isso mesmo! Me desculpe pelo o atraso! Será que eu conseguiria antes de comprar dar uma olhadinha no aparelho só pra ver se está tudo direitinho?" - Perguntou a vítima de Gizelly enquanto observava o interior do carro, procurando onde poderia estar o aparelho de celular do qual ela anunciou em um aplicativo de compra e venda.
"Claro que pode" - Disse Gizelly pegando o aparelho celular de dentro do porta mala mas antes que entregasse para o homem ela sugeriu: "Você não quer entrar e vê se está tudo direitinho aqui dentro? Para não ficar chamando a atenção"
"Quero sim, é melhor mesmo.. Esse bairro anda tão perigoso. Outro dia um colega meu foi assaltado na rua paralela a essa" - Disse o homem enquanto adentrava ao carro sem desconfiar que aquela mulher bonita, bem vestida e que aparentava ser de classe média boa estava prestes a destruir a sua vida."Toma... Veja se está tudo direitinho" - Entregou o celular fazendo questão de tocar a mão na do Victor. Era isso que ela precisava... Tocar em suas mãos, sentir sua energia e poder entrar na mente daquele homem, para que pudesse, enfim, manipulá-lo para que ele faça tudo que ela mandar.
"Ele realmente está ótimo! Sem nenhum arranhão " - Disse enquanto avaliava o aparelho até que sentiu as mãos de Gizelly tocarem em sua coxa e parou imediatamente de mexer no celular.
"Olhe para mim" - Disse gizelly em um tom firme e completamente diferente do qual ela estava usando anteriormente e continuou falando ao perceber que aquele homem já estava olhando em seus olhos: "Você vai deixar o dinheiro em cima do banco e vai voltar para a sua casa sem o celular. Depois que chegar em casa você vai arrumar todas as suas coisas, vai sair de casa e nunca mais voltará"
"O que? Tá louca? Eu não vou fazer isso" - Disse o homem desesperado por saber que precisava obedecer aquelas ordens, de qualquer maneira, mesmo não querendo."Você sabe muito bem que fazer exatamente isso. E tudo que eu mandar."
"Sim. Eu sinto. Mas não consigo entender. Por que você esta fazendo isso comigo?" - Perguntou aflito querendo sair daquele carro, mas não conseguia tirar os olhos da Gizelly desde o momento que ela mandou.
"Porque você não a merece. E nem mesmo a família que está construindo."
"Quem você pensa que é pra achar isso? Eu a amo! E ela é feliz comigo"
"Se você a amasse não estaria tendo um caso com mais dois homens. E é isso que você irá falar para ela quando ela o motivo de você estar saindo de casa"
" Por que você quer destruir a minha vida? "
" Eu não estou destruindo a sua vida, eu estou é salvando a vida da sua esposa"
Naquele momento o homem já estava chorando por saber que por mais que ele não quisesse contar toda a verdade, era o que ele teria que fazer."Pelo amor de Deus, não peça para eu fazer isso"
"Eu não estou pedindo. Estou mandando. Vá" - Finalizou Gizelly.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ser vilã é relativo
Short StoryUma mulher demonstra que destruir uma vida muitas das vezes significa salvar vidas. O mal não é algo tão definido e imutável. Tudo é relativo.