Aquela imagem mudou tudo.
- Meu filho... - Michael sussurra, apertando minha mão.
Com o coração disparado, me pego vendo algo que cresce dentro de mim que é minúsculo, parece do tamanho de um caroço de fruta, mas está lá e está vivo.
- É um feto muito saudável. - Daisy sorri, limpando o gel ao terminar o ultrassom. - Recomendo começar a preparação desde cedo, fazer acompanhamentos regulares e tudo mais que envolverá a sua gravidez.
Ele sorri pra mim mas eu não consigo sorrir de volta.
- Caso seja o que você quer, é claro...
Eu estava grávida de um criminoso e, acima de tudo, não queria ter um filho tão cedo.
- Claro que nós queremos, não é mesmo? - aquela pergunta de novo, eu não consigo respondê-la.
Concordando, sem palavras, fazemos o caminho até a mansão em um monólogo. Michael fala sem parar de como as coisas vão melhorar, que nos manterá seguros, mas será mesmo verdade? Desde que eu cheguei, somente coisas ruins aconteceram.
Não houve um dia sequer sem temer pelo pior, ele era uma pessoa com muitos inimigos e amigos ruins.
- Vou ligar pro Tommy, precisamos comemorar. - diz ele, afagando minha bochecha.
Horas depois, estou de banho tomado e roupas levemente elegantes. Estamos todos reunidos na sala de estar, os homens conversam e bebem de um lado e eu, Grace, Polly e Ada estamos de outro, sentadas afastadas de toda a felicidade barulhenta deles.
- Está tudo bem, querida? - Polly pergunta, tragando o cigarro.
Aqueles olhos ciganos misteriosos sabiam qual era a resposta, eu sei por que era nítido a sua sabedoria.
Embora queria respondê-la, abro e fecho a boca várias vezes, mas nenhuma palavra é dita.
- Acho que você deveria de seguir o seu coração, Liesel. - ela fala novamente, agora bebendo um gole de vinho. - Nós sabemos o que isso significa.
- Ele nunca vai me deixar ir, Polly.
Encontrei a voz novamente, eu sentia que ela poderia me ajudar a fugir pra longe de toda aquela bagunça.
- Nós podemos te ajudar.
Vejo a expressão de Grace, ela parece triste.
- Por que vocês me ajudariam a fugir do Michael? - franzo o cenho, olhando-o do outro lado da sala. - É óbvio que todos se dão muito bem, não faz sentido.
- Você precisa ter uma chance Liesel, precisa saber o que é viver de verdade. - Polly parece determinada, não há maldade alguma em suas palavras. - Só você tem o poder de mudar o rumo das coisas.
- Não escolha se curvar pra um machista, nunca. - Ada se pronuncia pela primeira vez, rolando os olhos. - Ele é meu primo, mas não é flor que se cheire, e além de tudo é um machista de carteirinha.
Polly a encara, carrancuda.
- Tia Polly, a senhora sabe que é verdade. - Ada dá de ombros com força, acendendo um cigarro também. - Ele fez Sierra fazer um aborto sem pensar duas vezes, e eles estavam juntos, agora quer ter um filho com a Liesel por pura obsessão, me poupe.
Ele fez Sierra abortar.
Sierra iria ter um bebê.
Ela nunca vai nos deixar em paz, não quando souber que eu terei um filho dele e é tudo que ele mais quer.
- Me ajudem por favor, eu preciso ir embora daqui. - suplico, me sentindo mais angustiada do que nunca.
- Venha pra minha casa amanhã, eu pedirei ao Tommy para que possamos passar uma tarde juntas. - Grace diz, os olhos azuis faiscando. - Nós vamos ajudar você.
Eu me deitei e não consegui dormir, sentindo-o roncar levemente ao meu lado.
Na manhã seguinte, tudo estava acertado, eu cheguei na casa de Grace logo após o almoço. Fomos até o jardim, fingindo que bebíamos chá ao pé de um carvalho.
- Eu sei que a gravidez não vai ser fácil Lisie. - diz ela, tomando minha mão. - Vamos te mandar para o interior e eles nunca descobrirão, agendei suas consultas periódicas com a minha obstetra em particular, ela irá te atender em casa.
Mordo os lábios.
- Você já teve filhos?
Grace sorri.
- Estou grávida do segundo nesse exato momento.
Levo a mão a boca, sorrindo também.
- Sairemos com Polly e Ada, deixaremos você em segurança e também haverá muito dinheiro em um cofre na casa, acredito que será o suficiente por muito tempo.
- Grace, não é preciso dinheiro, eu tenho minhas economias. - digo, ficando vermelha.
- Eu sei, mas ele vai te rastrear pelas movimentações, então só use o dinheiro vivo do cofre até que ele acabe.
Concordo, vendo Polly chegar.
- Está na hora.
Estamos nós quatro dentro do carro, Polly tem um pé pesado, acelerando tudo que pode. Havia uma peruca e roupas diferentes no porta-malas, eu as coloquei enquanto íamos até a estação de trem.
O carro parou um quarteirão antes dessa, com todas se entreolhando.
- Pegue o trem até o interior, vai ter alguém te esperando com um cartaz escrito Cassie na estação. A casa tem tudo que você precisa, só vai ter que comprar roupas novas e o que precisar de extra depois. - Polly diz, instruindo. - Não faça muitas amizades, fique anônima por um tempo, não queremos que Sierra te ache também.
Eu concordo, sentindo o coração disparar dentro do peito.
- E sempre que puder me mande como está o bebê. - sua mão me entrega um celular de forma desajeitada. - Eu sempre quis ter um neto.
Nós nos abraçamos e eu desço, disfarçada e rumando para uma nova vida.
Foi tudo como o planejado. A casa era isolada e a cidade pequena, não haviam muitas câmeras e a população parecia bastante tranquila. Era um lugar lindo.
Parada na janela, olho os vaga-lumes que voavam pelo jardim noturno, esperando que ele entenda por quê tive que ir.
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All For Her ✔️
RomanceVocê acredita em amor de outras vidas? Ela se pergunta isso depois de sofrer a maior das atrocidades, ele tenta fingir ser o que não é. A violência resolve tudo. Era isso que Michael Gray pensava até conhecer Liesel, ele nunca quisera ser o bom moço...