AMANDA
É isso o que acontece quando você tenta ser uma boa amiga: você se fode.
— Amanda, você poderia responder qual a segunda geração do Romantismo, já que é tão apaixonada pelo céu? — A professora perguntou, puxando minha alma dos devaneios que sobrevoavam minha mente. No quadro, emaranhadas características da primeira geração me permitiam perceber que, essa, alguém já havia respondido.
— O mal do século. — soltei um suspiro. Era minha geração favorita, de dor e sofrimento. De morte e melancolia. — A idealização da pessoa perfeita, tão perfeita que não poderia ser alcançada. O mal do século era, literalmente, morrer de amor. Morrer por não poder, jamais, alcançar o relacionamento que tanto desejava com a mulher que tanto admirava. É a fuga da realidade, um sofrimento constante. — Mal percebi, mas cada característica que eu citava, minha voz descia um tom... até que não sobrou muito além de um sopro.
A professora, que agora estava parada ao lado da minha classe, me olhava atentamente em cada sílaba. Depois, voltou-se para a classe e disse:
— Queria eu que cada aluno que passa a aula inteira no celular absorvesse o conteúdo tanto quanto a colega que passa a aula toda olhando para a rua. — E, então, ela olhou para mim novamente, e sorriu. — Muito bem! Amanda explicou, e interpretou, muito corretamente a segunda geração, garantindo meio ponto a mais na prova da semana que vem e, falando em prova, internacionalmente um dos nomes mais marcantes dessa fase foi Goethe, com Os Sofrimentos do Jovem Werther. Na aula que vem iremos estudar um pouco mais afundo os resultados do lançamento deste livro na época e também teremos o início de um debate sobre as obras de Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo. Quero todo mundo com o conteúdo na ponta da língua, ein? Nos vemos na Quarta-Feira!
Com um tapinha na minha classe, Liviane deu as costas e foi guardar seu material. Decidi que falaria com ela sobre meu desejo de ser Jornalista e como estava me preparando para o vestibular. Até porque, não teria companhia para passar o intervalo mesmo.
Esperei que cada aluno se retirasse da sala, incluindo Felipe - ao lado de Ana, com seu braço em torno do pescoço dela. Notando que eu ainda estava ali, a professora disse:
— Desculpa chamar sua atenção na aula hoje, aconteceu alguma coisa?
Dei de ombros.
— Sobre a aula? Não se preocupe, estou bem. Só queria falar com a senhora sobre o vestibular. — Me aproximei colocando as duas alças da mochila nos ombros. — Eu sei que pareço bem por fora das aulas, mas é só porque Literatura me faz querer viajar nas histórias e no contexto histórico delas. Claro, às vezes algumas coisas a mais passam pela minha cabeça, como hoje, mas queria ver contigo se tem alguma fórmula mágica para estudar todas essas escolas e vanguardas literárias sem confundir. Eu amo Romantismo, então pra mim é bem tranquilo, mas se chego perto de Arcadismo nem sei o que dizer. — Respirei, não gostava de falar com professores justamente porque morria de medo de incomodar.
Liviane sorriu.
— Eu sei que você entende bastante as aulas, a prova disso foi hoje. Sobre o vestibular, não existe fórmula mágica, mas posso te passar alguns conteúdos que tenho no meu computador e corrigir os exercícios que tu usa pra estudar.
Sorri verdadeiramente.
— Seria ótimo! Obrigada, prof.
— Qual o curso que você pretende escolher, Amanda? — Perguntou ao abrir seu notebook. Sentei na classe em frente a sua. — Jornalismo. Já pensei em Relações Públicas, mas Jornalismo é tão mais a ver comigo.
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Estrelas que nos guiam
Teen FictionSempre ouvimos falar que amizade vem antes de namoro, certo? Isso para Amanda sempre foi muito bem definido: nunca deixar os amigos por conta de um possível namoro, mas para Felipe - seu melhor amigo - as coisas não eram bem assim, sua crença nas pe...