Desde onde me recordo, eu acordava com raios de sol iluminando minha face, aqueles lindos e dourados raios de sol.
Levantava de minha cama com certa preguiça, mas nada que me impedisse de acordar com certa motivação, a motivação que eu nunca tive ao acordar. Você só quer dormir mais um pouco, ou talvez também muito mais, mas você tem que levantar daquela zona de conforto, com grandes almofadas de cores pastéis e volumosas cobertas de cor bege.
Ando até a minha humilde cozinha preparar meu café. Baseia-se em um pouco de yogurt com morangos fatiados.
Coloquei o yogurt em uma pequena vasilha de vidro transparente, cobrindo todo o recipiente com a cor do yogurt desnatado, branco. Essa é a cor em que a vida é baseada. Uma cor sem graça. Sem nenhum verde das folhas das árvores e nem azul cor dos oceanos.
Nessa vida você que coloca as cores. Se você não colocar nenhuma cor nesse simples yogurt desnatado, ele vai continuar branco e sem gosto.
Talvez você queira um rosa cor daquele doce que você tanto gosta, ou um laranja cor de laranja, mas tem hora que não dá, então nessa minha vida eu improviso.
Eu queria colocar mirtilos. Vi na internet uma blogueira que come yogurt com mirtilo, mas eu não tenho. Fingirei que esse morango vermelho nada mais é que um mirtilo azul escuro.Carregando meu potinho com yogurt, me dirijo até a maior mesa livre que tenho, com quatro cadeiras de madeira clara e almofadas cor vinho.
A mesa de jantar é o ambiente mais melancólico que alguém pode imaginar em uma casa. Era pra ser um ambiente alegre e divertido, com várias pessoas que você tanto ama, mas... e caso você vive sozinho? Não vejo nada de negativo nisso.
Prefiro ficar sozinha. Não que eu não aprecie comer ou conversar com pessoas que tanto amo na mesa, mas a solidão está a comer junto a mim na mesa. Ela não vai falar se eu faço barulho enquanto como, se eu estou com a boca suja, ou se é pra eu parar de falar com a boca cheia. Perto dela eu tenho intimidade de comer com o pé apoiado na outra cadeira.
Ela não vai ficar chamando a minha atenção.Não tenho nada a fazer hoje. Não tenho trabalho nem nada de importante. Quando estou livre a melhor coisa a se fazer é pintar um quadro ou apenas desenhar enquanto escuta uma música relaxante.
Me sentei na mesa de estudos do meu quarto, cheia de marca textos coloridos e canetas de ursos. Ao lado dessa mesa tem uma grande janela, com leves e esvoaçantes cortinas de coloração branca.
Não estou dizendo que branco é uma cor ruim. Pelo contrário, é a cor da paz. Mas pense, uma vida que só tem a cor branca é sem graça. Dependendo do momento, ela perde toda a emoção colorida que tinha.
Bom, voltando a pintura... o que eu poderia pintar?Da janela vi uma menina a brincar com cachorrinhos de rua.
De cara já vejo um anjo. Um anjo que apenas não tem asas para voar.
Mas se esse anjo for puro o suficiente, ele não vai ter mágoas pesadas e o grande espírito de vingança, conseguindo voar como uma leve pena no vento, sem as próprias asas.
Por isso toda criança é santa. Obviamente as que foram educadas corretamente ou até mesmo não, mas elas tem uma coisa que muita "gente grande" não tem. O perdão. Ela tem o poder de não guardar mágoa.
Voltando a menininha e o cachorrinho, ela não aparenta ser uma menina mimada que tem nojo e não toca em cachorrinho que não tiver pedigree.
Ela tem a piedade. Outro poder que as crianças tem.
Isso que eu resolvi pintar. Um lindo anjo, mas a diferença é que você consegue ver as asas. Atrás desse anjo, tem várias flores de coloração azul. Algumas de um azul mais escuro e outros de azul mais claro, quase brancas.Assim encerro o meu dia, com mais uma pintura colorida para colocar na parede da minha sala. Uma pintura de um anjo real, visto com meus próprios olhos, em meio a uma sociedade cruel e sem empatia.

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As Memórias Que Eu Sempre Quis
Tiểu Thuyết Chung"As lembranças que eu nunca tive são as que eu mais me recordo, pois são As Memórias Que Eu Sempre Quis."