A Garota da Faca

Capítulo Dezoito

Ele abriu a porta, e ele estava acabado. Ganhou fortes olheiras de um dia pro outro, estava com a boca vermelha demais, pálido, provavelmente com febre.
- Oi. - ele disse.
- O que houve com você?
- Karen, ele apareceu pra mim.
- Ele quem?
- Fábio.
- Como espírito né? Ele tá morto. - disse friamente.
- Karen, é culpa sua.
- Bruno, que culpa? - disse rindo.
- Você me fez falar dele, me fez lembrar, aí ele voltou a aparecer pra mim, a falar comigo. Eu tenho medo Karen. Eu olho no espelho e não me vejo. Aquela criança me encara, aponta pra mim e fala:
- Assassino. - completei.
- Exatamente.
- Você precisa se cuidar Bruno, precisa ir ao psico...
- Eu não sou louco. - ele falou, me interrompendo.
- Ver gente morta falando com você é super normal, né?
- Vai se fuder, Karen!
Agora eu fiquei irritada.
- Olha só Bruno, pra que você me chamou aqui, afinal? Pra me contar suas historinhas de depressivo? Caralho, assume as consequências do que você fez, do que você faz! Querendo ou não foi você que jogou uma criança em uma piscina funda, foi você que não pulou pra salva-la, e eu tenho que porra de culpa? Me diz! - Terminei com os punhos fechados, prontos pra qualquer coisa.
- EU NÃO MATEI ELE. - Bruno gritou.
- Não, a água da piscina que VOCÊ jogou ele que o matou.
Virei as costas e montei em minha moto, fiquei imaginando se minhas últimas palavras iriam conforta-lo. Se ele iria pensar "ela tem razão, foi a água que o matou.", porque do jeito que ele estava louco...
Só tive notícias de Bruno uma semana depois. Ele faltava as aulas, não era visto na rua, não atendia o celular, e a casa dele estava toda trancada.
Estava sentada com as meninas no refeitório da escola, concentrada no meu salgado enquanto elas discutiam algo sobre uma festa de gala que irá ter.
- Oi gatas. - João disse se sentando. Os dois amigos inseparáveis dele se sentaram também, o nome deles eram Yan e Roger, se não me engano. - Estão sabendo da novidade?
- Que novidade? - Marcela perguntou.
- Bruno morreu.