Forehead kiss

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Só sei que fiquei com saudades do meu casal supremo e escrevi isso. Não sei se vcs vão achar bom mas eu gostei, achei fofo e me deixou boiolinha kk.
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Divido o apartamento com um rapaz da minha idade há quatro meses.

Quase não nos encontrávamos pois quando ele estava chegando eu estava de saída ou dormindo e vice-versa. Normalmente passávamos mais tempo no mesmo ambiente aos domingos, quando ele não passava o dia fora, e, apesar de sermos muito diferentes, nos damos bem no geral. Ele é um cara legal e costumava puxar algum papo esporádico comigo. Nossos diálogos geralmente eram breves e superficiais, como por exemplo:

“Como foi a semana, Sasuke?”

“Exaustiva, e a sua?”

“Boazinha.”

“Vamos pedir comida?”

“Claro!”

“Você viu aquela notícia?”

“Sim, parece que a situação tá complicada, né?”

“Pois é.”

“Ah, tá a fim de ir na calourada do curso de Filosofia? Filotrepa o nome.”

“Pode ser, só me diz o dia que eu vejo se dá.” (Só pra constar, não fui a essa calourada.)

“Beleza... Vou pedir comida japonesa, ok?”

“Certo. Vou começar o trabalho da faculdade, me avisa quando chegar, por favor.”

E assim a gente mantinha a convivência, nossos horários não batiam para que conversássemos mais a fundo a fim de nos conhecermos melhor, ele tinha os amigos e assuntos dele e eu tinha os meus. Simples. E estava tudo bem assim. Até que o mundo entrou no alerta da pandemia e a população precisou ficar em quarentena.

Desde então ele vêm agindo de uma forma particularmente adorável comigo.

Primeiro preciso contar sobre como acabamos por dividir apartamento.

Não é nenhuma história mirabolante.

Eu vim pra cá para fazer faculdade. Sou de uma cidade bem pequena e sempre quis cursar Astrofísica na Universidade Federal da capital. Prestei o ENEM, consegui pontos suficientes, pus na Universidade que eu almejava e consegui a vaga. De início, vivia sozinho e contava com meu irmão mais velho e meu tio para pagarem o aluguel, água, luz, internet e tudo que eu precisasse, me preocupava apenas em estudar. Infelizmente chegou o dia em que Itachi foi demitido pois a empresa na qual ele trabalhava faliu. Itachi arranjou um emprego novo, entretanto o salário é bem menor que no anterior, meu irmão teve que cortar gastos e consequentemente não poderia mais arcar com sua parte nas minhas despesas mensais, e não seria possível para meu tio pagar tudo sozinho. Para não ter que trancar o curso, tive que procurar um emprego de meio período e uma pessoa com quem dividir as contas.

O emprego eu consegui rápido como balconista numa padaria, faltava o colega de apartamento. Saí espalhando o anúncio em todos os cantos do campus, na esperança de que algum universitário precisasse de um lugar perto para morar os próximos anos.

É aqui que Naruto Uzumaki entra, um calouro de Ciências Biológicas.

Ele é do sul do estado, de cidade pequena assim como eu. Quando Naruto veio até mim, não gostei muito dele; falava exageradamente alto, sorria demais, espontâneo, gostava de contato físico até com quem não conhecia direito, tive a impressão de que ele constantemente invadiria meu espaço pessoal. Pensei em rejeita-lo por esses motivos mas como não surgiu mais nenhum interessado, e eu precisava muito de alguém com quem dividir o lugar, o aceitei.

Foi um ótimo negócio, não me arrependi de tê-lo aceitado. Paga as contas direitinho e não se mete desnecessariamente na minha vida, só é um tanto bagunceiro mas dá para relevar. Saí duas vezes com ele e seus colegas para festas na Universidade e ele gosta mesmo de contato afetivo, ocasionalmente envolve o braço ao redor dos ombros dos amigos ou colegas e os beija no rosto. Eu, sendo criado com toda a restrição de “Homens não se abraçam nem se beijam no rosto.”, fiquei totalmente em choque na primeira vez em que Naruto fez isso comigo.

Enfim, depois de todo o contexto dado, chego ao ponto em que o mundo vive atualmente: a pandemia.

Nossas aulas presenciais foram substituídas por algumas aulas onlines por semana, e eu fui dispensado do trabalho por tempo indeterminado. Como precisamos ficar confinados em casa, nós dois estamos todo o tempo juntos agora. Comemos, jogamos video-game, assistimos séries e conversamos um bocado. Percebi o quão agradável é sua companhia e o quão interessante ele pode se mostrar numa conversa além do básico para uma boa convivência. Naruto é divertido, engraçado, inteligente e sabe falar sério quando necessário, tem gostos completamente diferentes dos meus e me convenceu a maratonar uma série que eu jamais assistiria em condições normais.

Enfim, com maior tempo livre, voltei com o hábito da soneca da tarde. Na verdade eu nunca larguei, só que cochilava na biblioteca da Universidade todos os dias por meia hora antes das aulas. Aqui em casa posso tirar a soneca por horas, então coloco algo pra rolar na Netflix e caio no sono enquanto Naruto está no seu quarto assistindo aula ou fazendo qualquer outra coisa pelo apartamento. Eu tiro esses cochilos no sofá e, quase sempre, esqueço o cobertor. Quando acordava a sala estava muito fria e eu todo encolhido abraçado à almofada.

Foi a partir disso que, quase duas semanas após o início da quarentena, passei a ser alvo do lado mais atencioso e afável de Naruto. Começou com eu adormecendo sem cobertor e acordando aquecido porque tinha um me cobrindo. Dias depois, em meio ao sono, senti um acalento no topo de minha cabeça. Entreabri os olhos e vi Naruto brincando com meu cabelo enquanto assistia One Day At A Time. Me pareceu algo tão natural, tão certo. E suponho que para Naruto também pareceu porque ele fazia tal gesto como se nem percebesse, totalmente distraído sorrindo baixo com a série e me fazendo cafuné. Eu gostei demais daquilo e fechei os olhos novamente.

Então, há poucos dias, Naruto fez algo a mais: acho que pensou que eu estava dormindo porquê depois de pôr o cobertor sobre mim, se inclinou e deixou um beijinho em minha testa.

Não era a primeira vez que Naruto me beijava e, como eu disse, ele faz isso com todo mundo como se fosse nada de mais. Mas desta vez eu senti diferença. Foi mais cuidadoso, gentil, cálido, íntimo. E ele continuou a fazer a mesma coisa no outro dia, e no outro, e no outro. Eu deveria ter ficado bravo com ele e o repreendido na primeira vez pois não é recomendável esse contato na situação atual.

Mas eu gosto.

Gosto muito.

Eu estou gostando tanto que três dias atrás, enquanto víamos filme, fingi adormecer mais cedo apenas porque não suportei esperar ficar com sono para que ele beijasse minha testa daquela forma. Minutos depois de eu “dormir”, Naruto pegou o próprio cobertor e me embrulhou adicionando o bônus de uma carícia em minha bochecha, arrastando o dedos de leve em minha pele.

Sinceramente, isso foi melhor ainda...

Me derreti por dentro e quase sorri, mas me segurei para não entregar a atuação.

Por dias seguidos Naruto vêm acariciando meu rosto quando pensa que estou dormindo. Ele me acostumou mal. Não consigo mais dormir direito até que sinta aquele roçar de lábios quentes na minha testa, os nós dos dedos correndo por minha bochecha da maneira mais embriagante possível.

Agora quero que ele me beije quando estou acordado também, em outros lugares além da testa, e não sei como dizer isso.

Não sei como dizer que desejo que ele beije na bochecha, no queixo, no cantinho da boca, nos lábios, no pescoço... Não sei como dizer que toda essa atenção está me deixando um tanto manhoso e talvez apaixonado.

Ainda que ligeiramente confuso por nunca antes ter pensado que sou algo que não hétero, e nunca me senti atraído por homem algum, me rendi a esses gestos de Naruto que estão me fazendo sentir um calor gostoso e uma vontade que não é heterossexual.

E já que não sei como dizer estas coisas a ele, estou disposto a arriscar algo que irá melhorar completamente ou arruinar catastroficamente a nossa quarentena.

Definitivamente estou ansioso para meu próximo cochilo da tarde.

When he thinks I'm asleepOnde histórias criam vida. Descubra agora