𝐼𝑛𝑓𝑖𝑛𝑖𝑡𝑜

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Netuno

Sinto que desde que o vi na beira daquela piscina, tudo mudou. Algo em mim mudou ao ponto de que tudo em que conseguia pensar era em Ari.

Ari, Ari, Ari.

Ari que guardava todo o universo dentro de si. Um universo que observava no seu olhar sem poder nunca me aproximar o suficiente para admirar todas constelações existentes ali.

Ari que por vezes era quente como o sol e o iluminava. Mesmo em seu particular silêncio.

Ari que às vezes era como Netuno. Gelado distante. E tudo que queria era alcançá-lo, mas estava à 4 bilhões de distância e tudo que podia fazer era se encolher com frio, se perguntando quando Ari voltaria a se tornar seu sol.

Quando Daniel apareceu com mãos no bolso da calça jeans gastas, pensou em um milhão de coisas para dizer a ele.

Queria gritar.
Queria chorar.

Mas principalmente queria perguntar o porquê.

Mas parte dele sabia a resposta. E não queria ouvi-la em voz alta pois temia o que aguardava do resto do mundo.

O pedido desculpas foi dito com voz baixa e trêmula e antes do fim, ele estava chorando.

Não foi algo fácil de ver e se perguntou se Ari se sentia tão desconfortável quando eu chorava. Provavelmente sim.

Daniel confessou que teve medo e por isso correu. Implorou perdão. Surpreendi a mim mesmo quando dispensei as desculpas.

Daniel teve medo. Como eu já tive e ainda tenho. Alguns enfrentam melhor o medo. Outros como Daniel apenas paralisam ou foge diante dele.

Quando ele partiu meus pais estavam na varanda. Conversando com os olhos como costumam fazer.

Como eu e Ari às vezes fazíamos. Podíamos ficar por horas perdido um nos olhos do outro sem dizer uma palavra e não podia me cansar disso.

Era diferente com Ari. Sempre era.

Em Chicago tentei conhecer pessoas novas e me permitir. Era isso que meus pais diziam que eu precisava fazer. Era o que gostava de pensar que Ari iria querer para mim.

Conhecer outras pessoas.

Mas não era o que eu queria para Ari. Não me orgulhava, mas senti medo todos os dia em que não recebia nenhuma carta e quando elas finalmente chegaram elas eram curtas. Como se Ari não quisesse dizer nada.

Mas o que podia esperar de Ari? Palavras de alguém que se comunicava por silêncio e atos.

Atos como livro de arte caro que mandou de presente ou se jogar na frente de um carro por você.

Ari que em momento era sol e no outro era tempestade.

Como no dia em que corriam nus no meio do deserto com coração querendo pular para fora do peito.

Ari, Ari, Ari.

No fim sempre acaba pensando nele. Até mesmo enquanto beijava outras pessoas.

Imaginava qual seria o gosto de Ari.

Provavelmente café e menta.

-- Dante.

- Sim?

- Você escutou alguma coisa que dissemos? - perguntou meu pai com testa enrugada em preocupação.

- Não, não ouvi. Desculpa.

- Tudo bem - ele apertou meu ombro e minha mãe se colocou do outro lado olhando para rua - Vocês dois....

Aristóteles e Dante descobrem o infinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora