Flor de Tangerina

Sangrando

4 meses atrás...

Em seus olhos se via a dor de uma promessa quebrada por aquele que um dia lhe jurou amor eterno, o peito sangrava diante da realidade do abandono, não conseguia acreditar ou entender os caminhos que a levaram até ali, tentava buscar em seu interior o motivo, o fio que ligava tudo, mas nada encontrava, pensava estar vivendo um pesadelo onde seu marido, o homem por quem dedicou tanto amor, carinho, parceria e lealdade simplesmente lhe traía da pior forma e com uma mulher a quem passou a ter tanta admiração, que acreditou está no começo de uma grande amizade, não conseguia suportar que essas duas pessoas foram capazes de fazer isso, mas sabia que não era um pesadelo, Renê tinha traído-a com Griselda e seu corpo e sua alma doíam como se facas estivessem sido brutalmente jogadas contra si.

- Rainha do Nilo? - Crodoaldo, o único que verdadeiramente estava ali por ela, com ela, o empregado sabia que algo estava errado, nunca vira sua soberana, como assim costumava dizer, em tamanho sofrimento e dor, sabia que seu choro era sincero. - Não chores, filha de Rá, lágrimas não combinam com olhos tão belos.

Tereza Cristina, pela primeira vez, se permitiu ser vista tão pequena e frágil perante seu funcionário, naquele momento tudo o que queria e precisava era do abraço, do apoio de alguém e Crodoaldo estava ali com toda sua preocupação e devoção, por que não se permitir ser humana? Por que não derrubar suas paredes? Estava tão cansada de ser a dama de ferro temida por muitos, odiada por alguns, queria ser apenas Tereza Cristina, uma mulher com todos seus defeitos, medos e receios.

- Crô. - O nome saiu em meio ao choro. - Por favor, me abraça. - Pediu como criança que pede colo. Crodoaldo naquele momento soube que algo muito grave tinha acontecido, pois jamais pensou que veria sua patroa pedindo para ser abraçada por ele ou qualquer outro funcionário daquela casa.

- Eu estou aqui, minha rainha. - Disse após apertá-la em seus braços e sentir as lágrimas molhando sua camisa. - Eu sempre estarei.

- Está doendo tanto, Crô. - Seu choro era carregado de mágoa, dor e uma solidão jamais sentida antes. - Nunca pensei que o Renê seria capaz de fazer isso comigo, eu confiava minha vida a ele.

- Perdoe minha invasão, minha senhora, mas o que o senhor Renê fez? - Perguntou o empregado enquanto fazia um suave carinho na mulher em seus braços em uma tentativa de acalmá-la.

- Ele me traiu. - Como era amargo dizer aquelas palavras. - Me traiu da forma mais baixa e suja que uma pessoa pode fazer. - Tereza Cristina saiu dos braços de Crô e levantou-se de forma tão rápida que o assustou. - Ele me traiu com ela. E sabe o que mais me machuca nisso tudo? Eu estava começando a considerá-la como amiga, fui traída duas vezes.

Crô ia começar a falar até que percebeu a porta sendo aberta e a figura de Renê aparecendo, ele sabia que deveria sair e que eles precisavam conversar, mas não a deixaria até que sua rainha solicitasse, ele ia defendê-la com unhas e dentes se necessário.

- Crodoaldo, poderia, por favor, nos dá licença? - Pediu Renê calmante, Tereza Cristina que ainda não tinha visto o marido sentiu todo seu corpo gelar. - Essa é uma conversa particular.

- Com todo respeito, senhor Renê. - Disse Crodoaldo caminhando para o lado de Tereza Cristina. - Saio desse quarto somente se soberana pedir. - Disse olhando fixamente para o homem à sua frente e segurando carinhosamente na mão da mulher ao seu lado, gesto esse que não passou despercebido por ela.

Tereza Cristina sorriu carinhosamente ao sentir tamanha proteção vinda de seu funcionário e isso lhe deu coragem para encarar essa conversa, numa atitude não esperada pelos dois homens naquele quarto, Tereza Cristina deu um leve beijo na bochecha de Crodoaldo, que reagiu arregalando seus olhos.

- Obrigada, querido, você pode sair, mas fique por perto.

Ele olhou de forma desconfiada para Renê que apenas encarava o chão com as mãos nos bolsos e depois olhou para ela e ao vê-la sorrir de forma tristonha entendeu naquele momento que sua presença não seria necessária, mas como solicitado, ele ficaria por perto para agir de preciso e assim saiu deixando o casal, ou ex casal, para conversar.

- Tereza Cristina, eu... - Começou Renê. - Eu nem sei por onde começar essa conversa. - Disse realmente perdido, confuso, com raiva de si mesmo e de toda situação. - Mas creio que devo começar lhe pedindo desculpas.

A mulher apenas observava e não se fez de forte, deixava as lágrimas escorrer por seu belo rosto, a dor era demais para suportar, poderia ter todos os defeitos do mundo, mas jamais fora infiel ao marido, sempre se dedicou à ele e seus filhos, era extravagante sim, sabia que muitas pessoas eram seus amigos por conveniência e outros por pura falsidade, o que não difere muito uma coisa da outra, mas todos os sentimentos que tinha por seu marido eram verdadeiros, era amor, devoção.

- Eu errei com você, muito.

- Confessar seus pecados não vai apagar o que aconteceu, Renê. - Pela primeira vez a mulher lhe dirigiu a palavra. - O que você fez, o que vocês fizeram, eu não consigo perdoar, você teve coragem de me trair dentro da minha própria casa e com alguém que eu estava considerando uma amiga, alguém por quem eu estava conquistando grande admiração. - Tereza Cristina tentava controlar o choro, mas a mágoa e a raiva em seu peito ardiam como chamas em um incêndio. - E você realmente acredita que vindo aqui com meia dúzia de palavras e um pedido de desculpas vai apagar tudo o que eu vi? Você realmente deve achar que sou uma idiota, uma perua desmiolada, uma qualquer.

- Jamais. - Disse Renê tentando se aproximar dela, mas parou ao vê-la se afastar. - Você é a mulher mais incrível que conheço.

- Então é assim que você trata as pessoas incríveis que conhece? - Riu de forma sarcástica. - Faça-me um único favor, Renê. - Respirou fundo, secou as lágrimas e com a voz mais fria que pôde, pediu. - Pegue suas coisas e saia dessa casa.

- Tereza Cristina, por favor... - Renê até tentou, mas foi cortado.

- Não! - Disse firme. - Se você realmente tiver um pingo de respeito por mim você vai pegar suas coisas e sair daqui. - Virou-se de costas, pois não consegui mais encará-lo, sabia que poderia não resistir, ela amava aquele homem com todo seu ser, mas precisava ser forte. - Você me traiu, você fez a sua escolha e agora terá que lidar com as consequências Quando eu voltar não quero mais encontrá-lo aqui.

E assim saiu do quarto deixando o homem sozinho para lidar com seus próprios demônios e todas as consequências que sua traição traria dali pra frente, conhecia a esposa bem demais para saber que não seria fácil reconquistar seu amor e confiança, sabia que tinha cometido um erro terrível, mas sabia que a amava e a queria de volta e teria que lutar muito para conseguir seu perdão, mas não desistiria, não tinha sentimentos por Griselda, reconhecia sim que ela é uma mulher incrível, mas não estava apaixonado por ela e ela muito menos por ele, fora um erro cometido pelos dois que acabou machucando as pessoas que eles realmente amavam, Renê e Tereza Cristina tinham brigado naquele dia e Griselda estava confusa com seus sentimentos após ter sido beijada por Guaracy e enquanto fazia um serviço na casa dos Velmont, em uma conversa com Renê e uma tempestade de sentimentos explodindo dentro dos dois, eles acabaram se beijando, beijo esse que foi interrompido pela chegada de Tereza Cristina, um laço rompido, um coração partido e um amor colocado a prova.

O que será que o futuro reservava para todas as pessoas envolvidas nessa história? Teria Renê e Griselda a chance de reconquistar o amor e confiança das pessoas que amavam? Seria possível um retorno? Tantas perguntas, poucas respostas, mas só o tempo poderá dizer, mas o que se sabe é que muitas coisas mudariam e uma nova Tereza Cristina surgiria disso tudo, uma mulher mais forte, com o amor próprio explodindo em seu ser, uma mulher mais compreensiva, ainda com seu jeito maluquinho de ser, mas mudada, uma mulher pronta pra recomeçar.