cap 43 pag 239

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Já que não sou bom com palavras quando tento expressar o meu eu interior, roubei algumas do sr. Darcy, de quem você gosta tanto. Escrevo sem nenhuma intenção de incomodá-la, ou de me humilhar, insistindo em desejos que, para a felicidade de ambos, tão cedo não serão esquecidos; e os esforços que a redação e a leitura desta carta devem ocasionar deveriam ter sido evitados, não fosse uma exigência do meu caráter que tudo seja escrito e lido. Você deve, portanto, perdoar a liberdade que tomo ao pedir sua atenção; seus sentimentos, bem o sei, haverão de ser contrariados, mas apelo aqui ao seu senso de justiça…
Sei que fiz um monte de coisas horríveis para você, e que não te mereço, de jeito nenhum. Mas estou pedindo — ou melhor, implorando —, por favor, para deixar de lado as coisas que fiz. Sei que não é pedir pouco, como sempre, e sinto muito por isso. Se pudesse voltar atrás, eu faria isso. Sei que você está com raiva e decepcionada com os meus atos, e isso me mata por dentro. Em vez de criar pretextos para o jeito que sou, vou contar a você ao meu respeito, contar sobre a pessoa que eu era, e que você nunca conheceu. Vou começar pelas merdas que lembro — tenho certeza de que tem muito mais, mas juro, a partir de hoje, não esconder mais nada de você. Quando tinha uns nove anos, roubei a bicicleta do meu vizinho e quebrei a roda, depois menti a respeito. Naquele mesmo ano, quebrei a janela da sala de estar com uma bola de beisebol e menti a respeito. Você já sabe da minha mãe e dos soldados. Meu pai foi embora um pouco depois, e fiquei feliz com isso.

Não tinha muitos amigos, porque era um babaca. Implicava com as crianças da minha turma, muito. Todos os dias, praticamente. Era um idiota com a minha mãe — aquele foi o último ano em que disse que a amava. A provocação e a grosseria com todo mundo continuaram até agora, então não sou capaz de relatar todos os casos, só sei que foram muitos. Com cerca de treze anos, eu e uns amigos invadimos uma farmácia na rua da minha casa e roubamos um monte de coisas. Não sei por que fiz isso, mas, quando um dos meus amigos foi pego, fiz ameaças para que assumisse a culpa, e ele assumiu. Fumei meu primeiro cigarro aos treze. Tinha um gosto horrível, e tossi por dez minutos. Nunca mais fumei de novo até começar a fumar maconha, mas já vou chegar nisso.

Aos catorze, perdi a virgindade com a irmã mais velha do meu amigo Mark. Ela era uma vagabunda e tinha dezessete anos na época. Foi uma experiência estranha, mas eu gostei. Ela dormiu com toda a nossa turma, não só comigo. Depois de experimentar o sexo pela primeira vez, não fiz de novo até os quinze anos, mas aí eu já não podia mais parar. Ficava com um monte de garotas em festas. Sempre mentia a idade, e as meninas eram fáceis. Nenhuma delas gostava de mim, e eu não dava a mínima para elas. Foi nesse ano que comecei a fumar maconha, e com frequência. Comecei a beber mais ou menos na mesma época — eu e meus amigos roubávamos bebida dos pais ou de qualquer lugar que conseguíssemos. Comecei a brigar muito também. Apanhei algumas vezes, mas na maior parte do tempo levava a melhor. Sempre tive muita raiva

— sempre —, e era bom machucar alguém. Procurava briga o tempo todo para me divertir. A pior foi com um garoto chamado Tucker, que era de uma família pobre. Ele usava roupas velhas, farrapos, e eu o torturava por isso. Fazia uma marca na camiseta dele com uma caneta só para provar quantas vezes usava a mesma sem lavar. É doentio, eu sei.

Enfim, um dia eu o vi na rua e dei um soco no ombro dele só para irritar. Tucker ficou com raiva e me chamou de idiota, então o espanquei. Ele quebrou o nariz, e a mãe dele não tinha
enchendo o saco do cara depois. Alguns meses mais tarde, a mãe dele morreu, e Tucker foi adotado, por sorte, por uma família rica. Um dia ele passou de carro por mim. Era o meu aniversário de dezesseis anos, e ele estava num carro novo. Fiquei com raiva e queria encontrá-lo só para quebrar o nariz dele de novo, mas, agora que penso nisso, fico feliz por ele.
Vou pular o restante do meu décimo sexto ano, porque tudo o que fazia era beber, ficar doidão e brigar. Na verdade, isso vale para os dezessete também. Eu arranhava carros, quebrava janelas. Conheci James aos dezoito. Ele era legal porque não dava a mínima para nada, que nem eu. Bebíamos todos os dias, com o nosso grupo. Voltava para casa bêbado toda noite e vomitava no chão, e minha mãe tinha que limpar. Quase toda noite quebrava alguma coisa… Ninguém se metia com a nossa turma, que era uma espécie de gangue. Dá para entender por quê.

hardin para tessa, livro 2 *after: depois da verdade*Onde histórias criam vida. Descubra agora