Capítulo 6 - Srta. Berry.

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Eu não entendi bem a conversa que havia acabado de ter com a professora nova. Como ela sabia daquele livro velho da minha avó? Como não sabia que a minha mãe havia morrido? Já que disse que eram bem próximas. Confesso que o lance do livro me deixou um certo interesse realmente, mas da forma como ela dizia fazia parecer loucura ler qualquer capítulo escrito ali. Fui caminhando para dentro da escola. Avistei Live parada em frente a porta da nossa classe de literatura.

- Olá mocinha! - Disse ela com um sorriso irônico.

- Oi Live, você não vai acreditar quem eu vi assim que cheguei. - Falei em um tom sério.

- Luck disse que veio com você, como foi? - Perguntou.

Sei que deveria contar para ela sobre a minha breve e constrangedora discussão com Luck, mas não agora, não é o momento certo para falar sobre.

- Foi normal, apenas viemos juntos. - Falei, na esperança de que ela acreditasse.

Davi nos viu e então se aproximou para perto de nós.

- Olá meninas! Emi, você está melhor? - Perguntou ele.

- Estou sim, mas você não sabe quem eu encontrei assim que cheguei aqui na escola. - Falei.

- Pois bem, quem você encontrou? - Perguntou Live.

- Aquela professora substituta, Srta Berry. Ela me parou na entrada e me disse mil coisas estranhas. - Concluí.

- Ok, mas que tipo de coisas estranhas? - Continuou Live.

- Disse que era próxima da minha mãe e que precisava falar com ela, então avisei que minha mãe não está mais entre nós.

- E o que ela disse? - Perguntou Davi.

- Não diria que tenha ficado completamente surpresa, mas ficou arrasada sem dúvidas. Começou a me falar sobre um livro que a minha avó tem guardado a anos. - Falei.

- Um livro? - Perguntou Davi.

- Sim. Um livro velho, eu o encontrei ontem no quarto da minha avó. Talvez ela esteja me seguindo esse tempo todo.

- A sua avó está te seguindo? - Disse Davi confuso.

- A SRTA. BERRY, GÊNIO! - Gritou Live.

- Tudo bem, esse papo que ela teve com você realmente soou estranho, mas não acha que insinuar que ela esteja te seguindo feito psicopata seja um pouco de loucura? - Concluiu Davi.

- Como você explica o fato de ela saber a respeito do livro da minha avó? - Perguntei, com uma expressão não muito otimista.

- Bom, essa parte realmente não posso argumentar. - Ele fez uma breve pausa enquanto me encarava. - Vai ver a sua avó mostrou o livro a ela. - Concluiu.

- Se tivesse mostrado mesmo, ela não teria mentido para mim dizendo que não curte ler livros. - Falei.

Eles pararam para me olhar da cabeça aos pés, como se eu fosse uma maluca, porém uma maluca com razão.

- Faz sentido.. - Concordou Live.

Nós rimos e então entramos para a sala.

Nos sentamos nos mesmos lugares de sempre. Meu lugar preferido é ao lado da janela, onde posso observar um mundo que eu mesma crio em mente quase sempre. O clima na sala estava calmo, uma sensação boa me invadiu de repente. Estávamos na aula da professora Dase, ela é legal, mas, as vezes exagera com seus alunos. Havia algo estranho, de repente notei que Lucas não estava na classe.

- Vocês notaram algo diferente na sala hoje? - Me inclinei sob a mesa para comentar sobre, com Live e Davi.

- Do que está falando? - Live se virou para mim e perguntou, me encarando de uma forma questionadora.

- Estou falando do Peterson, ele não veio a aula hoje. - Concluí.

- Isso deveria te deixar aliviada, e não preocupada. - Disse Live.

- Não estou preocupada, apenas achei estranho isso. Ele nunca falta. - Direcionei minha atenção para a janela, enquanto pensava que talvez, somente talvez, eu estivesse imaginando que possa ter acontecido algo.

Não me importo com o Lucas, nunca me importei, mas admito para mim mesma que é extremamente estranho ele resolver faltar assim do nada. Diríamos que ele não seja alguém de excelente caráter na maioria das vezes, mas sem dúvidas é um ótimo aluno, quase exemplar.

Minha mente começou a girar um pouco, não me senti muito bem.

- Com licença professora! - Levantei minha mão e pedi para ir ao banheiro, pois estava meio enjoada.

- Você quer que eu vá junto, Emi? Está tudo bem? - Disse Live com sua mania de sempre se preocupar comigo.

- Está tudo bem, apenas preciso tomar um ar e ficar sozinha... Já volto. - Falei e sorri para ela, para que entendesse que não era nada demais.

Caminhei até a porta, saindo da sala vi de longe o Lucas. Ele estava parado em pé conversando com um cara, talvez fosse o pai dele. Fui caminhando e me aproximando aos poucos deles, sem chamar atenção para não ser notada. Sei que era meio errado ficar ouvindo a conversa deles, mas algo estava diferente e eu precisava saber o que. Infelizmente o meu plano de ficar invisível falhou, conforme fui caminhando acabei tropeçando em uma das latas de lixo enorme, o que fez o maior barulho ao cair e me levar junto ao chão.

- Emi, o que está fazendo? - Lucas se aproximou com um tom de voz que demonstrava estar irritado.

- Lucas! Nós não terminamos nossa conversa, em casa temos muito para discutir. Vá para a sua sala de aula agora. - O cara que estava com o Lucas, que provavelmente era o pai dele, se virou e foi embora.

- O que aconteceu com você? - Perguntei, enquanto estava no chão sob sacos de salgados e doces.

- Isso não é da sua conta. Vamos voltar para a classe! - Ele estendeu suas mãos para me ajudar a levantar, sua expressão havia se tornado uma que eu talvez nunca tivesse visto em seu rosto.

Segurei em suas mãos e então me levantei. Nós caminhamos lentamente até a sala de aula. Observei seu rosto, poderia jurar que ele estava com medo. Não sei do que poderia ter medo, mas sei que até mesmo as pessoas mais duronas, podem se sentir impotentes as vezes.

- Se quiser conversar, pode me contar do que está com medo. É o seu pai? - Falei, admirando-o atentamente.

- Cê pirou foi, Emilly? Do que está falando? Vê se não fala bosta vai, não aconteceu nada. - Ele respirava ofegante, sei que estava mentindo quando dizia que não havia nada.

- Olha, eu e você nunca nos demos bem, mas saiba que se precisar de ajuda eu estarei aqui! - Parei no meio do corredor da escola, já próximo a nossa sala.

Ele se calou por completo, não ousou dizer mais nada. Continuamos caminhando, enfim chegamos à classe. Ele bateu na porta e então demorou uns seis segundos até que a professora viesse abrir. Sempre soube que a relação do Lucas com o pai dele não era uma das melhores, mas o que de fato havia acontecido, que tenha deixado as coisas entre eles mais tensas do que o normal?

Assim que a porta se abriu, ele tomou a frente e entrou. Eu entrei logo em seguida. Ele se sentou ao lado dos amigos idiotas dele, e parece que o mesmo Lucas patético de sempre havia voltado. Caminhei até o outro canto da classe, onde estavam as minhas coisas.

- Parece que você encontrou o Lucas, não é? - Davi me encarou com um olhar de desaprovação.

- Não fui procurar ele, apenas trombei pelo caminho. - Falei e me sentei na cadeira.

Acho que Davi não caiu muito nessa, Live por outro lado, estava concentrada na aula. O sinal logo tocou, e dessa vez fui eu quem tive que chamar a atenção da Live.

- Já deu a hora, mocinha. - Falei e sorri.

- Mas já? - Disse ela desapontada.

Me levantei da cadeira e comecei a arrumar a minha bolsa. Olhando pela janela tomei um susto, a Srta. Berry estava parada ao lado de fora, perto das árvores. Estava em pé me olhando, como se fosse aquelas assassinas em série de filmes de suspense e terror.

O Outro Lado - O Segredo da Família GlarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora