As frias, gélidas e firmes paredes erguidas por mãos escravas sustentavam um castelo com mais de 100 quartos. Nem mesmo a chuva intensa que respingava pelas entradas das janelas seria capaz de ultrapassar os tijolos muito bem feitos e pagos. As pequenas pernas do menino de cabelos negros percorriam com pressa os corredores, seu braço estendido para perto da parede segurava com os dedos um pequeno barco feito de madeira, e, apesar de ser um ato estranho, ele gostava de sentir estar no controle das marés para que elas estivessem na parede. Seus olhos negros não combinavam nada com a coloração dourada dos fios, mas, nem sequer queria saber os motivos de suas cores, sensações e sintomas.
Noutro canto do Castelo, entretanto, era colocada a mesa. Nada mais que taças de vidro encrustadas em ferro maciço, com um líquido vermelho não identificado, a família Cortez presente era formada por algumas pessoas. Numa ponta da extensa mesa, estava o rei. Augustus Cortez II, com seus cabelos brancos muito bem penteados para trás, a pele pálida e os arredores dos olhos fundos e vermelhos. Seus dedos longos carregavam tantos anéis que nem mesmo se podia contar, suas vestes divinamente ajustadas ao corpo, a coroa sempre presente no topo da cabeça apesar de não ser realmente necessário. O formato oval de seu rosto carregava traços fortes e ao mesmo tempo delicados, ele tinha a boca vermelha, mas isso motivado pelo líquido ao qual ingeria de pouco em pouco, apreciando cada segundo de sua refeição.
Ao seu lado, estava Amélia Winterwall Cortez. A rainha. Seus traços mais angelicais escondiam malícia e muita inteligência. Diferente do que a maioria fora do Castelo imaginava, ela não estava na sombra do rei. A maior parte das decisões difíceis e cruéis eram tomadas pela mulher de unhas longas e muito bem feitas. Dispensava decotes, apesar dos seios fartos, e seus cabelos longos, negros e ondulados chamavam a atenção mesmo com sua idade de aparência lá pelos quarenta e cinco anos. A frente da rainha estava Mercedes Cortez, a jovem princesa de cabelos negros igualmente aos da mãe, seus olhos escuros de pupilas dilatadas observavam com ansiedade a taça a frente. As veias perto dos olhos saltavam famintas mas sua franja naturalmente grisalha tampava parte disso, não deixando tão visível a sua fome.
Finalmente, com seu pequeno barco de madeira, entrou na sala de jantar o pequeno Lucas Cortez, ainda não estava pronto e por esse mesmo motivo, onde se sentara a mesa foi colocado um prato para o príncipe. Neste, continha legumes, saladas e um pedaço generoso de carne.— vocês são detestáveis se acreditam que ele vai gostar de comer esta porcaria. — Finalmente, a voz rouca e baixa na outra ponta da mesa foi ouvida. Despojado - lê-se praticamente jogado na cadeira -, estava Michael Cortez. Suas pernas afastadas demonstravam pouca importância, tinha seus braços jogados sob os apoios da cadeira acolchoada, com o queixo apoiado sob uma das mãos, seus olhos fundos analisavam a família toda. Diferente de todos os presentes, os olhos não eram totalmente negros. Michael carregava um verde acastanhado em suas íris incomum a sua espécie. Alguns fios de seus cabelos úmidos caiam perto do rosto e sua camisa estava entre-aberta.
— não seja mal humorado na hora do jantar, Michael. — A rainha chamou a sua atenção, ouvindo a risada baixa do rei que até então permanecia em silêncio. Lucas olhava tudo curiosamente, e Mercedes estava mais preocupada com sua refeição que qualquer outra coisa. Algumas pessoas, mitologicamente, estranhariam uma família de vampiros que contém um humano entre si, sem querer devora-lo o tempo inteiro.
Na verdade, todos os filhos da família eram adotados, a menos Michael, o filho de sangue. Por estar na linhagem antes mesmo de seus pais se tornarem seres imortais, carregava uma obrigação. Ensinar, proteger e ajudar Lucas, o qual costumava nomear por Luke. E odiava essa tarefa. As vezes pensava maneiras de como arrancar a vida do pequeno sem que ninguém notasse suas intenções, mas, era impossível.
Mexia nos anéis em seus dedos tediosamente, antes de, num ato rápido e certeiro, ser derrubado da cadeira e pela garganta ser jogado contra uma das paredes. Era um ataque repentino, e não estava esperando por ele. É claro, apenas o mais forte dos fortes, o mais velho dos imortais seria capaz disso. O rei segurava tão forte em seu pescoço que as unhas eram capazes de perfurar a pele pálida, e os olhos se encaravam com intensidade. O silêncio pendeu. O peito de Michael subia e descia, enraivecido pela atitude do pai.— você é mal educado e mal agradecido. Diga-me, o que faço para que se comporte como um príncipe digno? — As palavras saiam com certo sarcasmo da boca do homem, e a rainha nem ao menos havia movido a cabeça para olhar. Segurava a taça, dando pequenos goles no sangue contido no recipiente. Os dedos do rapaz entretanto agarraram o pulso do pai, mostrando seus dentes sem nenhum medo de enfrenta-lo. Foi aí que Mercedes arregalou seus olhos, não acreditando que seu irmão havia decidido enfrentar a fera.
— você poderia tentar tirar essa mão de mim e enfiar ela no... — Mas antes que pudesse finalizar a sua frase, um grande estrondo foi ouvido. Não era nada parecido com os trovões costumeiros do céu, mas sim, uma explosão. A lateral da sala de jantar fora destruída por um rojão, jogando quem estava diante a mesa no chão. O pequeno Luke se escondeu por baixo de uma das cadeiras completamente assustado, contendo um corte no super-cilio. Todos os presentes olhavam sem acreditar no que havia acabado de acontecer, enquanto que, uma chama começava a subir pelo exterior do Castelo adentrando aquele cômodo.
Uma troca de olhares foi retribuída entre Michael e Augustus, eles assentiram separando-se. Numa velocidade sobre-humana, o filho mais velho jogou longe a cadeira e agarrou Lucas pela cintura, o jogando debaixo do braço e correndo para fora dali. Parado na floresta, ao lado de uma enorme árvore, colocara o pequeno garoto no chão e observara o castelo pegando fogo de longe. Ali, aguardou por sua família durante o resto da noite, vendo sua história queimar, sem saber que tudo estava a virar cinzas, inclusive seu parentesco. Uma rebelião dos religiosos foi capaz de destruir tudo que amava, por mais que odiasse. E ele estava disposto a descobrir quem foi.
Enquanto Luke crescia pouco a pouco, esperando que se fosse completado 18 luas para ser transformado, Michael se encarregava de descobrir tudo a fundo. Winter. Winter era o nome da família responsável pela morte dos seus pais e irmã. Ele faria de tudo para matar cada pessoa que carregasse esse sobrenome.
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Dark Paradise
VampirosNem mesmo neblinas seriam capazes de esconder e apagar as histórias envolvidas com a família real, um segredo carregado de imortalidade, sangue e mágoas. A maldade pura e sombria, arrastando-se por cima do amor.