O SEXTO DIA

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Era a vez do Monsenhor ajudar nas masturbações; apresentou-se. Se os discípulos deDuclos fossem meninos, o Monsenhor não seria talvez capaz de lhes resistir. Mas a fendazinhaabaixo do umbigo era a seus olhos uma pavorosa blasfêmia e se as próprias Graças otivessem rodeado, e avistasse essa imperfeição, nada mais seria necessário para o acalmar.E assim opôs uma resistência indomitável, e acredito até que seu pau ficou mole e asoperações continuaram. Nada podia ser mais claro do que o fato dos Senhores estaremextremamente ansiosos por acharem faltas nas oito meninas, de modo a permitirem-se, no diaseguinte, que era o sábado fatal da retribuição, dizia eu, a permitirem-se nessa altura o prazerde punir todas as oito. Já tinham seis na lista; a doce e bonita Zelmire fez a sétima: mereceriaela, em toda a boa fé, essa correção, ou seria simplesmente o fato do prazer de infligirem apenalidade proposta ter vencido na luta com a estrita equidade? Deixamos a questão adecisão da sábia consciência do Duque; nossa tarefa é simplesmente registrar eventos. Umadama muito razoável inflou as fileiras dos canalhas: foi a gentil Adelaide. Durcet, seu esposo,parecia ansioso por estabelecer um exemplo perdoando-lhe menos do que às outras, e sucedeque foi a ele próprio que ela desapontou. Levara-a a um certo lugar onde os serviços que foraforçada a prestar-lhe, depois de certas de suas funções, foram menos do que absolutamentelimpos ou saborosos; nem todo mundo é tão depravado quanto Curval, e embora Adelaidefosse sua filha, não tinha nenhum de seus gostos. Ela pode ter-se recusado. Ou pode ter feitopobremente. Ou, também, podia tratar-se apenas de uma brincadeira de Durcet. Fosse qualfosse a causa, foi inscrita na lista de castigos, perante a vasta satisfação de quase todos osinteressados.Em virtude do exame dos aposentos dos meninos nada ter revelado, os amigosmoveram-se para os prazeres arcanos da capela, prazeres tão mais picantes e extraordináriosporquanto até os que pediam permissão para ali ir e os gozar eram usualmente proibidos deentrar. Constance, dois fodedores subalternos e Michette, foram os únicos a assistir a festadessa manhã.Ao jantar, Zéphyr, de quem cada dia estavam mais orgulhosos, pelos encantos que cadavez mais o pareciam 'embelezar e pela libertinagem voluntária em que fazia grandesprogressos, Zéphyr, dizia eu, insultou Constance que, embora não mais criada, compareciasempre a refeição do meio dia. Chamou-lhe fabricante de bebes e deu-lhe vários socos nabarriga para a ensinar, disse, a pôr ovos com seu amante, depois beijou o Duque, acariciou-o,deu alguns puxões afetuosos em seu pau, e conseguiu incendiar com tanto êxito o cérebrodesse herói, que Blangis jurou que a tarde não passaria sem molhar Zéphyr com esperma; e opequeno safado pôs em dúvida a afirmação do Duque, desafiando-o a fazê-lo imediatamente.Como Zéphyr tinha de servir o café, saiu um pouco antes da sobremesa e voltou nu, com axícara do Duque. Mal se instalaram no salão, o Duque, muito animado, começou por dizer umaou duas piadas sujas; depois chupou a boca e o pau da criança, sentou o rapazinho numacadeira, sua bunda ao nível da sua boca, e, avidamente sugou o seu orifício durante quinzeminutos. Seu pau finalmente se rebelou, adornou sua cabeça erguida, e o Duque viu muitoclaramente que a homenagem, afinal de contas, exigia certo incenso. Contudo, seu contratoproibia tudo a exceção do expediente empregado na véspera; o Duque resolveu portantoemular seus associados. Mandou Zéphyr deitar-se no sofá, enfiou seu engenho entre as coxasdo menino, mas o que aconteceu a Curval aconteceu também ao Duque: seu dispositivosobrava uns quinze centímetros do outro lado."É melhor você fazer como eu fiz", aconselhou Curval," esfregue a criança contra seupau, molhe sua glande com a porra do garoto". Mas, o Duque, achou mais agradável empalardois ao mesmo tempo. Pediu a seu irmão que pusesse Augustine no lugar, suas nádegascomprimidas contra as coxas de Zéphyr e o Duque, fodendo por assim dizer, simultaneamente,um menino e uma menina, para dar um pouco mais de lubricidade a cena, esfregava o pau deZéphyr nas nádegas bonitas, redondas e claras de Augustine, e encharcou-as com o espermada criança que, como se pode facilmente imaginar, estava muitíssimo quente por taltratamento, e logo esguichou abundantemente.Curval, que achou muito convidativa a perspectiva geral, e que viu a bunda do Duque,bem aberta e clamando cheia de razão por um pau — como acontece a bunda de todospederastas nos momentos em que seu pau está levantado — Curval, dizia eu, preparou-separa pagar em espécie o que recebera na noite anterior, e o querido Duque, mal sentiu assacudidelas voluptuosas ocasionadas pela introdução, já sua porra batendo asas quase aomesmo tempo que a de Zéphyr, o deixava, encharcando as bordas inferiores do templo cujascolunas Zéphyr estava molhando. Mas, Curval, não descarregou, e retirando seu engenhoorgulhoso e fogoso da bunda do Duque, ameaçou o Bispo, que de modo semelhante seesfregava entre as coxas de Giton, ameaçando-o de sofrer mesmo destino que o Duqueacabava de experimentar. O Bispo lança um desafio, este é aceito, trava-se a batalha, o Bispoé enrabado e, entre as coxas da adorável criança que está acariciando, prosseguedeliciosamente até perder uma gota de porra libertina dele tão deliciosa mente arrancada.Contudo, um benevolente espectador de tudo aquilo, Durcet, não tendo ninguém além de Hébée a Duenha para atender a suas necessidades, e embora meio embriagado, não desperdiçavade modo algum suas oportunidades e estava tranqüilamente perpetrando infâmias cujomomento de descrição não chegou ainda. Mas a calma desceu finalmente no campo, os váriosguerreiros dormiram um pouco, e acordaram de novo as 6, hora a que a dotada língua deDuclos lançaria a fundação de novos prazeres.Os quartetos nessa noite exibiam certas mudanças sexuais: isto é dizer, todas asmeninas estavam vestidas de marinheiros, os rapazinhos de prostitutas, o efeito era adorável,nada apressa tanto a lascívia quanto uma pequena inversão voluptuosa; adorável ver nosrapazinhos aquilo que os fazem parecidos com as meninas, e estas muito mais interessantesquando tomam, a bem do prazer, o sexo que se gostaria que elas tivessem. Cada amigo e suaesposa, no divã, naquele dia; trocaram cumprimentos por causa desse arranjo muito religioso,e estando todos prontos a ouvir, Duclos recomeçou suas histórias lascivas."Havia, na casa de Madame Guérin, uma certa mulher de cerca de trinta anos, loira, umtanto forte, mas invulgarmente clara e saudável; seu nome era Aurore, tinha uma bocaencantadora, ótimos dentes e uma língua voluptuosa, mas — quem acreditaria em semelhantecoisa — por defeito de educação ou fraqueza de estômago, costumavam sair constantementedaquela boca quantidades prodigiosas de vento, e acima de tudo, depois de ter ingeridocopiosas refeições, era capaz, durante uma hora, de emitir uma corrente de arrotossuficientemente poderosos para movimentar um moinho de vento. Mas tem razão quem diz quenão há nenhum defeito que não seja um pouco apreciado por alguém, e nossa bela moça,graças a este, tinha um dos seguidores mais ardentes; era um esclarecido e grave professorde Escolasticismo na Sorbonne, o qual, cansado de perder seu tempo provando a existênciade Deus em sua escola, vinha as vezes a nosso bordel para se convencer a si próprio daexistência das criaturas de seu querido Deus. Mandava sempre avisar de sua chegada, eAurore alimentava-se então como se estivesse morrendo de -fome. Curiosa por ver aquelepiedoso colóquio, corro para o buraco de observação; meus amantes cumprimentam-se um aooutro, observo alguns carinhos preliminares, todos dirigidos a boca, depois, com extremadelicadeza, nosso reitor senta sua companheira numa cadeira, senta-se na frente desta e,tomando suas mãos, deposita suas relíquias entre as mesmas, vestígios tristes e velhos, noestado mais deplorável."Vamos", encoraja-a, vamos, minha adorada. Vamos; você conhece o meio pelo qualposso sair desta condição lânguida, peço que o adote imediatamente, porque me sinto muitoapressado em prosseguir". Com uma das mãos agita a amolecida ferramenta do doutor, coma outra puxa-lhe a cabeça para perto da 'sua, cola os lábios à sua boca e, sem demora,dispara, um atrás do outro, sessenta arrotos pela sua goela abaixo. Impossível representar oêxtase deste servo de Deus; estava nas nuvens, inspirava, engolia tudo que lhe ofereciam,podia mesmo pensar-se que a idéia de perder o menor soprozinho de ar o perturbaria imenso,e ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, suas mãos mexiam ao acaso os seios de minhacolega, e debaixo de suas saias, mas essas apalpadelas não eram mais que episódicas; oobjeto único e capital era aquela boca que o esmagava com suspiros e estrondos digestivos.Seu pau, aumentado finalmente pelas voluptuosas vibrações que a cerimônia lhe causava,descarregou na mão de minha companheira, e começou a fazer um discurso, no qual protestoununca ter gozado tanto em sua vida.Algum tempo depois disto, surgiu na casa um homem um tanto mais extraordinário, comum problema particular em mente, e bem merece ser mencionado neste catálogo demaravilhas naturais. Guérin mandara-me comer nesse dia, só faltou forçar-me a comer tãocopiosamente como pouco tempo antes eu vira Aurore fazer. Guérin teve o cuidado de mefazer servir tudo que sabia de que eu gostava, e, tendo-me informado, ao sairmos da mesa,de tudo que devia fazer com o velho libertino com quem tencionava unir-me, fêz-me engolir trêsgrãos de emético dissolvidos num copo de água quente. 0 velho pecador chegou, era um ratode bordel que eu já vira dúzias de vezes sem ter-me despertado a curiosidade de perguntar oque vinha procurar. Abraça-me, enfia uma língua suja e desagradável em minha boca, e a açãodo emérito que eu tinha bebido é complementada pelo seu hálito fedido. Vê que meu estomagoestá prestes a subir, está em êxtase. "Coragem, querida", exclama, "seja corajosa, não tenhamedo, não vou perder nem uma gota". Sabendo de antemão tudo o que quer de mim, sento-ono divã, coloco sua cabeça na borda; suas pernas estão abertas, desabotôo suas calças,retiro um instrumento frouxo e raquítico, que não dá sinais de endurecer, sacudo, aperto,esfrego e puxo, o homem abre sua boca; esfregando-lhe sempre seu pau, recebendo sempreo contato de suas mãos impudicas que percorrem minhas nádegas, a queima roupa lanço emsua boca o jantar imperfeitamente digerido que o vomitório arrancou a meu estômago. Nossohomem está fora de si, rola os olhos, arqueja, mastiga apressadamente o vômito, vai a meuslábios em busca de mais daquela ejaculação impura que o intoxica, não perde realmente umagota, e quando lhe parece que a operação está em risco de acabar, provoca uma repetição damesma inserindo habilmente sua língua pavorosa em minha boca, e seu pau, aquele pau quemal conseguia tocar por causa de meus vômitos convulsos, aquele pau, aquecido pelasinfâmias, fica rubro, levanta-se sozinho, e chora em meus dedos a prova insuspeita dasimpressões que aquelas atividades faltosas lhe causavam."Ah, pelo pau de Deus", disse Curval," trata-se realmente de uma paixão deliciosa, masnão obstante susceptível de ser melhorada"."E como"? perguntou Durcet, numa voz denotando sinais de lubricidade."Como"? Curval repetiu, "ora, escolhendo a comida e a companheira". "Companheira?Mas é claro. Você preferia Fanchon". "Mas é lógico". "E a comida"? Durcet continuou,enquanto Adelaide lhe esfregava o pau."Comida"? murmurou o Presidente," ora, acho que a obrigava a devolver-me, e damesma maneira, o que lhe tivesse introduzido". "Quer dizer", gaguejou o financista, começandoa perder todo o controle de si próprio, "você vomitava na boca dela, ela engolia e depoisdevolvia tudo a você"?"Precisamente".E cada um correndo para seu aposento, o Presidente com Fanchon, Augustine e Zélamir;Durcet, com Desgranges, Rosette e Invictus: os trabalhos foram interrompidos durante trintaminutos. Depois os dois devassos voltaram."Ah", disse o Duque com ar de repreensão a Curval, o primeiro a surgir, "vocês estiveramfazendo coisa feia"."Ah, um pouco disto, um pouco daquilo" respondeu o Presidente, "é a felicidade de minhavida, você sabe. Não tenho muita paciência com prazeres moderados ou limpos"."Mas espero que lhe tenham tirado algum esperma"?"Chega de besteira", disse o Presidente, "acha que todo mundo é como você derramandoesperma a torto e a direito cada seis minutos? Eu não, deixo esses efeitos e essaprodigalidade irresponsável a você e aos campeões vigorosos como Durcet", continuou, vendoc financista sair cambaleando de seu aposento. "Sim", disse Durcet, "sim, é verdade, éimpossível resistir à moça. Desgranges é tão imunda em palavras, atos e corpo, é tão hábil,tão adequada sob todos os aspectos...""Bem, Duclos", disse o Duque," continue com sua história, pois se não o calamos, oindiscreto camaradinha vai contar-nos tudo que fez, sem considerar uma única vez que arevelação dos favores recebidos por uma mulher bonita é uma pavorosa quebra das boasmaneiras".E Duclos voltou obedientemente à sua história.Em virtude, disse nossa cronista, dos cavalheiros gostarem tanto dessa espécie dedivertimento, lamento muito que não conseguissem dominar seu entusiasmo um minuto mais,porque os efeitos daquilo que ainda hoje revelarei, atingem, estou certa, esse objetivo demaneira muito mais precisa. Precisamente aquilo que o Senhor Presidente declarou faltar paraa perfeição da paixão que acabo de descrever, estava inteiramente presente na que se segue;que pena, repito, que não a tenha conseguido relatar a tempo. O exemplo do velho PresidenteSaclanges proporciona, sob todos os particulares, e palavra por palavra, toda a singularidadeque o Senhor de Curval parecia desejar. A título de companheira, Guérin escolheu a decana denosso capítulo: uma vigorosa e alta moça de cerca de sessenta e cinco anos, grande e crônicabêbeda, grosseira, com uma boca nojenta, verdadeira mulher de peixe, embora de modoalgum destituída de atração; o bom Presidente chega, jantam os dois, ambos ficam perdidosde bêbedos, os dois perdem a cabeça, um vomita na boca do outro, um engole a porcaria,depois o outro vomita na boca do primeiro, este agora engole e assim por diante, até quefinalmente desfalecem nos escombros da ceia, isto é, na porcaria que derramaram pelo quartointeiro. E depois, sou enviada a refrega, pois minha companheira de trabalho não tem mais umgrama de resistência, na realidade perdeu a consciência. Mas é esse, segundo o ponto devista do libertino, o momento crucial; encontro-o disposto, seu pau direito e duro como umavareta de ferro; agarro em seu instrumento,o Presidente gagueja, pragueja, puxa-me para perto, chupa minha boca, e descarregacomo um touro, ao mesmo tempo que se retorce e volta e continua a chafurdar na suaporcaria.A mesma moça, um pouco mais tarde, participou num drama que seguramente não foimuito menos suje; um monge de certa conseqüência, que lhe pagou muito liberalmente, pôs-sena frente da barriga de minha companheira, depois de ter aberto e imobilizado suas coxas,atando-as a pesadas peças de mobiliário. Foram trazidas diversas espécies de comida eservidas ao monge, o qual mandou colocar as iguarias na barriga descoberta da mulher. 0 felizcamarada pega então nos pedaços que vai correr, e mergulha-os um a um na boceta abertada Dulcinéia, e só os consome depois de terem sido completamente impregnados pelocondimento que a vagina segrega."Ha"! exclamou o Bispo, "uma maneira de jantar inteiramente nova"."E uma maneira que lhe não agradaria, meu Senhor"? disse Duelos. "Pela barriga deDeus, não"! respondeu o homem da Igreja, "não gosto de boceta a esse ponto".Muito bem, replicou nossa narradora, empreste um ouvido ao item com que vou encerraras narrações desta noite, estou persuadida de que o divertirá mais.Estava com Madame Guérin há oito anos — acabara de fazer dezessete anos — edurante esse período não passara um dia sem que eu visse um certo recebedor-mor chegar acasa todas as manhãs, e ser recebido com as manifestações mais calorosas. A gerênciatinha-o em conta muito elevada; homem de quase sessenta anos, rotundo, baixo, parecia oSenhor Durcet sob muitos aspectos. À semelhança do Senhor, tinha um ar de frescura ejuventude, e era também rechonchudo; exigia uma moça diferente cada dia, e as da casanunca eram usadas a não ser em emergências, ou quando alguém contratado lá fora faltavaao encontro. 0 Senhor Dupont, assim se chamava nosso homem, era exatamente tãodiscriminador cm sua escolha das moças, quanto era fastidioso em seus gostos, simplesmentenão permitia que uma puta satisfizesse suas necessidades, a não ser nos casos raro eextremos que mencionei; queria, pelo contrário, mulheres trabalhadoras, empregadas em lojas,especialmente modistas ou costureiras. Sua idade e colorido tinham também de satisfazer asespecificações: Precisavam de ter de quinze a dezoito anos, nem mais nem menos, e, maisimportante de tudo, sua bunda devia ser docemente moldada, uma bunda tão absolutamentelimpa que, a menor marca, um mero grão de qualquer coisa agarrado ao ânus, era motivo derejeição. Quando eram virgens, pagava duas vezes mais.Tinham-se feito planos e esperava-se realmente nesse dia a chegada de uma jovembordadeira, de dezesseis anos, cuja bunda era geralmente aclamada pelos conhecedorescomo um verdadeiro modelo daquilo que uma bunda deve ser; o Senhor Dupont não conhecia otesouro que lhe ia ser oferecido, e sucede que a moça mandou recado que nessa manhãparticular não podia sair da casa de seus pais, e que as coisas deveriam realizar-se sem ela.Guérin, sabendo que Dupont nunca me pusera os olhos em cima, ordenou que me vestisseimediatamente de caixeirinha, saísse, tomasse uma carruagem no final da rua, e descesse denovo a porta do bordel, tudo isso quinze minutos depois de Dupont ter entrado na casa; deviarepresentar meu papel com cuidado e fazer-me passar por aprendiz de costureira. Mas, aconsideração mais importante de todas era o chá de erva-doce: devia sem demora enchermeu estômago com um litro do mesmo, e devia beber imediatamente o grande copo de licorde bálsamo que ela me deu; logo saberão o efeito pretendido. Tudo correu muito bem;felizmente fomos avisadas com algumas horas de antecipação, e isso nos permitiu fazerrigorosos preparativos. Cheguei a casa com um ar meio idiota, fui apresentada ao financistaque direta-mente me escrutinizou de perto, mas como eu estava alerta à minha conduta, nadaconseguiu descobrir acerca de minha pessoa que pudesse contradizer a história que forainventada para ele."É virgem"? pergunta Dupont."Não naquele lugar", diz Guérin, apontando para minha barriga, "mas respondo pelo outrolado".E a mentira dela foi a mais descarada. Pouco importa; nosso homem acreditou, e isso foisuficiente."Levante as saias, vamos, depressa", diz Dupont.Guérin levanta minhas saias por trás, puxando-me para si e expondo assim inteiramente otemplo no qual o libertino fazia suas orações. Fixa o olhar, durante um momento apalpa minhasnádegas, abre-as com ambas as mãos, e evidentemente satisfeito, anuncia que a bunda éadequada a seus propósitos. Depois, faz-me diversas perguntas relativas a minha idade,profissão, e contente com minha falta inocência e o ar de nascida ontem que afeto, faz-meacompanhá-lo ao aposento, pois havia um que lhe era exclusivamente destinado na casa deMadame Guérin: não gostava de ser observado durante o trabalho, e estava certo de o nãoser nesse lugar. Depois de entrarmos os dois, cuidadosamente fecha e tranca a porta, olhamedurante um momento, e então, de maneira um tanto brutal — a brutalidade caracterizou-odurante toda a cena — perguntou-me se era verdade que nunca tinha levado na bunda. Comomeu papel exigia ignorância total do significado de tal expressão, fi-lo repeti-la, declarei quecontinuava sem entender, e quando através de gestos menos ambíguos me comunicou o quequeria dizer, respondi, com um ar simulado de modéstia e receio, que me consideraria umamoça muito infeliz se alguma vez me tivesse emprestado a semelhantes infâmias. Logo memandou tirar tinhas saias, mas apenas as saias, e depois de lhe ter obedecido, tapando minhafrente com a blusa, levantou-as acima de minhas nádegas até a altura de meu peito; masquando me despia, meu lenço escorregou, revelando meus seios. Ficou incensado."O diabo que carregue essas tetas", exclamou; "quem lhe mandou fazer isso? É isso quedetesto em vocês, todas têm o descaramento de mostrar essas miseráveis borbulhas".Apressando-me em cobrir meus seios, aproximei-me para lhe pedir perdão, mas aoobservar que ia mostrar minha boceta graças à posição que dia adotar, perdeu sua calma umasegunda vez: "Mas, meu Deus! Não pode ficar quieta"? gritou, agarrando-me pelos quadris efazendo-me voltar para não haver perigo de ver nem de relance outra coisa além de minhabunda," fique assim, sua desgraçada, importo-me tanto com sua boceta quanto com seu peito,comigo só precisa da bunda".Assim dizendo, pôs-se de pé e guiou-me até a borda da cama, na qual me instalou, demaneira a que a metade superior de meu corpo ficasse na cama, sentando-se num bancomuito baixinho, achou-se colocado entre minhas pernas bem abertas, e sua cabeça ao nível deminha bunda. Olha durante um momento, e depois, decidindo que não estou como devia,levanta-se, pega numa almofada, coloca-a sob minha barriga, arqueando assim um pouco maisminha bunda; volta a sentar-se, examina, e tudo faz com o sangue frio e a confiança dolibertino amadurecido e inveterado. Passa um momento, e depois agarra em minhas nádegas,afasta-as, assenta sua boca no buraco, cola seus lábios hermeticamente ao mesmo, e, deacordo com o sinal que me dá e em obediência à considerável pressão que acumulou dentrode mim, solto um estrondoso peido, possivelmente o mais explosivo que já recebeu em suavida inteira; vai pela sua goela abaixo e o nosso herói recua furioso."Que diabo" ! exclama," você tem coragem de peidar em minha boca"?E imediatamente volta a colar sua boca ao meu ânus."Sim, Senhor", digo ao soltar uma nova descarga, "é assim que faço com os cavalheirosque beijam minha bunda"."Muito bem então! peide, se precisa, sem vergonha, se não pode evitar, digo, peide omais que puder e com toda a força".A partir desse momento, afasto todo constrangimento, nada pode exprimir minha urgênciaou desejo de soltar os ventos tempestuosos produzidos pela poção que bebera mais cedo;nosso homem fica emocionado, recebe alguns na boca, outros nas narinas. Depois de quinzeminutos deste exercício, deita-se no sofá, puxa-me para si, seu nariz colado ainda entreminhas nádegas, ordena-me que o masturbe e ao mesmo tempo continue uma cerimônia quelhe cria prazeres tão requintados. Peido, esfrego-lhe o pau, manipulo um pequeno instrumentofrouxo e pouco mais comprido ou grosso que meus dedos, mas as custas de puxões, safanõese peidos, o instrumento, finalmente, endireita. O aumento do prazer de nosso cavalheiro, aaproximação do momento crítico é anunciada por uma nova iniqüidade: é agora sua língua queprovoca meus peidos, é sua língua que como um mangual dardeja bem fundo dentro de meuânus a fim de agitar os ventos, é contra sua língua que quer que assopre esses zéfiros, perdea cabeça, não está mais de posse de suas faculdades, é claro, e seu pequeno e debilitadoengenho tristemente borrifa sete ou oito gotas de esperma aguado e acastanhado em meusdedos; e então recupera suas faculdades. Mas como sua brutalidade nata fomentou suadistração, logo a substitui, e mal me dá tempo para me refazer. Pragueja, murmura e dizpalavrões, numa palavra oferece-me a horrenda imagem do vício que mitigou sua sede, e soutransformada no alvo de uma delicadeza inqualificável que, uma vez ofuscado seu brilho, tentaachar vingança no desprezo pelo objeto adorado que acabara de cativar seus sentidos."Aí está um homem que prefiro aos outros", disse o Bispo. "E você sabe se ele conseguiua pequenina ajudante de aprendiz de dezesseis anos no dia seguinte"?"Sim, Monsenhor, conseguiu realmente, e no outro dia uma virgem de quinze anos aindamais bonita. Como poucos homens costumavam pagar tanto, poucos eram tão bem servidos".Como essa paixão estimulou cabeças tão bem familiarizadas com essa espécie deperturbação, e tendo-lhes incutido no espírito um gosto que todos adoravam, os Senhores,simplesmente, não puderam esperar mais tempo para fazer uso do mesmo. Cada um delescolheu os frutos ventosos que se podia colher, não negligenciando outros semelhantes, chegouentão a hora da ceia, com seus prazeres que se misturavam com todas as infâmias cujadescrição tinham acabado de ouvir, o Duque embriagou Fanchon e fez com que a velha coisaestonteada lhe vomitasse dentro da boca, Durcet fez com que o harém inteiro peidasse, e nocurso da noite engoliu pelo menos sessenta bocas cheias de ar impuro. Quanto a Curval, nocérebro de quem bailavam alegremente todas as espécies de extravagâncias, declarou quetinha vontade de executar certas orgias solitárias e foi para o longínquo aposento,acompanhado de Fanchon, Marie, Desgranges e trinta garrafas de champagne. Mais tarde, osquatro tiveram de ser carregados de volta à sociedade, pois foram descobertos flutuandonuma verdadeira maré de seu próprio excremento, e o Presidente estava dormindo, sua bocacolada a de Desgranges, que ainda vomitava com grande dificuldade. Os outros três amigosdesempenharam-se não menos brilhantemente, realizando feitos idênticos ou diferentes;passaram também seus períodos de orgia bebendo, estontearam seus pequenos ministros epularam seus vômitos, fizeram com que as meninas peidassem, sinceramente não tenhoespaço para contar tudo o que fizeram, e se não fosse Duclos, que, friamente, manteve o seujuízo, e que quando este abandonou ou outro assumiu o governo das loucuras, preservou aordem, e pôs os foliões na cama, se não fosse Duclos, repito, é muito provável que a Alvoradacor-de-rosa, abrindo os portões do palácio de Apoio, os tivesse encontrado mergulhados aindaem seus excrementos, muito mais como suínos do que como heróis.Mais necessitados de repouso do que de outra coisa, todos dormiram sozinhos nessanoite, se enroscaram nos braços de Morfeu, recuperaram um pouco de resistência para oestrênuo dia que os esperava.

Os 120 Dias de Sodoma ou a Escola da LibertinagemOnde histórias criam vida. Descubra agora