Capítulo XI - Alucinações

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Com toda a tecnologia da nave foi possível sair do buraco negro em direção à Terra. mas nós… nós nem sabíamos se estávamos de fato vivos. Tudo parecia tão inacreditável para nós. Nada parecia ter mudado. Será que tínhamos viajado no tempo ou só sobrevivido? Se é que sobrevivemos. Talvez estivéssemos mortos.

De repente me lembro que em meio ao caos do buraco negro, alguma coisa passou diante dos meus olhos. Pensei ter visto Nautilus, a nave de Norabel Esperanza. Mas quando as pessoas ficam com muito medo, podem ver coisas que… Não conseguem explicar… depois. ainda em choque, uma coisa estalou dentro de mim:

𝙉´𝙥𝙤𝙬𝙣 𝙈𝙞𝙨𝙝 𝙈𝙖𝙣𝙠𝙨𝙚𝙠 𝙉𝙞𝙠𝙨𝙞𝙠𝙚𝙣

Essas palavras caíram na minha mente de repente, como uma bomba. Como se uma coisa muito forte tivesse acendido em mim. Eu impulsivamente corri para anotar em algum lugar tal frase de sentido desconhecido. Mikhail estava completamente fora de si, andava de um lado para o outro, tremendo e chorando de medo. Anotei a frase sem sentido numa folha. 
Mikhail não deixou de notar, mas não tinha forças para fazer questionaentos.
Rabisquei as palavras que me passaram como uma revelação pela cabeça com qualquer coisa que encontrei pela frente e mostrei eufórico e assustado para o russo, como se as palavras que estavam escritas no papel fizessem muito sentido para mim por um segundo.
Mikhail ainda estava sem reação.
Coitado, se antes ele estava confuso com toda a situação imagine só o que deve ter se passado pela cabeça do pobre coitado quando apontei para aquelas palavras no papel como se fossem a coisa mais importante da coisa da vida dele.

Tudo estava calmo finalmente, pelo menos nas aparências. nenhum de nós pode ver o que está dentro do coração humano.
mas o silêncio ainda pairava sob a cabine.
— O que quer dizer? — Mikhail pergunta com o pouco de fôlego que ainda lhe resta
—Hum?
— Essas palavras… o que raios elas significam???

Como eu poderia responder a uma pergunta para a qual eu não tinha a resposta?
Eu provavelmente ia destruir a minha reputação com Mikhail depois disso, pois eu simplesmente surtei com uma coisa que não fazia nenhum sentido. Será que no meio do meu surto eu troquei as palavras ou, talvez, eu já tenha escutado essa frase em algum lugar??
Mas o verdadeiro problema agora era esclarecer essa alucinação pra Mikhail.
— Vou ser honesto com você, Mikhail. Eu não faço ideia do que signifique.
— Eu vi uma coisa.
— Como assim? 
— Eu vi uma mão. Ela segurava um montante de areia, e segurava com toda a força para não deixar que nenhum grão caísse. E quanto mais essa mão segurava a areia, mais ela escapava por seus dedos. Depois, eu vi um barquinho de papel num rio, que tinha uma cachoeira. Ele não lutava contra a correnteza, apenas era levado por ela. demorou um pouco, mas ele caiu na cachoeira uma hora. E então essas palavras que você escreveu soaram de todas as direções.

O que será que significa?

Depois de ter passado o choque, a nave nos notificou de que estávamos inde em direção à terra. Levaria alguns meses para chegarmos se tivéssemos de fato voltado no tempo, já que o buraco de minhoca artificial não estaria mais lá porque ele ainda nem teria sido criado.
depois de algumas semanas pesquisando idiomas e tentando decifrar a frase misteriosa, não chegamos à lugar algum. Inicialmente pesquisamos no computador o que poderia ser, mas foi uma pesquisa inconclusiva. tentamos várias formas de decodificação que aprendemos vagamente em aulas que foram ministradas em menos de uma semana na prisão. Por sorte toda a informação necessária estava armazenada no computador. Se dependesse de qualquer coisa que tenhamos aprendido naquele lugar estaríamos perdidos.
 Nossos esforços foram em vão. Não conseguimos decifrar uma única palavra. O jeito era esperar que algum mestre decodificador aparecesse do nada e nos ajudasse.

Ficar dentro dessas paredes metálicas por tanto tempo é extremamente claustrofóbico e desconfortável. Eu estou surtando aqui dentro, até o Mikhail que tinha toda aquela postura autossuficiente agora está notávelmente melancólico. Qualquer um fica depois de passar tanto tempo isolado, literalmente, do mundo todo.

A única coisa que torna tudo mais suportável é o papo furado que eu e o Mikhail sempre temos. É impressionante como tudo em volta parece não importar quando conversamos sobre qualquer assunto. Tenho que confessar que ele é bom de conversa.
— Semana quatro, oficialmente.— Ele aponta no crônometro do computador, que fora iniciado automaticamente assim que saímos de Kronos I.
— Cada dia que passa é um alívio. — Disse enquanto me espreguiçava.
— O estoque de comida ainda dura um ano, se regularmos de acordo com as recomendações.
— Pois bem, então me sirva o café da manhã de acordo com as recomendações, garçom. 
— Olha como fala comigo seu plebeuzinho.
Demos algumas risadas e tomamos o café da “manhã”, que na verdade era o café de qualquer hora, já que não havia horário nenhum. mas a gente chamava de café da manhã porque era quando acordávamos.
— Sempre esse lixo de comida sintética. Eu realmente espero que a gente tenha viajado no tempo para encontrar comida que preste, eu não aguento mais essa gororoba com gosto de isopor. E a comida da prisão não fica muito atrás. Aliás, já faz um bom tempo que eu não como comida boa de verdade — Mikhail reclamava da comida ao mesmo tempo que comia. Entre uma colherada e outra da “gororoba com gosto de isopor” segundo ele mesmo, alguma crítica saía da boca dele. Era uma cena cômica de se ver. Eu apenas ria, o que fazia ele fazer mais comentários sobre como estávamos sendo feitos de palhaços, ratos de laboratório e coisas do tipo.

O computador tinha muito conteúdo de entretenimento. Grande parte do nosso tempo era gasto assistindo à coisas nele. Ah, a evolução humana é espantosa! Podemos guardar um mundo inteiro de informação num HD de uma máquina. Eu não sei o que seria de mim sem a arte que está contida nesse computador para me entreter.
Então, deixe que o tempo passe! Um dia vamos chegar e não vou negar que estou desesperado para sair daqui.

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