Aurora — música: 7 rings
"Prefiro mimar todas os meus amigos com a minha riqueza
Acho que terapia de compras é meu novo vício
Quem disse que o dinheiro não pode resolver seus problemas
Não deve ter dinheiro suficiente para resolvê—los"
Abri os olhos, sentindo o reflexo da ressaca assim que minha retina sensibilizou com a claridade que adentrava o quarto. Demorou um tempo até reconhecer que aquele era o meu amado quarto. Como havia chegado nele não faço a mínima ideia, porém não me importava.
Pisei no tapete quentinho e felpudo abaixo da minha cama, procurando forças para chegar à porta branca logo à minha frente e tomar meu merecido banho. Caminhei apalpando meus móveis até a porta que se encontrava encostada, tirei cada peça do meu pijama e entrei na banheira, esperando ela encher comigo dentro. Olhei ao redor e vi diversos produtos importados sob a pia, os diversos sais de banho indianos, a toalha de linho francês e o chuveiro tecnológico que me proporcionava ótimas baladas.
Nada me faltava, tinha mais coisas que uma pessoa normal conseguiria utilizar num só corpo, mas por que ainda me sentia vazia? Minha conta bancária esbanja zeros, todo ano trocava de carro, já viajei o mundo, bebi e comi das especiarias mais caras do mundo, diversas marcas famosas brigavam para ter suas joias e roupas em meu corpo, era cortejada por filhos de embaixadores e grandes magnatas, mas o que ainda faltava?
Quando meus olhos marejaram, afundei meu corpo por completo na banheira para espantar aquele tipo de pensamento. Tinha tudo que queria pois podia tê-lo, não era aquilo que a sociedade julgava ser felicidade? Era mais do que feliz, tinha tudo o que queria, até mais do que precisava.
Depois de devidamente vestida, desci as escadas gélidas de mármore e passei pela sala de visitas, chegando à sala de jantar e ao meu destino, a cozinha, onde a mulher mais adorável do mundo cantarolava uma música enquanto fazia suas mágicas no fogão. Aproximei-me silenciosamente a fim de assustá-la.
— Nem tente, mocinha, estou cozinhando — disse a Angel, deixando-me irritada.
— Como sabia que eu estava aqui? Tem olhos no pescoço? — Cruzei os braços. A mesma se virou, sorrindo.
— Só temos nós duas aqui, meu amor, não tem como seu perfume passar despercebido. — Não disse que é a mulher mais doce desse mundo todo? Fui até a mesma, dando-lhe um forte abraço. — Bom dia, querida.
— Bom dia, Angel. — Sentei-me à mesa, servindo-me do café — Que horas cheguei ontem?
— Meia noite.Mandei um motorista ir te buscar, você estuda hoje mocinha, inclusive, vai se atrasar. — Bufei, lembrando que já era segunda-feira.
— Aquele inferno... — Rolei os olhos e ela continuou a cozinhar algo. Os minutos passaram e o motorista entrou, anunciando que já estava na hora de ir para a aula. Peguei meu material que a Angel arrumou e meus óculos escuros.
No caminho, agradeci aos céus por ter a Angel na minha vida, assim não me sentia tão sozinha naquela casa enorme onde residiam eu, meus pais e Angel, ou melhor, eu e Angel, uma vez que meu pais, de 30 dias no mês, passavam três em casa. Meu pai, Jacob Lencastre, um renomado empresário e CEO de uma grande empresa de tecnologia que se tornou muito influente nos últimos anos, chegando a se tornar uma grande competidora. Ele era muito bom no que fazia, parecia que nascera para aquilo mas, por outro lado, manter toda a empresa nos trilhos custa um preço alto , tanto que quase não tinha tempo para a família. Minha mãe, por outro lado, era a maior agente de modelos, Samantha Lencastre, famosa internacionalmente, trabalhava com a marca Victoria Secrets. Por isso vivia viajando até mais que meu pai. Não sabia como ainda estavam juntos. Às vezes parecia que ela era mais mãe das modelos com quem trabalhava do que minha.
Meus pensamentos param ao ver o enorme prédio da melhor escola da cidade na minha frente, San Francisco Waldorf High School. Suspirei alto, dando início à última semana de aulas antes das férias. Caminhei pelo estacionamento até abrir a porta e encontrar aquele inferno de pessoas agitadas às oito da manhã. Cheguei no meu armário sem problemas, guardando meu uniforme da enfermaria e pegando meus livros.
— Vejo que alguém teve disposição para vir à aula! — Escutei a voz da única pessoa que me acompanhava todas as manhãs desde que me entendia por gente.
— Penny, não tem outra pessoa para perturbar não? — Bati a porta do armário, andando ao lado dela até a sala.
— Não, eu amo sua companhia e depois do porre que me fez tomar ontem na casa do meu crush te perturbar é o mínimo.
— Dormiu com ele pelo menos?
— Dormi com a cinta do meu pai depois de vomitar no carro dele, isso sim. — Entramos na sala rindo. Já tinha bastante gente em seus grupinhos. Confessava que não era uma das mais interessadas, mas com todo meu dinheiro tinha status, as pessoas que lamberiam meus pés se pedisse.
Sentei no mesmo canto de sempre com as meninas ao meu redor fofocando sobre o fim de semana. Estava distraída quando a porta se abre e as meninas cochichavam mais baixo. Isso só poderia ter um motivo, os jogadores. Parecia carma pois justamente os meninos mais gatos da escola estavam na minha sala e por isso convivia tempo suficiente para saber que eram um nojo. Revirei os olhos, vendo todos seguirem para o fundo da sala e rapidamente serem cercados pelas líderes de torcida. Nada melhor que a doce rotina.
Depois de álgebra II e abrir um sapo em biologia, finalmente estava sentada numa mesa da equipe de enfermeiros da escola fazendo meu merecido lanche quando os alto falantes da escola anunciaram que teríamos um aviso da rádio escolar.
— Caros alunos da San Francisco Waldorf High School, começamos esta segunda com a maravilhosa notícia que nesse próximo fim de semana teremos as finais do campeonato interescolar em nosso campo. Torcemos para que nossos colegas sob comando do nosso quarterback e capitão do time, Jeon Jungkook, o descendente coreano mais amado da América, consigam trazer mais um troféu para nossa escola.
A música encerrou a declaração da menina por trás do microfone e vi um certo alvoroço na mesa dos jogadores ao redor do tal capitão, um garoto misterioso aos olhos de todos.
— Ouvi dizer que eles podem de fato trazer o troféu para nossa escola e como estão indo para o terceiro ano, irão começar a disputar campeonatos maiores que irão ajudá-los a entrar na faculdade. — Uma das meninas comentou, fazendo-me revirar os olhos. Ficam o intervalo todo dizendo o quão gato e sexy aquele garoto era. Elas não deixavam de estar certas, mas não achava que ele tinha algo de especial além de um título idiota.
No fim das aulas, acabei indo almoçar sozinha. já que a Penny tinha que ir para a enfermaria. O refeitório estava tumultuado de pessoas felizes e animadas. Quem conseguia ser tão feliz logo na segunda-feira?
Senti pessoas vindo em minha direção e logo vi o indesejado grupo das líderes de torcida parar frente a minha mesa.
— Com todo o dinheiro que sua família tem e ainda almoça sozinha. — A voz estridente da vadiazinha líder ecoou pelo refeitório. Olhei ao redor e boa parte dos alunos tinha sua atenção voltada para minha mesa. Ela só queria atenção.
— Verdade, por acaso está interessada em sentar ao meu lado e conversar sobre a viagem que vai fazer para Milão no fim do ano? — Vi seu semblante fechar. — Ah, eu me esqueci — falei, atraindo atenção de todos no local — Esse ano meu pai não vai pagar sua passagem e hospedagem, 'né? Lastimável. Pelo menos não vai encher minha roupa de pena. — Levantei-me, levando a bandeira vazia.
— Está me chamando de galinha por acaso? — ela berrou pela distância
— Se a carapuça serviu, ou melhor, as penas. — saí do refeitório ouvindo risos e fui direto para o banheiro da enfermaria trocar de uniforme.
— Está com cara de quem deu um show no refeitório. — Penny entrou no banheiro enquanto estava vestindo um jaleco. — Fala, colocou a vadiazinha líder no lugar dela?
— Para alguém que odeia arrumar confusão, você é uma bela fofoqueira, 'né, Penny? Mas, sim, ela veio querendo atenção. Dei isso a ela.
— Não da maneira que ela queria, 'né? Por favor, me diz que chamou ela de vadiazinha ou sinônimos. — Apenas sorri de lado. Penny começou a me aplaudir.
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Chuva de Prata
FanfictionQuando a vida aplica a Lei de Murphy como princípio, "se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível". Mas o destino junta todas as tragédias escrevendo uma bela...