Capítulo um

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A vida nunca foi fácil para os detetives da cidade de Glasstown, os casos eram em sua maioria no lado problemático. Havia até mesmo rotina para casos que viessem daquele lugar, os oficiais ouviam o choro desesperado do familiar que acabara de perder alguém, anotavam tudo o que conseguiam ouvir, colocavam em uma pasta que supostamente deveria conter todas as informações do crime, por um tempo fingiam se importar com aquilo e quando ninguém mais estava prestando atenção, jogavam a pasta de documentos em uma gaveta empoeirada.

Nunca haviam casos no lado perfeito, e quando haviam eram coisas simples como qual oficial iria cortar a faixa vermelha da inauguração de um shopping novo. Mas depois do assassinato do dono do jornal, tudo o que aqueles homens da lei faziam antes iria servir para nada, porque não estamos falando de mais um menino que servia de aviãozinho morrendo no caminho para escola, Carlos Gosh era um homem público e todos se importavam muito com ele.

No caminho da delegacia, o detetive Fargon havia perdido a conta de quantas donas de família haviam perguntado se tinham alguma novidade do caso. Só faziam algumas horas que o corpo frio do homem tinha sido encontrado e todos já estavam comentando quando iriam prender os responsáveis por aquilo.

A multidão na porta aguardava ansiosamente pela chegada do responsável pela investigação, todos com sede de justiça nos olhos e jóias caras nos pulsos, se perguntando se Deus os havia abandonado para permitir tal tragédia acontecer. Pareciam até animais quando viram o detetive virar a esquina.

―Quem faria algo assim, Fargon? Ele era um homem tão bom, fazia bem à cidade―a loura com o rímel borrado falava aos prantos―Por favor, prometa que vai encontrar os monstros que fizeram isso.

Cinco segundos, esse foi o tempo que demorou para alguém fazer esse pedido, todos ali sabiam que ele não podia prometer aquilo e mesmo assim o faziam.

―Deixem-me entrar e verei o que posso fazer, enquanto isso aguardem em suas residências pelos comunicados oficiais―Fargon dizia enquanto abriam passagem.

Todos suspiraram ali enquanto se separavam em diferentes direções, restando apenas alguns insistentes que olhavam furtivamente pelo vidro da porta esperando que mensageiros reais dessem notícias diretamente para eles.

Enquanto pegava o elevador, o detetive sentia que nunca mais haveria paz por ali, um dos poucos serviços deles era manter a ordem num lado, não deixar que os sujos passassem para o outro e contaminassem tudo pela frente. E agora havia acontecido um crime na rua que dividia a metrópole, no prédio mais importante, aquilo ficaria marcado por muito tempo.

Todos estavam à beira da loucura quando as portas se abriram, correndo de um lado para outro, papéis voando para todos lados e até mesmo pessoas chorando pelos cantos. Aquilo nunca tinha acontecido em toda a história daquela delegacia.

Quando chegava em sua mesa, seu nome era ouvido de todos os lados, aflitos por respostas que ninguém naquele ponto poderia ter. Sabia que teria que ser a pessoa que daria um feixe de calma para todos aqueles para assim conseguir fazer pela primeira vez a droga do trabalho deles.

―Sei que todos querem encontrar a solução desse caso o mais rápido possível, mas lembrem-se do treinamento que tiveram―disse com toda seriedade que conseguiu encontrar no seu organismo naquele momento―Acredito que todos aqui conhecem Carlos e ele era um dos humanos mais incríveis que tínhamos, mas acima de tudo o assassino dele nesse momento deve estar tomando um belo café da manhã e nosso dever é achar ele.

Aquela era uma das frases mais bregas que poderia ter falado, mas por algum motivo havia surtido efeito e todos estavam se recompondo e agindo civilizadamente, o que dava certa esperança.

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