1.8 É só uma fase ruim

692 111 41
                                    

Lili

" Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens. Deixe uma mensagem após o sinal:

- Cole, eu não sei onde você está, nem com quem está. Mas eu preciso muito saber se você está bem. Não sei se está ignorando minhas ligações de propósito, mas estou extremamente preocupada com você meu amor. Por favor, volte pra casa, a sua família está te esperando. Eu te amo.

Infelizmente essa não era a voz que eu queria ouvir, mas acreditem ou não já escutei ela pelo menos umas 20 vezes só está noite. Já se passa das 2 da manhã e nada de Cole aparecer.

Ele saiu ontem e sumiu, simplesmente sumiu. Ele não estava com carro nem com a carteira. Apenas com o celular e algum cartão eu acho. Minha preocupação está a mil, onde sera que se meteu.

Sei que está chateado por eu não ter procurado sua mãe durante a minha gravidez, mas isso é inaceitável, Cole está sendo extremamente egoísta. Agora, ele não está pensando que tem uma filha que depende dele, e que ele não pode sair e sumir assim.

Por mais que eu esteja muito muito brava com ele, eu ainda temo por ter acontecido algo. Isso não pode acontecer, estamos passando por um momento difícil, e preciso de Cole ao meu lado.

Já perdi as contas de quantas vezes liguei pra ele está noite. Mas ele não me atende. Ao menos o celular dele está com bateria, eu deveria tentar rastrear ou sei lá.

De repente, o barulho da porta da frente se destrancando me faz acordar de meus pensamentos, e quase caio no chão ao me deparar com Cole a minha frente, com a camiseta branca totalmente suja.

- Cole! - Chamo seu nome, que olha pra mim. - Onde você estava? Eu.. eu fiquei tão preocupada, por um momento pensei que..

- Eu tô bem! Sério eu tô muito bem, uau eu estou extremamente bem. - Meu moreno responde, atropelando uma palavra na outra.

- Você bebeu?

- Não. Quê? Eu, beber? Imagina. Foram só alguns shots. Nossa como nosso apartamento parece grande desse ângulo, não?

- Por Deus. - Digo, suspirando. - Você não pode sair para beber toda vez que tivermos um problema.

- Ah não?

- Não. O correto é conversarmos para resolver.

- Ah por favor, Lili. Todo mundo sabe que não é assim que as coisas funcionam.

- É, sim.

- Não pra nós. Nós nunca tivemos isso de resolver, a gente só ignorava o fato de que o problema existia e seguiamos em frente.

- É assim que você se sentia em relação a nós?

- Sim. Porque é assim, você sabe disso tanto quanto eu.

- Não sei, não.

- E eu não ia ficar aqui, nessa droga de apartamento, não na situação em que você se encontrava.

- Como assim? Nós dois estávamos irritados.

- Eu sei eu sei, nem é isso. Tô falando do seu medo por mim.

- Quê?

- É isso mesmo. Eu vi a forma como você olhou pra mim, os seus olhos estavam arregalados e você estava com o cenho franzido. E quando eu tentei me aproximar, você se encolheu toda.

- Eu.. não sei o que dizer.

- Claro. Porque eu estou certo, e sabemos disso. Lili qualé, nos conhecemos tempo suficiente para saber o que o outro está sentindo.

- Cole, tenta ver pelo meu lado, você estava fora de si, completamente. Como queria que eu me sentisse?

- Não importa, eu jamais machucaria você. E você deveria saber disso.

- Me desculpa, tá legal? Foi só naquele momento, eu sei que você jamais me machucaria.

- Mesmo assim, Lili. Eu deveria te passar segurança, e em vez disso você teve medo de mim. Como acha que eu me sinto?

Com os olhos marejados, eu apenas abaixo a cabeça e deixo as lágrimas rolarem. Eu não tinha parado para pensar nisso, na verdade. Eu realmente senti medo por um segundo, porque eu conhecia aquele olhar.

Era o mesmo olhar que meu pai mostrou quando partiu pra cima da minha mãe. Ele bateu tanto nela que ela teve um nariz quebrado e uma fratura na cabeça.

Isso foi um trauma enorme na minha infância, que com muito esforço eu superei. Mas que voltou a doer muito depois do ocorrido desta noite.

Era o que eu deveria dizer para Cole agora, mas ele está bêbado demais para termos essa conversa.

- Eu vou dormir aqui na sala hoje. - Ele diz, de repente. - Amanhã eu vou cedo para a Muller, não quero acordar você.

- Tá bem. - Digo, secando as lágrimas salgadas de meu rosto. - Vou buscar um cobertor.

Enquanto eu ando até o corredor, sinto minhas pernas fracas. Não acredito que chegamos a esse ponto, sinceramente. Antes, o papel de sair e beber era meu, e não de Cole.

Enquanto ele estava preso e eu aqui, eu imaginava de todas as formas como seria quando ele voltasse, e todas elas eram boas. Eu imaginava a nossa vida perfeita, estabilidade financeira, uma vida sexual ativa e saudável, um relacionamento sem complicações.

Sei que é clichê demais, até mesmo para mim e para Cole. Só que poxa, já tivemos tantos obstáculos, que pensei que nada poderia nos derrubar novamente.

Mas parece que eu estava errada.

- Obrigado pelo cobertor, Lili. Boa noite. - Cole diz de uma forma fria, e eu sorrio fraco em resposta.

Essa noite será uma das quais eu não conseguirei pregar o olho. Essa distância entre eu e Cole machuca de uma forma indescritível, essa cama parece ser absurdamente grande sem ele, e tão fria sem o calor do seu corpo para aquece-la.

Talvez Melanie esteja certa. Talvez a vida de Cole seria muito mais fácil se ele não tivesse me conhecido. Ele estaria melhor agora, definitivamente.

Mas não podemos mudar o passado, e agora o que nos resta é viver o presente e colocar nossas esperanças no futuro.

Sei que amanhã será um novo dia, e essa é só uma fase ruim, e assim como todas as outras, ela vai passar também.

BBFY - 2 Nada será como antes. ↬ sᴘʀᴏᴜsᴇʜᴀʀᴛOnde histórias criam vida. Descubra agora