Lírio
Enfim chegou o dia do nosso retorno ao Brasil. O voo partiria à noite, mas eu ainda tinha esperança de conhecer alguns lugares, qualquer banca de esquina que fosse. Empolgar Octávio sobre a cultura local continuava sendo tão difícil.
Quando saí do banho Octávio estava sentado ao pé da cama escolhendo uma camisa limpa. Eu aproveitei aquela rara oportunidade de admirar seu peitoral musculoso, os bíceps, o pescoço grosso e forte.
Octávio escolheu uma camisa social e a estava abotoando quando me viu parado na porta do banheiro.
"Você não tira essa porcaria nem para tomar banho?" Ele apontou com o nariz para o meu pescoço.
Eu baixei a cabeça para ver do que ele estava falando. Já fazia tanto tempo que eu usava aquele colar de contas que já havia se tornado parte de mim.
"Este colar é uma herança de família, já te contei isso." Eu levantei a frente do colar diante da janela e admirei as pedrinhas azuis, que brilhavam meio prateadas contra a luz do sol.
"Colar é coisa de mulher, sabia? Não precisa vestir todo tipo de tralha que ganha dos seus antepassados."
Eu suspirei com tristeza. Até com o meu colar Octávio tinha implicância? Eu sempre o usava por baixo da roupa, quase ninguém o percebia.
Eu fui até a mala pegar uma camiseta e notei a minha maleta sobre o travesseiro. Estava aberta e com os papeis espalhados.
"Você mexeu nas minhas coisas?" Eu perguntei.
"Só estava procurando mais cigarros." Octávio franziu a testa, fazendo sua carinha fofa de cão sem dono. "Isso foi grosseiro da minha parte, não foi?"
Eu guardei os documentos de volta com o coração apertado de culpa. Não queria Octávio pensando que eu desconfiava dele.
"Não tem problema nenhum. Ei, quando eu terminar de me arrumar, o que acha de visitar Akihabara? É um dos bairros mais lindos de Tóquio, tem restaurantes ótimos por lá, também."
Octávio se levantou e beijou minha testa.
"Desculpa, amor, tenho que dar uma saída." Ele pegou sua própria maleta e o paletó no cabideiro da porta. "O cardápio do restaurante do hotel está ao lado do telefone. Peça o que quiser e deixe na minha conta."
Eu concordei com a cabeça, cada vez mais dolorido por dentro. Dinheiro para comida não era problema pra mim, mas pelo menos o Octávio estava sendo gentil.
"Não posso mesmo ir junto?"
"Prometo compensar hoje de noite." Ele deu uma piscadinha e abriu a porta. "Tchau, tchau."
Octávio foi embora e me deixou sozinho e confuso no nosso quarto.
Qual era a das saídas dele, e o que ele queria dizer com compensar de noite? Octávio mal encostava em mim, queria que eu me preservasse para depois do casamento, mas o que começou como uma decisão romântica acabou se tornando pura frustração.
Sem ânimo para me vestir, eu deitei de toalha na cama e peguei o cardápio. Não estava com fome, mas precisava me distrair, de preferência com um grande bolo de chocolate.
Meu celular tocou na mesinha. Pensando ser o Octávio eu atendi rápido, mas era apenas a minha irmã.
"Oi, Yasmin." Eu disse.
"Nossa, que voz de velório. O Octávio tá sendo muito insuportável?" Perguntou ela.
Eu olhei para o lado, no espaço da cama onde Octávio havia dormido.
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Nas Garras da Raposa
RomanceCom apenas vinte e dois anos Lírio já está perto de conquistar todas as suas metas de vida: ele tem um restaurante de sucesso, grandes fortunas e um lindo noivo com quem pretende construir a família perfeita. Durante uma viagem de negócios ao Japão...