Nós não escolhemos praticamente nada nessa vida. Já pensei em uma centena de momentos que me surgiram nesses tantos anos vagando pelas ruas, e sinceramente enxergo que nada que me aconteceu até hoje foi de uma decisão inteira e exclusiva minha – absolutamente nada. Até mesmo pensei que isso fosse um carma ou algo do tipo, mas algo inimaginável arrebentou minhas opções, ou a falta delas, de acreditar que eu faria uma escolha bem pensada por mim mesmo.
Eu fui aprovado no vestibular.
Você provavelmente pensou que essa seria uma história interessante sobre minha vida de adulto em crise existencial quando iniciou a leitura deste texto, mas na verdade tudo não passa de um draminha de colegial mesmo. Minto, universitário. Mês passado eu ingressei nessa onda massiva de adolescentes que cobrem o país com notas exemplares e aprovações minuciosas nas Universidades Sul-Coreanas. Eu obviamente deveria estar muito feliz, mas quem é feliz cursando Letras? Quer dizer, toda a minha família de docentes foi das Letras, e não que eu não fosse um amante de boas leituras, mas... Letras? Realmente, eu nunca pensei sobre o que faria de minha vida a partir do ponto no qual o ensino médio termina, mas ser obrigado a sair de casa, de meu aconchegante quartinho, para cursar Língua Latina I e Introdução aos Estudos Linguísticos... Isso só pode ser o meu inferno particular.
Enxugando parágrafos, enfim sou bixo. Curso Letras, sem especificidade em língua estrangeira até o segundo semestre e estou pronto para cometer suicídio até o fim do ano. Quem é que consegue conviver com tanta gente de humanas no mesmo campus? Até os caras da Psicologia tem uns cinco minutos de "preciso conversar com gente de exatas e fingir que entendo o que eles falam"; hoje mesmo fui visitar Suho no departamento de Matemática Aplicada, e confesso que apenas o cheiro comum de oxigênio já foi um alívio de setenta por cento em minha vidinha febril de maconha 24h – usuário passivo.
É perceptível que eu não gosto de estar aqui, mas as minhas opções eram limitadas. Mamãe disse: "Ou faz faculdade, ou volta a trabalhar no mercadinho da esquina", e mesmo que Cultura Clássica não fosse minha praia, eu achava engraçada a forma como o professor ria a cada dez palavras e tirava um sarro básico de Ulisses. Divertido. Eu aceitei, e cá estou, fingindo que tudo está bem quando na verdade a minha vontade é sair correndo e fingir que há quatro semanas não estou visando todas as inúmeras possibilidades de enfrentar minha mãe ditadora e dizer: Letras não.
Mesmo assim, continuo vivendo, porque são apenas em ficções que a personagem principal se eleva e faz aquelas loucuras contra a família e o governo estatal. Eu sou só o Baekhyun, não faço nada de extraordinário e nunca tive um gosto por algo especial, apenas por confusões (algo fora daquele conceito de escolha também). No fim das contas, eu estava mesmo era puto por tomar uma chuva depois de passar horas no departamento de exatas bebendo uma Pepsi com Junmyeon-hyung, o veterano (que nem é meu veterano de verdade) mais legal que conheci no dia das matrículas. Ele é presidente da Assembleia Estudantil, e o chefão da Matemática.
Eu realmente tinha que esquecer meu guarda-chuva? Na verdade, eu tinha mesmo que lembrar de trazer um, Oh, Deus, todo poderoso? Porque estava um solzinho bem aconchegante quando saí de casa. Caminhei pelas ruas esburacadas que levavam até o prédio dos alojamentos na velocidade da luz, ignorando os alunos que gritavam e corriam pela chuva, sentindo as gordas gotas de chuva embaçarem minha visão.
É claro que com minha sorte não demoraria a que algo incrivelmente fantástico e desastroso me acontecer, não é? No mesmo segundo que pulei uma das camadas de lama que se formavam próximas aos bueiros da calçada, um motoqueiro filho da puta passou ao meu lado, acelerado demais para quem estava tomando chuva; as rodas jorraram água para todos os lados, e me ensoparam dos pés a cabeça. Eu sinceramente tive o considerável mais surto da minha vida, e no me envergonho disso. Gritei todos os xingamentos possíveis para aquela moto vermelha que se ia em direção ao prédio do alojamento e decidi que precisava urgentemente me afogar naquela chuva sem fim.
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Dois pontos, travessão
Romance[BAEKYEOL] Palavras chave: Universitário; Letras; Park; Problema; Matemática; NBA; Orelhas; Vermelho; Chinês; Job; DP; Deutsch;