Capítulo Único; mentes semelhantes

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De certo modo não me é surpreendente eu já estar acostumado com os recorrentes questionamentos sobre os humanos e suas ações que surgem quando se vive com alguém como Sherlock Holmes, porém, admito, nunca me vi diante de tal dilema como no caso que irei narrar em seguida. Apesar de essencialmente romantizados, os jornais que circularam recentemente estavam essencialmente certos, o ilustre Sherlock Holmes havia resolvido um caso tão mórbido e pretensioso ao lado da figura misteriosa que se ergueu durante o sumiço de meu estimado amigo, L. Duvido que exista uma alma viva que não esteja ciente da existência desse ser mesmo por pormenores. L ganhara imensa fama após a suposta morte de Holmes sendo considerado quase que o sucessor direto de meu amigo durante sua ausência.

Por muito, após seu retorno, se especulou o que Sherlock Holmes pensava em relação a L e eis aqui a resposta, meu amigo não pensava em seu suposto sucessor. Houve poucos momentos nos quais citou tal pessoa e em todas apenas admirava ao seu modo, racional e até certo ponto indiferente, a inteligência que tal criatura aparentava possuir. Tirando esses momentos nunca me passou pela cabeça ambos poderiam chegar a estar em contato um com o outro até que o momento realmente ocorreu.

Era uma manhã no início de Janeiro então já se podia esperar que a neve cobrisse as ruas e o movimento estivesse naturalmente escasso. Havia despertado cedo apesar de não ter nenhum compromisso para o dia a minha espera e encontrei Holmes sentado diante do fogo parecendo-me estranhamente pensativo. Me aproximei e questionei o motivo de seu estado e se havia dormido naquela noite. Meu lado médico sempre se sentiu imensamente incomodado com suas inúmeras noites sem descanso, um de seus muitos hábitos que me desagradavam, por sinal.

– Não há de preocupar-se com isso meu caro Watson. Meu corpo e mente tiveram suas energias restauradas corretamente. O que está me intrigando é o conteúdo dessa extraordinária carta chegada pela madrugada. Alguém queria muito que a mensagem fosse lida o mais cedo possível.

Com isso ergueu entre seus finos dedos um envelope aberto na minha direção. Pensando se tratar de mais um caso entre inúmeros mandados diariamente para meu ilustre amigo peguei o envelope cuidadosamente, mas demonstrando pouco interesse.

– Esse papel – voltou a falar Holmes – não é de qualquer origem ordinária, é um tipo papel normalmente usado na correspondência da realeza, ou classe social próxima ao menos. Trata-se de um alguém com uma considerável fortuna e um linguajar imensamente sofisticado. Honestamente essas constatações não me parecem equivocas considerando o que já teorizava sobre ele em relação aos seus feitos, apesar disso admito sentir-me um tanto quanto decepcionado. Felizmente o fato de não poder culpa-lo por nascer em sua classe social facilita minha aceitação a essa realidade. Alguém tão extraordinário dificilmente teria uma origem muito diferente dessa.

– Por Deus Holmes! Estás a me deixar perdido em meio a tanta falácia! Do que se trata tudo isso?

– Essa carta, meu caro, trata-se de um pedido de ajuda em um caso vindo do mesmíssimo ser autointitulado L.

Essas palavras foram o suficiente para que minha curiosidade me levasse a abrir a carta em minhas mãos. Senti-me nesse momento em uma realidade completamente diferente da minha própria como se minha mente estivesse em um outro corpo tamanha era minha estranheza em relação a uma união entre Sherlock Holmes e L. A letra era imensamente delicada transbordando capricho e dedicação, mesmo assim fui capaz de sentir certa frieza em sua mensagem ornamentada em admiração. Eis o que L tinha a dizer a Sherlock Holmes:

"Meu caro senhor Sherlock Holmes espero humildemente que esse recado tenha chegado em seu tempo previsto em suas mãos pois um representante meu almeja chegar ao seus cuidados na manhã seguinte à madrugada na qual essa carta deve supostamente chegar a Baker Street 221B, as 8h em ponto. Desculpe-me a urgência com a qual trato o assunto porém diante do alvoroço das autoridades ei de dar-me a liberdade de cuidar com tanta maestria o meu linguajar.

Vestígios na neveOnde histórias criam vida. Descubra agora