único

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"Querida Lalisa

Oi

Nós não tivemos uma conversa franca e decente ontem a noite. Talvez porquê estivessemos bêbadas o suficiente para esquecermos tudo por algumas horas, ou talvez simplesmente queríamos evitar o assunto. Mas eu não quero prolongar isso, até porque, acredito que essa tenha sido nossa última noite juntas. Nosso último encontro. Talvez você não se lembre dos detalhes, mas pouco me importa. Provavelmente você nem vai ler isso mesmo.

Embora eu tenha milhões de pensamentos borbulhando em minha mente, não tenho muito o que falar sobre como eu estou. Mas olhando para trás e analisando cada um dos meus dias dos últimos quatro anos desde que nos separamos, eu penso:

Caralho, eu sou uma pessoa completamente diferente da qual eu era ontem, mas ainda sou a mesma garota quebrada que se apaixonou por você. E isso me deixa toda bagunçada.

Acho que nunca te contei os pormenores do meu estado naquela época, mas desde que apertei o gatilho daquela arma, eu passei a enfrentar monstros. Monstros que até então eu arrastava para debaixo da minha cama.
As lembranças ainda são dolorosas. Os gritos da minha mãe, seu corpo machucado, os hematomas em seu corpo, seus olhos implorando para que ele parasse.

Mas ele não parou. Ele nunca parava e enquanto as autoridades locais fizessem vista grossa alegando que era "culpa do álcool", eu teria que resolver por conta própria. E foi isso que eu fiz. Eu matei uma pessoa, e tive lidar com as consequências desse pecado.

Como eu ainda era menor de idade, fui mandada para o internato, e desde que pisei naquele inferno pela primeira vez, pensei que minha vida pensei havia acabado para sempre. E foi assim por três anos.

Até você chegar.

Com o cabelo escuro e brilhante, a jaqueta de couro e o perfume barato. Me encantei por você no instante em que esbarrei em seus olhos selvagens. Tão lindos... Me despedir deles foi com certeza a maior dor da minha vida.

Depois do nosso termino, eu resolvi –como sempre– tratar tudo com indiferença, e fiz de tudo para esquecer dos nossos meses juntas, para facilitar o modo como eu lidaria com o vazio que tomava conta do meu coração. Mas para minha infelicidade, ainda lembro-me de algumas coisas. Coisas que fazem com que esse vazio desapareça por alguns segundos e meu coração transborde sentimentos distintos, porém com clareza.

Lembro das noites em que dançavamos juntas, dos desenhos espalhados pelo tapete do meu dormitório, dos dias quentes em que nos beijavamos no jardim atrás do prédio, de quando fugiamos depois do toque de recolher e corríamos pelos corredores...

Lembro perfeitamente de seus toques. Seus gemidos, seus gritos de prazer, suas mãos firmes serpenteando pelas minhas curvas, marcando cada um de meus pontos mais sensíveis.

Eu lembro de cada detalhe, mas com o passar dos anos e minhas várias –muitas fracassadas– tentativas de retomar a vida normalmente, eu superei. Esqueci? não, mas com ajuda do tempo eu superei. Pelo menos era o que eu achava até a noite de ontem.

Eu tinha plena certeza de que havia superado tudo, até estar caminhando pelo centro da cidade com algumas colegas de trabalho, a procura de um bom bar para afogar as magoas de uma semana estressante, no álcool.

Há anos não passava pela minha cabeça, te puxar para um canto e te pegar com força, do jeitinho que faziamos nos corredores do internato, até entrar em um boteco qualquer em um beco qualquer e pela segunda vez, esbarrar em seus olhos selvagens e me apaixonar imediatamente.

"A Dois Passos Do Paraíso" tocava em volume ambiente, e o refrão se encaixava perfeitamente naquela situação. Você estava sentada em um sofá próximo a porta de entrada, onde eu me encontrava estática, paralizada, sem ar. Só o que nos separava era uma pequena mesa de alumínio. Eu estava a dois passos do paraíso.

Passei direto, mas pude sentir seu olhar me queimando, descendo pelas minhas costas, minha cintura, e minha bunda. Você sabia o que queria, e sabia que me tinha na palma da mão. Você planejou o rumo que a noite tomaria em apenas cinco segundos que nossos olhares se esbarraram. Você é muito filha da puta.

Eu sentei no balcão e pedi a bebida mais forte porquê agora, eu teria mais problemas, mais confusões e mais motivos para me embebedar. Passaram-se 15 minutos até você se sentar ao meu lado e pedir a mesma bebida. Eu olhei para você, mirei sua clavícula bem marcada, seu pescoço, que já não tinha as marcas que um dia eu fiz, e suas bochechas cheinhas, tão gostosinhas de apertar. Você não mudou nada, nada mesmo.

Eu nem percebi quando você estava me encarando, com o demônio nos olhos. Eu não consegui formular uma só frase, nem mesmo uma palavra saiu da minha boca. E quando você se virou em minha direção e soltou apenas um "Como você está?", eu congelei. Comecei a tremer e suar frio, minha visão ficou turva e a respiração automática foi para a casa do caralho.

Foram alguns minutos até que eu saísse do transe e respondesse sua pergunta. Eu não estava bem, assim como não estou enquanto escrevo esta carta, mas tentei ser o mais convincente possível. Obviamente você não acreditou, mas não insistiu e te agradeço por isso. Nós conversamos por algumas horas e depois de muitas doses de bebidas, você facilmente me convenceu a me despedir das minhas colegas –que eu ja nem lembrava que estavam alí– e te seguir até seu apartamento.

E a gente fodeu muito a madrugada inteira.

Nós fizemos em cada canto desse apartamento e, sempre que lembro, meu coração aperta pela saudade que eu sinto do seu corpo, dos seus gemidos e da sua boca. Sua boca... sua boca fez maravilhas! Me fez revirar os olhos e ver estrelas. Sua língua aveludada me deu os melhores orgasmos da minha vida e seus dedos... Tão fundo e forte. Você me chupava e metia como se nunca fosse ter o suficiente. E depois nós trocamos

Se eu me esforçar um pouco, ainda posso sentir o gosto da sua boceta na ponta da lingua. Posso sentir meus dados sendo apertados pela sua cavidade quente e molhada. Você continua tão deliciosa, nossa! Nós fizemos de tudo até sobrar apenas eu, você e esse seu sorrisinho filha da puta. Você lembra disso? Eu lembro.

E depois de uma boa foda, nós deitamos e ficamos horas e horas jogando conversa fora. Quando acordei, você não estava em casa. Deixou apenas um post-it dizendo que voltaria tarde, e que eu poderia ficar a vontade em seu apartamento. Espero que não se importe, mas eu tomei banho e vesti uma de suas camisetas, dessas que cabem três de você dentro. Botei "Ensaio Sobre Ela" do Cícero para tocar em sua caixa de som, e fui para a varanda. Fiquei horas olhando os carros passando pela avenida, pensando no que exatamente eu senti ontem a noite, e em como senti a mesma coisa a dois anos atrás quando eu e você éramos uma.

Eu senti a imensidão do universo dentro de mim. Senti que cada planeta e cada estrela estavam em perfeita harmonia. Assim como nós. Eu sentia tudo e agora sinto só... Nada.

Sabe, sentir nada é estranho. O nada é estranho. É como, sei lá, a cor branca, que é basicamente a junção de todas as cores do espectro de cores. Existe toda a paleta de cores dentro do branco e mesmo assim ele é descrito por muitos apenas como a ausência de cor.

Não sei se está me entendendo, talvez me ache um pouco doida. Mas o que estou tentando dizer é que, assim como existe todas as cores do arco-iris dentro do branco, existem todos os sentimentos escondidos dentro dessa sensação de vazio.

Quando eu penso em você esse vazio deixa de ser tão branco e se torna um pouco mais colorido.

Eu fui embora. Não te esperei chegar e acho que será melhor assim. Acho que será melhor para nós duas, sinto muito. Nós seguiremos em frente como já fizemos uma vez, mas quero que saiba que por você, sinto o tudo e sinto o tudo que se esconde dentro do nada. sempre te amarei independente de quanto tempo se passe e quão maior o vazio se torne.

Eu nunca te esqueci, e nunca vou esquecer. Espero que também não me esqueça.

Ass: Jennie Kim"

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ   ㅤㅤ♥︎

Espero que tenham gostado


A propósito, podem me chamar de Lena ♡

Meu mel! • JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora