Capítulo 41
O ambiente estava tão bonito que é lícito que fosse descrito.
Cadeiras e mesas cobertas por pano branco ficaram organizadas num canto com boa iluminação e tendo ao lado uma longa mesa de ferro com os mais variados pratos. Alí próximo, porém com menos luz exceto por luzes que piscavam e um pequeno palco para a música ao vivo, ficava o lugar conhecido como pista de dança; onde a maior parte dos flertes (ou "abates" na linguagem comum) aconteciam. O tema da festa era formal, e por isso mesmo não faltavam ternos e vestidos brilhantes caros; moças bonitas com batons vermelhos lascivos e homens que fingiam educação para disfarçar a brasileirisse por trás, ou seja, a vontade de transar com todas elas, pois, entre os mais ignorantes dos ignorantes (na sociedade em geral ou na festa) vigorava a lei do mais forte ou a lei do "quanto mais mulheres você comer, mais respeitável você será". E é claro que bebidas não faltavam. As mais variadas, da cerveja ao vinho, eram servidas por garçons enquanto alguns seguranças garantiam que nenhum penetra entrasse.
Já a música, numa época onde não mais nasciam Cartolas ou produziam Moinhos e Rosas, tinha-se o barulho certo para o momento certo. Então as batidas no início seriam suaves, talvez um Bethoveen ou Mozart para servir de fundo às conversas ao redor das mesas, depois, quando o álcool entrasse nas mentes, era o momento de proporcionar a selvageria com batidas mais fortes enquanto letras que não abordavam mais do que sexo faziam mulheres rebolarem os quadris oferecendo inconscientemente suas partes íntimas ao macho selvagem que fosse mais digno; não, digno não, assim pareceria algo próximo de valores e bons costumes. Em verdade venciam os que tinha mais respeito dos outros, ou pela fama, ou pelo dinheiro e até pela beleza natural. A personalidade em si? Do que importava? Perda de tempo, de fato. Se amanhã ou depois esse mesmo lhe arrancasse um sangue da cara ou a largasse na miséria com filho de colo, não importava.
*
Tendo o ambiente pronto, e uma hora depois do horário marcado, os convidados começaram a chegar; sendo recebidos com simpatia pelos seguranças e logo iam cumprimentar Zé e JK, que lá dentro já os aguardavam.
Não cabe explicar todas as longas horas da festa, isto a imaginação pode completar, cabe, sim descrever os acontecimentos por parte dos dois amigos que tinham aquela noite talvez como a noite mais importante de suas vidas. Andemos...
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Zé deu um largo sorriso a todos os convidados. De fato, apareceram todos. Alguns com namorados ou namoradas, outros com amigos, outros sozinhos, ao menos não levaram crianças e abusando um pouco de clichê, a festa estava perfeita como sempre são nos romances melosos lá e acolá.
Os protocolos foram seguidos: todos chegaram comportados, acanhados até, ou animados demais. Depois umas bebidas aqui, alguns abraços de saudade e sorrisos ali e apertos de mãos. "Saudade", "quanto tempo", "você está lindo(a)" e blá, blá, blá; não é difícil imaginar os diálogos rasos, difícil mesmo é distinguir a verdade da mentira.
De Sussena, por exemplo, a verdade era evidente. Fez questão de acompanhar Zé de convidado em convidado, traduzindo-o; ela mesma sorria com candidez, não tinha segundas intenções, apenas a primeira, que era puramente se divertir, ter uma noite que lhe ficasse na memória e um momento prazeroso com o namorado que roubava-a cada vez mais o coração.
JK, fraco de espírito em sua busca, não conseguia decidir entre aproveitar cada segundo ou usá-los para buscar o culpado. Depois, já decidido, começou uma busca frenética.
Zé não quis perder tempo e foi metendo-se de grupo em grupo, abordando convidados sozinhos ou não.
Os primeiros a serem investigados foram Romelau e Aninha, que fumavam cigarros do lado de fora. Assuntos rotineiros depois, não deram nada de produtivo; era a vez de Roberto, Inácio e Dalva, que sorriam uns aos outros relembrando histórias engraçadas de quando novos, simples, simples conversa sem nada de segundas intenções. Em verdade todos eram simples. Até Carlos, que levou a mãe junto, era inocente demais. Não houve suspeito ou avanço.
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Zé Cotrim
RomanceRealismo Brasileiro baseado nas obras de Machado de Assis, Jorge Amado, Lima Barreto e tantos outros. O livro conta uma história interessante ao mesmo tempo em que critica fortemente a sociedade Brasileira atual.