Praça Paris

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Essa, não! Disse Besbe, se desequilibrando e voltando a encostar na parede, titubeando a estender a mão e pedir dinheiro para uma mulher branca de cabelos curtos, estilo rockabilly inglesa, que vinha em sua direção e mantinha o olhar em sua direção .

Como assim, essa não? Ela já estava olhando para você era certeza que ela ia dar alguma coisa. Tá escolhendo agora? Tá podendo? Disse Maguinho não aprovando a desistência do amigo.

Pois é, acho que já temos dinheiro suficiente para comprar um vinho não precisamos mais pedir nada, vamos logo para o depósito comprar logo nossa birita. Disse Besbe tentando sair logo dali.

Não to te entendendo, Besbe. Você ficou estranho do nada, você conhece aquele mulher? Sua cara mudou, o que tá rolando, cara? Maguinho insiste já ficando cabreiro.

Não é nada, vamos logo, que a sede de vinho bateu forte e como ainda é cedo se depois da primeira garrafa a sede voltar ainda dá tempo de pedirmos uma grana para comprar a próxima, afirma Besbe dessa vez com tom de voz imperativo.

Então os dois foram saindo da Praça Paris em direção ao depósito de bebidas do Ademar que ficava poucos metros dali na rua da Glória.

Mas, era notório que alguma coisa diferente tinha acontecido com Besbe, ele bebeu aquele vinho comprado com o dinheiro da mendicância com um jeito diferente, eu poderia dizer que apesar de segurar aquele copo de plástico descartável na cabeça de Besbe ele parecia estar segurando uma taça, pois a cada gole ele levantava o copo e olhava para o copo como se estivesse tentando entender algo no copo.

Besbe era um cara de 22 anos em situação de rua. Apesar de se vestir como os demais, pedir dinheiro e dormir na rua como os demais tinha um jeitão que o diferenciava.

Ele veio de Brasília fazem três anos, e veio com o objetivo de conhecer o Rio de Janeiro e ver de perto aquela cidade que tanto ouvira falar nas histórias de seus pais.

Besbe foi criado em Brasília, mais precisamente em Ceilândia onde seus pais eram daqueles ativistas políticos que participavam de vários movimentos. Era ambos cariocas e foram para Brasília para ficar mais perto do centro das discussões políticas do país.

Besbe até começou a participar de alguns movimentos na época da escola enchendo os pais de orgulho, mas logo que começou a andar com a galera órfã do rock dos anos 80, começou a se interessar mais por arte urbana do que pelas questões políticas que antes eram o plano de fundo do rock de Brasília.

Aos 16 anos Besbe estava curtindo com os amigos em um encontro com a galera da arte no lago Paranoá quando recebeu a notícia de que alguma coisa tinha acontecido com seus pais quando eles saiam de uma reunião do diretório do partido.

Besbe pegou carona com o Tio Afonso que trouxera a notícia e dentro do carro o Tio solta a mais temida de todas as frases: Você vai ter de ser forte!

Naquele momento Besbe engoliu seco, e já sabia que algo muito grave tinha acontecido com seus pais, mas preferiu não perguntar nada.

Tio Afonso estaciona o carro na rua do hospital regional de Ceilândia, e na frente do hospital vários amigos do partido estavam lá, com aquela cara de desolados e revolta ao mesmo tempo.

Tia Celma, esposa de Afonso foi em direção a Besbe, abrindo os braços e gritando descontrolada: Tiago, meu anjo. Mataram Celina e Dico, mataram minha irmã. mataram eles.

Besbe sentiu suas pernas perderem as forças e aos poucos sua visão foi ficando turva, e os berros de Tia Celma foram ficando distantes, até que Besbe apagou no chão.

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⏰ Última atualização: Apr 28, 2020 ⏰

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