Capítulo 1

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espero que gostem sz

Eu nunca fui de sair muito, mas depois de meus 12 anos meio que fui obrigado a fazer isso.

Meu pai havia se tornado dono de uma das maiores empresas de Seul, logo após meu tio morrer e deixar tudo em seu nome. Não demorou muito para que eu tivesse que frequentar festas de empresas, eventos beneficentes - “Isso é bom para a imagem da empresa”, diz meu pai. -, reuniões chatas que meu pai me obrigava a participar, entre todos os outros pontos ruins de ter pais com grande influência na mídia e dinheiro.

Mas há um lado positivo em meio a todo esse caos. O poder. E mesmo que indiretamente e de forma mais amena que meus pais, eu o tinha. Os professores quase nunca chamavam minha atenção, mesmo quando claramente deviam. As mais bonitas garotas (e garotos também), queriam estar comigo e mesmo que a maioria se aproximasse somente por interesse, sinceramente, não me importo. Outro lado positivo é que sempre me livrava de suspensões e qualquer outro tipo de punição quando aprontava algo e é exatamente isso que eu sei que irá acontecer hoje.

Os primeiros raios de sol tocaram minha pele, anunciando que estava amanhecendo. O despertador havia tocado há algum tempo e eu continuava deitado, pensando em tudo que teria que falar para a diretora quando chegasse ao colégio. Não que essa situação fosse algo novo, muito pelo contrário. Provavelmente irei levar apenas mais um sermão sobre responsabilidade e tudo irá voltar ao normal, como sempre volta. Obrigado influência do papai.

Me levantei da cama, tomando um banho rápido e vestindo o uniforme. Em minha mente rodava tudo que eu teria que dizer, “Isso não irá se repetir”, “A senhora tem toda razão”, sempre funcionava. Desci as escadas, indo até a sala de jantar, onde o café estava todo posto. Minha mãe já se encontrava sentada lá e nada do papai, suspirei, mesmo que aquilo não fosse uma novidade, ainda me incomodava.

- Ele não irá se juntar a nós novamente? - Perguntei já me sentando a mesa, pegando um dos pedaços de bolo que tinham ali e levando até minha boca.

- Ele tem uma reunião muito importante logo pela manhã, filho. - Minha mãe levou uma de suas mãos até meu braço, apertando fraco e me dando um sorriso de lado. Ela sabia o quanto aquilo me chateava.

Tem sido assim basicamente desde meu doze anos, quando ele assumiu a empresa. No começo, ele ao menos tentava passar um tempo com a gente, mas com o passar dos anos as reuniões foram aumentando, as viagens à negócios, entre todos os outro problemas. E o tempo passado com a gente, foi simplesmente sumindo. Minha mãe tentava compensar a ausência dele, passando o máximo de tempo comigo,o que não conseguia ser muito, levando em conta que ela assim como meu pai, também é muito ocupada. Sua agenda, sempre estava com algo que ela devesse fazer, seja dar entrevista ou até posar para a capa de alguma revista. Mesmo que ainda me incomode, é algo que eu aprendi a lidar e conviver, afinal, não há muito que eu possa fazer.

Saí de casa assim que terminei de tomar o café, me despedi de minha mãe com um beijo na bochecha e peguei a mochila que havia deixado arrumada na noite passada. Gostava de andar até o colégio, o sol que fazia pela manhã era agradável e podia aproveitar para ouvir suas músicas. O caminho não era tão longo e eu sempre fazia o mesmo percusso. Conseguia observar a pequena praça que tinha por ali, onde sempre, durante aquele horário, havia uma criança e seu cachorrinho brincando. Também havia a velha loja de suvenires, sempre que passava em frente aquele lugar, a idosa que trabalhava e era dona dali, sempre me dava um sorriso.

Tirando todo essa história de poder, mídia e afins, eu levava uma vida bem monótona e chata. Tinha alguns bons amigos no colégio, JinYoung e Mark, que eu conheço basicamente a minha vida inteira. Nos tornamos amigos no fundamental e desde então nunca nos separamos.
Tenho uma namorada, Seulgi, que, mesmo não sabendo se a amo, carrego um carinho enorme por ela. Nos conhecemos numa dessas festas que meu pai sempre me obrigava a ir. Mesmo sendo da mesma sala e colégio que ela há anos, nunca havíamos nos falado. Fugimos da festa para ficarmos sentados na calçada, falando sobre assuntos aleatórios e desde então nos tornamos amigos. Com o tempo, acabamos ficando. Foi na festa de aniversário dela, lembro que ao fundo tocava uma música pop, talvez Ariana Grande? Eu estava nervoso e ela parecia a pessoa mais calma do mundo, como se já tivesse feito aquilo milhares de vezes (e de fato, talvez tivesse feito mesmo), depois daquele dia começamos a namorar e aqui estamos. 

Cheguei no colégio, com alguns minutos sobrando antes de começarem as aulas. Mark e JinYoung não viriam hoje, estavam em um aquário, pesquisando para o trabalho de biologia que o professor deles havia passado. Ou algo do tipo, não prestei tanta atenção. Fui até onde Seulgi se encontrava, sorrindo para ela e lhe dando um selinho rápido.

- Fiquei sabendo que se meteu em encrenca de novo. - Ela disse, enquanto arrumava seus livros no armário. Seulgi sempre me dizia que eu devia tentar andar na linha e que um dia, eu iria acabar me ferrando por conta dos meus “atos imprudentes”. - Quantas vezes eu já te disse que seu pai pode ficar bravo se descobrir? - Perguntou, fechando a porta do armário e me olhando com a cara de séria que sempre fazia.

- Não vai dar em nada, como sempre. - Dei de ombros - E meu pai não irá descobrir porque ninguém irá contar, certo, senhorita Seulgi? - Falei num tom brincalhão, enquanto acompanhava minha namorada até a sala de aula dela.

- Qualquer dia desses, eu não vou conseguir esconder tudo o que você faz e você vai ter que assumir seus erros, seu imprudente! - Disse séria, antes de rir fraco, se despedindo de mim e entrar em sua sala 

[...]

Isso não pode estar acontecendo comigo. 
Não é possível que tudo isso seja verdade e que não seja parte de um universo alternativo, onde as coisas apenas davam errado para mim. 

Agora são exatamente 15:00 hrs e aqui estou eu, a caminho de um hospital, vestido de palhaço, tendo que cumprir serviço comunitário. Pela primeira vez em anos, eu estou sendo punido pelas minhas ações e estou a ponto de surtar. Converso com Seulgi pelo celular, ela não parava de dizer que havia avisado que, isso iria acontecer uma hora ou outra. Sinceramente, acho que não preciso de mais sermão, a situação já é ruim por si só.

Desci do carro assim que ele parou em frente ao pequeno hospital. A diretora havia dito que haveria alguém me esperando logo na entrada para me passar todas as instruções necessárias. Suspirei, está quente e a fantasia apenas torna tudo ainda pior. Bem como haviam me dito, em frente à porta de entrada estava um garoto, com mais ou menos minha altura, talvez um pouco mais novo. Parei em frente a ele, fazendo uma pequena reverência. Consegui ouvir uma pequena risada dele, logo levantei minha cabeça, o encarando confuso.

- Desculpe, não consigo te levar a sério com essa fantasia. - Ele disse, tentando parar de rir. Se fosse em outra circunstâncias, eu ficaria muito puto com ele. Entretanto, vestido do jeito que estava, eu não poderia esperar que a reação das pessoas fosse outra.

- Tudo bem. Você pode apenas me falar o que eu tenho de fazer? Só quero terminar isso logo.

- Não é tão simples assim. - Ele disse, entrando dentro do hospital e começando a andar. O acompanhei. - Bom, pelo que fiquei sabendo você não está aqui por espontânea vontade, é mais como… Um castigo para que você não tenha punições mais severas, certo? - Apenas concordei com a cabeça. - Em geral, o ambiente aqui já em meio desanimador. Sabe como é, a doença, quimioterapias e todo o resto. Seria legal se você demonstrasse ao menos um pouco de entusiasmo e empatia.

Engoli em seco. Tenho a leve sensação de que esse garoto ficaria no meu pé em todo o tempo em que eu ficar aqui.

- Você também não precisa se vestir assim sempre. Sei que provavelmente foi por conta da visão que, filmes que envolvem crianças com câncer tentam passar, onde o voluntário se veste de palhaço para tentar alegrar a vida triste e sombria das pequenas crianças, mas acredite, a maioria aqui nem gostam de palhaço e apenas vão achar sua fantasia ridícula. - Não foi por conta dos filmes. A fantasia foi ideia do Mark e JinYoung, pensando agora, por que em sã consciência eu achei que seguir alguma ideia deles seria uma boa ideia? - Vale lembrar que você não está sendo incrível por sacrificar seu tempo com as pobres crianças doentes. Não se sinta incrível por isso.

- Em nenhum momento eu disse isso… - Falei um tanto quanto baixo, aquele garoto me intimidava.

- Mas pensou, todos pensam. - De repente, ele parou de andar, se virando para mim. - Ah propósito, me chamo Youngjae e você? - Disse, sorrindo. Agora toda aquela sensação intimidadora que ele havia me passado apenas desaparece, dando espaço à uma imagem completamente adorável. Seria esse o significado de dualidade?

- Jaebum. Im Jaebum. - Disse.

- Até mais, Jaebum, Im Jaebum. Minha sessão de quimio irá começar e se Jackson me ver conversando com você, ele irá achar que estou tentando de intimidar. Tchau! -

Então ele se virou e apenas saiu, correndo pelos corredores e me deixando com cara de bobo, perdido, num hospital que eu não conhecia. 

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⏰ Última atualização: Apr 28, 2020 ⏰

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