O cômodo azul em tons pastéis estava com a porta fechada e a luz acesa, mesmo sendo tarde da noite.
Faziam poucos meses que eu havia trocado meu horário e passado a trabalhar em horário noturno neste hospital. Era um pagamento bom e um horário agradável... Mas nesses meses em que estive aqui, aquele mesmo quarto estava sempre com as luzes acesas pela noite e poucos enfermeiros transitavam para lá em meu período de plantão.
E novamente, eu me encontrei encarando aquela porta com curiosidade. Era como uma força atrativa, meus olhos iam até ela todos os dias e a vontade de descobrir quem era a pessoa doida que passava todas as noites em claro ficava cada vez maior.
Normalmente, eu só olhava e desistia da ideia. Tentava me distrair. Mas naquele momento, acabando de guardar as medicações da sala de enfermagem e completamente desocupado, meus olhos novamente estavam ali.
Eu queria tanto.
E estava sem nada pra fazer...
Mordi o lábio, ponderando se valia ou não a pena. E, antes mesmo que minha mente se decidisse, meus pés já haviam me levado para aquele lugar. Eram três da manhã, e eu bati pouco na porta antes que uma voz opaca dissesse que eu podia entrar.
— Quem é você? — Perguntou o garoto. Ele parecia ainda estar no ensino médio, com cabelos negros e uma expressão um pouquinho cansada. Em suas mãos, segurava um pequeno livro do que parecia ser alguma ficção, com a capa em diferentes tons e uma espécie de boneco na frente.
Ele me olhava confuso, sem saber meus motivos para estar ali.
— Ah, Trafalgar D. Law — respondi, com um sorriso constrangido por não ter realmente esse motivo.
— Você não é meu médico. Não está na hora de remédios ou inalações... Aconteceu alguma coisa? — Ele fez uma expressão um pouco assustada, soltei uma risada.
— Não aconteceu nada — falei, abrindo um pequeno sorriso. — Eu estava curioso para saber quem ficava neste quarto... é um motivo muito ruim? — Andei até perto da cama, sentando ao lado de seus pés em uma atitude nada profissional.
Quase corei pela falta de responsabilidade, mas... bem, eu estava realmente entediado e ele parecia uma pessoa legal.
— Os médicos não tem mais o que fazer hoje em dia — disse, adotando um tom brincalhão, diferente da antipatia que pareceu sentir ao me ver.
E meus olhos analíticos passaram por ele. Aquele garoto era surpreendentemente saudável. Então, por um segundo, minha mente deu pane. Eu jurava que encontraria um paciente raquítico pelo tempo de internação. Mas não, suas bochechas eram coradas e cheinhas, assim como o sorriso repentino exalava energia e doçura.
— Posso perguntar seu nome? — Questionei, um pouco afetado pelo brilho que ele parecia ter.
— Monkey D. Luffy — respondeu-me, dando um sorrisinho.
— Você tem quantos anos, Luffy?
— Isso virou interrogatório? — Ele arqueou a sobrancelha. — Tenho vinte, Law. E você?
— Vinte e sete — respondi. — O que você tem? — Ele respirou fundo, aconchegando as costas contra o metal da cama, ele não tinha nenhum soro injetado... realmente parecia bem. E isso não fazia sentido.
— Nada que não tenha cura — ele riu, sem mostrar os dentes. — Preocupado?
— É meu trabalho — semicerrei os olhos. — Por que está aqui há tanto tempo?
— Eu só pego pneumonia frequentemente, por isso, às vezes fico internado por muitos meses. — Aquilo não me convenceu muito, porém, havia uma chance de ser verdade, então resolvi interpretar como tal.
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He's from another star • Lawlu •
FanfictionEra o mais belo problema, tornar-se apaixonado pelas risadas doces e por aquele livro clichê que um paciente noturno cismava em carregar consigo. O coração de Trafalgar batia pelo perfeito e imperfeito menino das histórias, assim como pelas estrelas...