carta aberta para ele.

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Que sentimento estranho, indescritível. Um frio na barriga acompanhado de tesão e arrependimento. Era isso o que ele me causava. E eu não queria isso.
Afinal, estou namorando e amo o jeito do meu namorado. Mas ele nunca despertou um sentimento tão perturbador e ao mesmo tempo intrigante como Júlio havia despertado em mim. Eu não sei o que eu faço, de verdade. Me sinto horrível por me sentir dessa forma. Talvez seja pelo fato de eu e o Júlio termos uma história intensa.

Minha história e do Júlio começou quando eu apenas tinha 14 anos. E ele 17. Segundo ele, ele me viu duas vezes na praça próximo ao meu condomínio. E eu, nem sabia da existência dele naquele momento.
É engraçado pensar que, mal sabíamos que nossos caminhos iriam se cruzar de uma forma mais direta. 
Toda sexta feira eu me reunia com meus amigos para jogar sinuca, ouvir rock e comer pizza. Era um ritual praticamente.
Eu considerava esses amigos como irmãos, já que crescemos juntos e sou a mais nova do grupo. Certa vez, eles levaram amigos novos para essa reunião: era o Mikhael, um menino também especial e o Júlio, dono dos  olhos cor de mel cativantes e cabelos cor de fogo. Eu era inocente. Jamais pensaria em beijar ele ou algo do tipo. Entretanto, mesmo conhecendo ele por muito pouco tempo, senti uma conexão e sintonia que jamais havia sentido com alguém.

Viramos inseparáveis. Eu, Júlio e Mikhael. Costumavam a nos chamar de "bomba" e você já deve imaginar o porquê.
Acontece que, ao decorrer do tempo, Júlio começou a gostar de mim. E eu, inocente, nem sabia. Ele se entregou para mim de uma forma que ele não havia feito com ninguém e eu nem notei. Até um dia ele se declarar no parque de Águas Claras, na véspera da mudança de cidade dele, e eu rejeitei. Não porque eu quisesse, mas sim porque eu via ele como um melhor amigo e também, porque eu gostava do Mikhael. Aquilo arrasou ele. E dessa vez, eu percebi.

Por ironia do destino, nós três nos mudamos. Mikhael foi pra Balneário Camboriú, eu me mudei para Florianópolis e Júlio se mudou para Curitiba. Todos na região sul. Mas desde a mudança nunca mais nos vimos. Apenas mantivemos contato pelas redes sociais. Eu superei o Mikhael e quando cheguei até arranjei um ficante. Júlio soube, ficou triste. E eu não pude fazer nada.
Depois de certo tempo, ele continuou mantendo contato. Respondendo stories no Instagram. E era nítido que ele ainda me amava, e me arrependo muito de não ter insistido tanto. Na primeira vez que fui à Curitiba e quis encontrá-lo, ele não pôde me ver. Depois disso, desisti. Isso foi logo depois da mudança. Porém, ele continuou respondendo minhas redes sociais até meados de 2019. Depois, ele ficou ausente.

Hoje, em 2020, em plena quarentena devido ao coronavírus, começamos a nos falar de forma mais intensa, descontraída. E ele de alguma forma me despertou esse sentimento que eu jamais havia sentido na vida. Sempre tivemos a mesma conexão, apesar da distância. Só que agora isso aflorou um sentimento dentro de mim que eu nem sabia.
Não sei se fico feliz por ele ter aparentemente  me superado, ou triste pelo mesmo motivo. Não sei se sou só egoísta ou realmente caiu a minha ficha de que provavelmente eu me sentiria complementada/entendida por alguém de uma forma mais espontânea, que ele sempre esteve por mim, que ele sempre me apoiou e que eu amo ele (será?) do jeito que ele é.
Tá sendo um soco no estômago escrever tudo isso aqui e não poder mandar a real para ele, porque eu tenho certeza que já deve ter entendido a minha matemática: Não somo e nem subtraio, apenas sou um conjunto vazio, desesperado para ser preenchido por ele. E sempre foi pelo Júlio. E eu só notei isso tarde demais.



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