SETE

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O banquete não é tão árduo como pensei bem antes de entrar naquele salão e ter uma coroa colocada sobre minha cabeça. Deve ser porque estou na mesma mesa que a minha nova família. A segurança, o estranho acolhimento que recebo deles me mantém aquecida dos olhares frios sempre direcionados a mim. Querendo ou não, eles terão que me proteger até o dia em que não precisarão mais de mim. Quando esse dia chegar, Cal já será rei, substituindo o lugar de Tiberias. Poderão inventar qualquer coisa para acabar com a minha vida num piscar de olhos. Mas, por ora, eles ainda me escondem sob suas falsas asas. Eu ainda valho alguma coisa. Por isso me preservam tanto.

Bebo mais um longo gole do champanhe espumante. Depois da primeira taça, minha cabeça começou a ficar zonza. Então sinto que me embebedar é o melhor a se fazer. Quero esquecer tudo isso. Acreditar que foi um pesadelo ou uma simples brincadeira de mau gosto da rainha Elara. Necessito acordar amanhã ainda sendo uma criada insignificante com poderes ocultos. Mas a presença perturbada de Maven me arranca quaisquer indícios de esperança. Diferente de Cal, que conversa animadamente do outro lado da mesa, o mais novo luta para se manter calmo diante de toda a corte. Percebo que Maven raspa as unhas sobre o tecido preto da calça, começando a me agoniar também.

- Você não precisa ficar preocupado - instintivamente, toco sua mão pálida debaixo da mesa. Por incrível que pareça, principalmente para um ardente que está prestes a entrar em um colapso nervoso, sua pele está fria demais para o meu gosto.

- Perdoe-me - Maven sussurra apenas para eu ouvi-lo. Suas bochechas coram num tom prata intenso e os seus ombros relaxam, apesar do nervosismo.

- Não precisa se desculpar, alteza. - Me esforço para esboçar um sorriso confortante. De alguma maneira, sinto que deveria ficar de olho em Maven, não no sentido ruim. - Aceita? - Ofereço uma terceira taça de champanhe que eu iria tomar. Acho que ele precisa mais disso do que eu.

- Obrigado - delicadamente, Maven pega a taça e leva o líquido espumante até a boca. Bebe todo o conteúdo como se fosse água. Estou impressionada.

- Oh, vai com calma - retiro o objeto de sua mão. Maven não parece ser um apreciador de álcool, de modo que ele fica tonto rapidamente. Não a ponto de ficar bêbado. - Vai devagar com isso. Não queira sentir as sequelas na manhã seguinte.

- Eu sei. Só que... eu não estou muito confortável mediante esta situação, sabe? - Ele busca as palavras certas para não me ofender.

- Acho que qualquer um ficaria assim - respondo maquinalmente. Mas sei que certas pessoas adorariam estar no meu lugar. É só olhar para as expressões esgotadas e rancorosas das outras garotas que competiram na Prova Real. Se pudessem, fariam de tudo para estar onde Evangeline e eu estamos. Desfrutar da atenção desejada da família real e se tornar o principal centro das atenções. O centro de tudo.

Olhando para as outras Grandes Casas, pego Ptolemus Samos me encarando. Seu cabelo prateado está tão bem penteado que ele nem parece ser aquele guerreiro carniceiro que sempre acompanha o príncipe Cal nas batalhas. Diferente do resto da sua família, que não para de conversar, Ptolemus é o único calado. O único me notando. Outra vez agradeço pela maquiagem pesada que as criadas passaram sobre minha pele, pois tenho total certeza de que estou mais vermelha que um tomate. Desvio rapidamente os meus olhos dos seus. Ele sempre faz isso. Por quê?

Maven infelizmente percebe o meu incômodo.

- Você está bem? - Ele toca meu ombro.

A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora