Vou Morrer Sozinho

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Ok.

É isso.

O show é daqui a 3 horas. Guardo todos os meus materiais e saio do aeroporto. Já revisei o caminho mais de 300 vezes. Estou preparada para pegar ônibus em São Paulo.

Eu acho.







Atualização de status:

Eu não estava preparada.

Que tipo de cidade é essa que o ônibus para em qualquer lado da rua?

NÃO FAZ O MÍNIMO SENTIDO (talvez faça caso você seja de São Paulo ou de algum outro lugar em que os ônibus façam um Zig Zag sem sentido pelas ruas).

Depois de perder meia hora tentando descobrir como se pega o ônibus nesta cidade confusa eu finalmente consegui entrar no ônibus.

Fiz uma conexão em uma rua totalmente aleatória com tantas faixas que eu levei 10 minutos para atravessar a faixa de pedestre inteira.

Esperei mais meia hora para pegar o próximo ônibus e lutei para achar um lugar no qual eu não ficasse tão espremida entre as pessoas. (Como um ônibus pode estar tão cheio em um sábado no fim de tarde?)

Eu tentei (EU JURO) atrapalhar o mínimo possível com a minha mala, mas a cada movimento que eu fazia para respirar parecia que 7 pessoas me olhavam feio. (Foi mal pelo vacilo).

Depois de descer eu tive que andar 5 quadras até a casa de show.

E estaria tudo bem até aí, mas o meu estômago já tinha esquecido que hoje eu iria ver o Jão. A única coisa que ele conseguia pensar era que minha última refeição tinha sido dentro do Avião.

Um suco. Bala de gelatina. 3 bolachas doces. 3 bolachas salgadas.

Às 3 horas da manhã.

Agora já eram quase 19h e meu estômago gritava por comida.

Eu tinha deixado separado o dinheiro para meu lanche de antes do show. Vinte reais eram tudo o que me restavam.

Graças a deusa eu tinha pago a mais para ter direito a refeição na viagem de amanhã, o site dizia que a viagem iria durar de 7 a 8h. Com trânsito bom. (Sim. Eu moro longe de tudo. Desculpe, Jão)

Avistei uma fila de gente com camisetas do Jão, pessoas anunciando a venda de bottons, faixas e as mais diversas quinquilharias do Jão. Eu tinha finalmente chegado ao show.

Avistei uma barraquinha de pipoca e batata chips e quase corri para lá quando senti o cheirinho de comida.

- Moça, gostaria de ver algumas camisetas que eu estou vendendo? - uma mulher perguntou, entrando na minha frente e impedindo o meu estômago de realizar seu sonho.

- Eu preciso comer, eu já vejo - eu falei, tentando desviar. Eu nem ia ter dinheiro para comprar a camiseta, era melhor nem ver.

- Mas olha só, são modelos customizados que eu mesma fiz - ela fala, mostrando alguns modelos que estavam presos em um cano de metal (aquilo parecia um apoio de algodão doce, por sinal).

- Eu realmente não tenho condições de comprar isso hoje - eu tentei mais uma vez.

- Elas são únicas - ela então levantou uma camiseta que tinha o Jão vestido uma camiseta ao contrário com um lobo desenhado. Ao redor do Jão estavam cada uma das músicas dele, o cercando como uma aura. Nas costas da camiseta estava escrito "*ORRA A GENTE SE AMA".

E foi nesse momento que o meu corpo lembrou o por que eu estava ali. Eu estava ali para ver o Jão. O meu coração apertou. A minha fome passou. Era como se meu amor pelo Jão suprisse todas as minhas necessidades.

- Essa camiseta é maravilhosa - eu falei sem tirar os olhos daquela lindeza, tinha a minha frase, tinha o meu Jão, tinha um lobo. Tinha tudo - quanto é?

- 25 reais - a menina falou - aceito cartão.

Droga. Droga. Droga

Eu fiz uns cálculos rápidos: Eu tinha 20 reais e o dinheiro da passagem até a rodoviária. Só.

Se eu tirasse o dinheiro dá passagem...

Eu ia ter uma camiseta do Jão.

E iria estar presa aqui. Em uma cidade gigante, sem conhecer ninguém.

- Ah, desculpa, mas só tenho vinte - eu falei, amaldiçoando o dia em que eu não criei um cartão de crédito. Acho que uma lágrima escorreu dos meus olhos. TÃO longe e ao mesmo tempo tão perto.

- Eu posso fazer por vinte se for no dinheiro - a menina falou com um sorriso.

Eu sorri o maior sorriso da minha vida.

- De verdade? - meu coração batia forte.

- Sim - ela sorriu tirando a camiseta do cabide.

- Eu vou levar - falei enquanto tirava o dinheiro da minha calça. Algo no fundo da minha mente me falava que aquilo talvez não fosse uma boa ideia, mas estava fundo demais para eu conseguir escutar.

- Bom show - a menina falou enquanto se afastava.

- Valeu - eu (acho que) falei enquanto admirava a minha mais nova CAMISETA DO JÃO.

Segurei aquela belezura e comecei a andar. Sentindo o cheiro da pipoca o meu estômago roncou. Agora ele ia ter que aguentar até amanhã.

Coloquei a minha mais nova camiseta por cima da que eu estava e fui para a fila. As pessoas começavam a entrar no show.
Procurei meu ingresso e fiquei segurando ele apertado até chegar na segurança. Tudo estava acontecendo rápido demais para eu assimilar tudo

Aquilo não podia ser real. Eu entrei e fui procurar o meu lugar no fundo da platéia (bem longe do palco, por sinal).

A minha cabeça estava zonza de imaginar que daqui a pouco o Jão iria subir naquele show.

- Uau! A sua camiseta é linda - um menino do meu lado falou. Ele estava com uma camiseta escrito "Turnê lobos".

- Obrigada. Adorei a sua também - eu sorri e percebi que estava em um porto seguro, no lugarzinho onde todos amam o Jão - qual foi a sua primeira música do Jão?

E assim passei os resto dos momentos até o Jão entrar no palco. conversando sobre o Jão. Falando fatos aleatórios sobre o Jão.

Absorvendo vada detalhe de tudo ao meu redor. Do lugar onde o Jão logo iria estar.

Quando chegou perto da hora dele entrar ninguém nem mais conversava, só olhávamos pro celular para ver as horas.
Ele atrasou 20 minutos (e eu teria aguentado esperar 20 dias).

Todos começaram a gritar e era como se vibrássemos na mesma frequência. Na frequência dele.

A voz dele ecoava:

-*ORRA a gente se ama - e na hora em que eu fui gritar junto com a multidão percebi como minha garganta estava seca.

Com a cabeça mais zonza do que nunca eu começo a balançar a cabeça no ritmo da música.

E é então que tudo fica preto.

E é então que tudo fica preto

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Dúvida:
Você já desmaiou pelo Jão?
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