Único.

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Quem entrava de uma vez no quarto pensava que Taeyong era uma estátua, pois o Lee estava parado próximo à janela tão imerso em seus pensamentos olhando para o grande jardim lá fora que parecia uma — e ele estava tão perfeito com aquele terno preto que lhe caia tão bem. Foi isso que Yuta pensou quando entrou no quarto a procura do mais velho. Taeyong nem mesmo se mexeu ao ouvir a forma abrupta com que o japonês entrou no cômodo, continuou olhando para a equipe de decoração que colocavam as cadeiras em fileiras.

— Você veio. — Yuta falou após alguns minutos observando o Lee — Você realmente veio...

— Como eu poderia faltar ao casamento do meu melhor amigo? — Taeyong finalmente olhou para o mais novo. Sua feição era séria.

— Achei que estivesse numa viagem de negócios.

— Voltei mais cedo. — e voltou a olhar para fora.

Yuta ainda estava parado na entrada do quarto, sua destra ainda se encontrava sobre a maçaneta da porta. Ele também trajava um terno preto e seu cabelo estava puxado para trás com gel.

Ficaram em silêncio por um tempo.

Nakamoto sabia que deveria sair e deixar o outro sozinho, mas ele tinha perguntas a fazer para outro. Fechou a porta do quarto sem pressa e andou com passos hesitantes até ficar a um metro de distância do mais velho.

— Não está feliz em me ver, Yuta?

— Eu não esperava te ver aqui.

— Já falei que não faltaria o casamen-

— Achei que pelo menos uma vez você não fosse se torturar. — interrompeu a fala do mais velho. Taeyong não respondeu, apenas suspirou e abaixou a cabeça de olhos fechados — Como consegue fazer isso consigo mesmo? Já são anos nessa.

— Não sei do que está falando.

— Pare de fingir que não sabe do que estou falando.

O Lee encarou o mais novo por alguns segundos antes de perguntar: — E o que eu posso fazer sobre isso?

— Se liberte disso, Tae...

— Você acha que eu não já tentei? — a pergunta saiu alguns tons mais alto do que o normal — Eu já tentei diversas vezes, mas nada muda, eu continuo o amando.

— Então vai apenas assistir a pessoa que ama se casar com outra?

— O que eu deveria fazer? Me levantar quando o cerimonialista perguntar se tem alguém contra o casamento e tentar impedir? Não seja patético.

— Eu quero que pare de se machucar assim, Tae... — Yuta se aproximou mais, ele tinha uma feição triste e Taeyong não entendia porque o outro se importava tanto com aquilo.

Lee Taeyong era apaixonado por Kim Doyoung desde a época da faculdade, mas nunca contou nada para o melhor amigo e ninguém soube sobre sua paixão por anos, até que um dia o Lee bateu na porta de Yuta podre de bêbado falando algo sobre não aguentar mais sentir seu coração doer por causa do Kim. Naquele dia, o mais novo cuidou de Lee enquanto ouvia ele falar sobre sua paixão. Na manhã seguinte, Taeyong acordou com muita dor de cabeça e sem lembrar como havia chegado na casa do amigo, então Yuta lhe contou o que havia acontecido. O Lee ficou aliviado por saber que tinha recorrido ao japonês, pois ele era bom em guardar segredos.

Por todo aquele tempo Taeyong guardava seus sentimentos pelo melhor amigo.

— Não tem nada que eu possa fazer agora.

— Isso me irrita tanto. — Yuta falou baixo, mas audível. — Você vai viver o resto da vida assim? — Taeyong deu de ombros. Suas mãos estava dentro dos bolsos da calça e seus ombros caídos — Você ao menos tentou alguma vez falar para ele o que sente?

Taeyong suspirou. — Yuta, você lembra do dia em que me mudei para o estúdio?

— Sim, mas o que isso-

— Naquele dia todo mundo foi ajudar, certo? — interrompeu a fala do outro. Fechou os olhos e suspirou antes de prosseguir — Depois de anoitecer, todos vocês foram embora porque tinham outras coisas para fazer, mas o Doyoung ficou lá comigo, disse que não tinha nada pra fazer naquela noite. Ele pediu comida tailandesa pra gente e desceu para comprar um vinho naquela loja de conveniência da esquina. É engraçado como a gente nunca sabe o que pode acontecer, né? — Taeyong soltou uma pequena risada, mas não tinha nada de engraçado sobre aquilo — Depois que a gente terminou de jantar, ele pegou meu celular e escolheu uma playlist minha no Spotify. Mal ele sabia que era a playlist que eu tinha feito pra ele. Nós já estávamos um pouco bêbados e ele começou a me olhar de uma forma diferente, uma forma como ele nunca havia me olhado antes. Ele me beijou. — olhou para Yuta e o mais novo tinha seus olhos arregalados — Pois é. Eu nunca imaginei que aquilo poderia acontecer. Naquele dia, eu pude não só provar do beijo dele como também pude descobrir como era estar no calor dos braços dele.

— Vocês...

— Sim. Nunca consegui esquecer aquela noite... e a dor que ela me deixou. Quando ele me beijou eu me senti o homem mais feliz do mundo e por um momento eu tive esperança de que poderia ser recíproco. Eu fui tão tolo, Yuta... — a voz craquelada do Lee denunciava que ele segurava o choro — No dia seguinte eu acordei sozinho no colchão, por um momento pensei que tudo não tivesse passado de um sonho, mas tinha rastros da noite passada por todo canto... as caixas de comida tailandesa, a garrafa de vinho, meu celular ainda estava no aplicativo do Spotify... tudo estava no mesmo lugar, menos ele. Doyoung deixou um bilhete debaixo do meu celular dizendo que tinha que ir trabalhar, e não era mentira, mas eu sabia que ele estava arrependido de tudo. A gente não se viu por duas semanas, ele dava desculpas sobre o trabalho e eu não tive coragem de ir atrás dele e conversar. Aí um dia nos esbarramos numa cafeteria... eu tava com tanta saudade dele... Eu só fingi que nada tinha acontecido e agi normalmente, não aguentava mais não poder vê-lo e queria que tudo voltasse ao normal. Às vezes eu me arrependo, sabe? Às vezes acho que deveria ter falado alguma coisa, mas eu tive medo de que as coisas piorassem.

Taeyong fungou e limpou uma lágrima teimosa que escorreu sem sua permissão. Yuta ainda lhe encarava, não conseguia decifrar o que a feição que ele tinha queria dizer.

Alguns minutos depois em completo silêncio voltou a falar: — Eu o amo muito, Yuta. E dói. Dói pra cacete não ser a pessoa que vai ser casar com ele hoje, mas eu 'tô feliz por ele, apesar de tudo. 'Tô feliz porque ele sempre quis se casar e aqui estamos hoje. 'Tá tudo bem não ser eu, Yuta... ele 'tá feliz. Meu Deus, eu acho que nunca o vi tão feliz na vida e isso já basta pra mim. Acho que não há ninguém melhor que a Sejeong para fazê-lo feliz.

— Você o faz feliz, Tae...

— Eu sei. — Taeyong sorriu — Mas não da mesma forma que ela o faz feliz. 'Tá tudo bem. Eu o amo e por isso eu o deixei ir. É isso que fazemos, não é? Deixamos a pessoa que amamos ir para ser feliz.

Yuta nem havia percebido que estava chorando, mas era de se esperar, sempre foi um pouco (talvez muito) chorão para as coisas sentimentais, e naquele momento, vendo Taeyong sorrir para disfarçar seu coração quebrado, não pode evitar as lágrimas que queriam descer.

Lá fora estava começando a escurecer aos poucos e já tinha bastante convidados no jardim. Taeyong caminhou em direção à porta, mas parou antes de sair do quarto, Yuta continuava parado no mesmo canto.

— O casamento já vai começar, vamos.

E saiu.

no dia do seu casamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora