Eu não sabia porque o lápis tremia tanto. Por isso quase xinguei para que minhas próprias mãos parassem com isso.
Mas não falei nada, não enquanto os olhos dele estavam sobre mim ansiosos e ao mesmo tempo atenciosos.
- Fique bem parado, tudo bem? - Pedi com a voz calma, que graças aos céus não saiu trêmula.
Ele assentiu, me fazendo dar um sorriso de lado.
Ok, calma, concentração.
Suspirei e então comecei a fazer os traços no papel.
O contorno de um rosto fino mas ainda sim, exibindo um maxilar forte e atraente demais, principalmente quando seu rosto se virava um pouco, me permitindo observar mais de seu perfil.
Esboço o seu pescoço branco até os ombros em um traço mais escuro que o anterior feito a alguns dias atrás, que vestiam um suéter azul dessa vez. Um ótimo bom gosto para as roupas.
Parei nos ombros, já que não era um desenho de corpo todo que o professor tinha pedido.
Ainda bem.
Se caso isso acontecesse eu sentiria muito mais do que mãos trêmulas. Provavelmente as pernas, os braços, mãos. O coração - que ficava assim constantemente perto dele - tudo.
Que o professor nunca pense em passar um trabalho desses. Minha nossa! O que eu faria numa situação dessas? Quero nem pensar.
- O que foi? Está tudo bem? - A sua voz calma soa pela sala silênciosa do terceiro andar.
Olho para ele, sem entender a pergunta.
- Você suspirou tão alto. O desenho está difícil?
- Não - Balanço a cabeça - eu só estou... Nervosa.
- Porquê?
- Me pergunto se o professor vai achar esse desenho bom - Desminto um pouco - depois de alguns dias o fazendo começo a pensar, que talvez não seja o suficiente o que eu faço.
- Não diga isso - Pede com a voz firme - já vi seus outros trabalhos da faculdade, eu tenho certeza de que essa também vai estar ótima. Não se preocupe, você consegue!
Ele sorri confiante para me encorajar mais depois de suas palavras, e eu acabo sorrindo também me surpreendendo. Era bom se atingida por sua gentileza às vezes.
- E também - continua - você tem um dos melhores modelos desse campus, não podia ter escolhido melhor.
Eu revivo os olhos.
- Quanta humildade, me faz sentir mais lisonjeada do que já estou!
Seus olhos somem ao dar uma risada, isso se torna um ótimo som para os meus ouvidos, e uma ótima lembrança para minha mente.
- Agora, fique quieto, se não vou procurar outro modelo pelo Campus.
- Sim.
Me volto para a enorme folha a minha frente, terminando de preencher os cabelos que já tomavam forma na ponta de meu lápis.
De verdade eram curtos e pretos, e provavelmente sedosos dando um contraste muito bonito de sua pela branca. Com o costume de sempre cair sobre seu rosto, o fazendo passar as mãos entre os fios a quase toda hora.
Depois de muito tempo descobri que gostava de o observar fazer isso a maior parte do dia.
E de me imaginar fazendo o mesmo com as minha próprias mãos.
Me afastando desses pensamentos, termino rapidamente as suas sobrancelhas negras e expressivas fazendo um bom trabalho em deixá-las exatamente com eram.
Contornei mais seus olhos médios e puxados, dando uma profundidade e realismo a mais a eles ao brincar com os tons do grafite que saiam do lapis ao colocar um pouco mais de força nos dedos, me fazendo sentir ser observada duplamente. Pelo verdadeiro e pelo seu retrato feito por mim.
Espera, sem esquecer da quase imperceptível pinta que havia debaixo de seu olho esquerdo.
Eu sorrio sabendo que não poderia deixar isso de lado. Era mais um de seus charmes.
Passei a ponta no papel calmamente para não errar o nariz reto, complementando por suas bochechas cheias sem poder infelizmente pintar ainda a cor rosada que havia nelas. Cor que costumava aparecer nos dias mais ensolarados ou quando ele dançava como se não houvesse amanhã.
E finalmente, os lábios, também rosados e convidativos demais, que também não podia pintar ainda, mas apenas o contornar. Apenas.
Confesso que me concentrei bastante nessa parte, como se fosse uma obrigação e um dever, reproduzir essa parte de seu rosto exatamente como era.
A forma como eram cheios, bonitos e bem desenhados na realidade.
Olhei para ele que estava distraído com algo na sala de aula vazia, sem perceber como eu o encarava e me voltei para o desenho novamente.
Minhas mãos caem sobre meu colo segundos depois de terminar esse toque final.
Eu deveria estar feliz e satisfeita por ter reproduzido sua imagem, como ele era.
Bonito demais, porém não somente isso, mas alguém de olhos confiantes e gentis, que não denunciavam de forma alguma o seu jeito inseguro em muitos momentos aos outros. E os sorriso calmo em seus lábios rosados que costumava dirigir até mesmo para quem não conhecia, como se soubesse que um sorriso inesperado poderia fazer bem a quem quer que fosse.
Ter feito algo desse nível e com essa profundidade era um objetivo árduo e incrível que alguém poderia alcançar.
Só que eu não estava tão vibrante assim nesse momento, mesmo com a nota boa que poderia ter. Pois esse retrato significava o que já suspeitava desde a algum tempo.
Eu estava amando o meu melhor amigo, e não havia nada de bonito nisso. Somente um peso desesperador.
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A Short Story
FanfictionOne shot de uma história curta, feita por uma Army. Espero que apreciem, boa leitura!