Capítulo XXXVI ○ Jaebeom

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- Você sabe que vamos ficar lá só por uma semana, né? - Encaro Jinyoung e sua enorme mala, repousada tranquilamente em cima da cama do meu amigo, toda rodeada por uma pilha de roupas, dentro dela, há mais e mais roupas. Ele apenas me olha como se não entendesse, completamente confuso.

- Estou levando apenas o básico e necessário. - Dá de ombros, observando a mala e as roupas como se realmente não tivesse a menor noção do que significa básico e necessário. Tiro de dentro da mala uma luz noturna da Hello Kitty e um copo do Homem Aranha.

- Isso é necessário pra você?

- Claro! Eu tenho medo de escuro e amo a Hello Kitty, não durmo sem minha luzinha, ela me protege dos monstros. - Tento não rir, mas é quase impossível. Era engraçado como Jinyoung poderia ser completamente maduro em certas situações, mas parecer uma criança de 5 anos em outras.

- E o copo do Homem Aranha?

- É meu copo preferido, ora pois? O que você queria, que eu ficasse sem copo no meio do mato como um selvagem? Tenho princípios, Jaebeom. - Ergo uma sobrancelha, sarcásticamente, Jinyoung não cansa de surpreender.

- Tenho certeza que tem copos no acampamento, Jinyoung.

- Tá, mas são copos do Homem Aranha com tampa oca pra guardar biscoitos e canudo que não mata tartarugas?

- Todos os copos fazem a mesma coisa.

- Mas nem todos são legais! Eu preciso do meu copo do Homem Aranha, é essencial. - Ele pega o copo e a luzinha que ainda estavam na minha mão e devolve para a mala. Volto a olhar lá dentro e tiro mais dois objetos, erguendo na altura dos olhos para que eu e ele olhassemos bem.

- Uma bola de meia e um guia de sobrevivência a naufrágios? - Ele tira a bola de meia da minha mão, abraçando contra o corpo de forma carinhosa, só ai percebo que a bola tem olhos e uma boca, era uma bola de meia, mas tinha um rosto.

- Esse é o senhor felpudo, fiz ele quando tinha 6 anos, não consigo dormir sem ele, por favor, tenha respeito. - O olhar que ele me lança é assustador, mas é completamente prejudicado pela imagem dele abraçando a coisa de meia. Ele tenta ser mal, mas eu continuo vendo uma criança de 5 anos.

- E o guia?

- Nós podemos naufragar.

- NÓS NEM VAMOS ANDAR DE BARCO! - Exclamo, sem realmente saber, mas mesmo que nós andasse-mos de barco, duvido muito que precisaríamos de um guia de sobrevivência a naufrágios, porque nós provavelmente nem iriamos naufragar.

- Sou uma pessoa prevenida. - Devolvo o guia para dentro da mala, bufando e sem vontade de discutir, e pego mais três coisas de dentro da mala, três coisas que definitivamente não tem nenhuma utilidade. Jinyoung as encara com um sorriso, como se aquilo fosse completamente normal.

- Sério, três barbies mosqueteiras?

- É meu filme preferido da barbie.

- Ok, mas é essencial para levar PARA O MEIO DO MATO? - Ele dá de ombros de novo, me fazendo atirar uma das barbies bem na cabeça dele, ela cai na cama logo depois e Jinyoung me encara puto da vida.

- E se por acaso o senhor felpudo quiser fazer uma festa de chá? As barbies são as colegas de chá dele. - Observo dentro da mala e vejo pequenas xícaras de chá. Certo, essa é minha deixa pra tentar parar de entender.

- Ok, eu duvido que isso aconteça, porque essa coisa é uma bola de meia sem vida, mas não vou discutir, porque não estou com vontade de entrar na sua onda de loucura.

- Onda de loucura? ESTOU LEVANDO APENAS O ESSENCIAL!

- Claro Jinyoung, as barbies vão salvar nossas vidas com suas mini espadinhas caso um urso invada nossa cabana no meio da noite, OU MELHOR! Se por acaso nos perdermos no mato, sua luzinha da Hello Kitty magicamente pode nos guiar de volta para o acampamento, ah, pera, ela não funciona sem energia, que erro fatal, não é mesmo? Mas tudo bem, pelo menos não morreremos de sede porque vamos ter seu lindo copo do homem aranha que tem espaço pra biscoito e não mata tartarugas, yupiii! Oh, e se um leão da montanha aparecer, podemos jogar sua bola de meias pra ele brincar como se fosse um gatinho adestrado, e o guia de sobrevivência a naufrágios vai ser muito útil quando nossa jangada feita de troncos de árvores afundar no meio do rio que nem existe, e se nós ficarmos com vontade, podemos até tomar um chá antes de morrer. - Tento soar o mais irônico o possível, mas o sorriso de Jinyoung nem se abala, ele REALMENTE MESMO acha que todas essas coisas são essenciais, provavelmente até pensa que tudo o que eu falei pode mesmo acontecer.

- Que bom que você entendeu. - Ele sorri mais ainda e devolve tudo para a mala, eu conto até 10, tentando lembrar que assassinato ainda é crime e que se eu for preso eu não vou conseguir me tornar um magnata rico dono de uma rede de hotéis chiques que cobram centenas de dólares até por uma lata de coca cola. - Espera, tem ursos lá?

- Sei lá, Jinyoung, deve ter, é o meio do mato. - Ele arregala os olhos, então vai correndo até a escrivaninha perto da janela e procura alguma coisa dentro de uma das gavestas, quando acha o que procurava, vem até mim parecendo aliviado.

- Que bom que você me avisou antes de sairmos. - Ele diz, realmente agradecido, então eu respiro fundo antes de perguntar, não tendo certeza se realmente quero uma resposta.

- Qual o item absurdamente essencial você vai levar dessa vez? - O sorriso dele aumenta, então ele me mostra o que tem em mãos, franzo a sobrancelhas antes mesmo de ouvir sua resposta.

- Spray de pimenta contra ursos. - Seguro a latinha nas minhas mãos quando ele joga a lata para mim, e então rio, completamente abismado com toda essa situação.

- Não sei se fico mais chocado com o fato de existir um spray de pimenta para ursos ou com o fato de esse ser, de todos os itens dentro da mala, o mais útil que eu vi até agora.

- Você pode fazer os dois, eu acho. - Ele dá de ombros novamente, pega o spray, joga na mala e depois a fecha sem esforço nenhum. E é assim, amigos, que Park Jinyoung planeja sobreviver a uma semana no meio do mato.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora