CAPÍTULO V

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Olga acordou. Estava banhada pelo azedume lamacento da estrada tortuosa que se estendia à sua frente. Enquanto tentava se desprender do lodo presente em suas canelas e antebraços, começou a lembrar do que havia ocorrido, e então questionou-se sobre como havia parado naquele local. Com relampejos de memória, recordou-se da mulher que havia estado em sua casa. Nesses relances de pensamentos realçou em suas lembranças o fato dela ser tão bela, tanto até certo ponto angelical.

Com a consciência fraca, fixou os olhos atrás, para então saber por qual caminho viera. Viu na imensa estrada de terra, adornada por árvores longas e finas, rastros monstruosos que seguiam até seus pés sujos. Não acreditou, jamais poderia crer que ela deixaria tal marca de destruição, e que vinha de tão longe, até porque era de uma estatura baixa e assumia até certa aparência raquítica. Entretanto não haviam dúvidas, havia sido ela, o que inclinou-a a fazer outro questionamento, pois como havia chego até ali sem nada lembrar-se? Era tudo muito estranho e incoerente para a jovem Olga, que contentava-se em apenas continuar parada fitando o topo do morro onde a estrada passava e com que ela estava prestes à chegar.

Nem ao menos sabia se estava longe ou perto de casa, o que lugar era aquele em que agora se encontrava. Nunca havia ido muito longe de casa, com exceção de poucas ocasiões festivas, com certeza agora alcançava uma distância máxima jamais antes percorrida.

Sem muitas opções do que fazer, sentou-se no lodo, às ancas, já não se importando com seu estado físico, e desabou sobre choros, implorando silenciosamente à Deus que lhe guiasse de volta para casa. Contudo não foi seu Deus que lhe respondeu quando uma repentina e violenta ventania soprou acima das árvores. Olga levantou o rosto avermelhado pelo choro e observou a copa das árvores penderem ao vento imprevisível. A magia desse ocorrido comum lhe tomou de forma incomum, e para a direção em que os ventos sopraram fez-se nela presente uma forte atração por tal.

Apontavam para o topo da elevação onde já estava quase chegando. Não haveria mal algum em ir até lá, como julgou, então assim fez. Com um passo acelerado alcançou o topo do local em poucos instantes e então observou a sombria paisagem que ilustrava aquele horizonte. Havia lá uma imensa planície inalterável por exceção de um detalhe, pois no meio dessa bela vista havia um imenso castelo que talvez realçasse ainda mais a beleza de tal, contudo exalava uma emanação incrivelmente sombria mas que de alguma forma atraiu a jovem, essa que correu pela estrada em direção à edificação. Notou depois que havia um rio que passava rente ao castelo, pelos fundos, e depois continuava seu curso ininterrupto.

A distância era longa para chegar até onde queria, entretanto nesse percurso não fraquejou, nem ao menos pegou-se pensando demasiadamente. Era tomada por aquele sentimento sanguíneo a cada passo que dava a mais, e com isso também provou-se que os ventos inconstantes transmutavam-se em imensas correntes de ar que assolavam a planície, contudo isso não foi um empecilho para impedir Olga de continuar rumando ao seu destino.

Possivelmente foi compassada uma metade hora para que ela chegasse ao determinado local, e ao realizar tal feito poder apreciar a exuberância do local de perto. Caminhou ao redor do castelo, meio ofegante, vendo como era maravilhosa e misteriosa a grande edificação. Por aquelas vielas perseguiu uma imensa mata de vinhedos, e na luz da lua viu o que julgou ser celas de calabouços à beira da estrada. Logo ao lado havia uma imensa escada que levava até uma porta acima. Quando estava prestes a tomar esse caminho escutou uma voz profunda e vagarosa sendo emitida do fundo da cela ao lado. "Então você é a próxima vítima".

Era de cunho grave e sonoro, tanto que fizera Olga dar um passo atrás e retomar sua lucidez. O susto foi tamanho que ela então passou a questionar suas ações. Percebeu como viera até ali apenas pela força do instinto, ignorando outros sentidos que a alertavam de um iminente perigo. Desolada, passou longe da escada e da cela, passando a caminhar rente ao caminho de vinhedos que desembocava em uma clareira maior logo à frente.

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