Os dois dias que passamos trancadas nesse lugar repulsivo arrastaram-se em um ritmo tedioso e desanimador. A ausência de nossos captores parecia persistir, como se tivessem nos abandonado à Deus dará. Nenhuma migalha de comida, nem mesmo a cortesia de um balde d'água foi oferecida. Apenas nós duas, Amber e eu, e o abandono de nossos sequestradores.
Cretinos psicopatas!
A única "água" disponível era a condensação escorrendo pelas paredes de pedra quando chovia. Era repugnante? Muito! Quando voltar pra casa vou passar em uma farmácia e vou tomar um monte de remédios para vermes. Eca.
A nossa cela é muito suja, podre para ser sincera na avaliação do lugar. Apesar das belas pedras de obsidiana e a curiosa estátua, o local era uma verdadeira merda.
No nosso primeiro dia, Lindinha e eu, planejamos uma tentativa de fuga, sabendo que provavelmente não teríamos sucesso. Mas era uma forma de passar o tempo, de dissipar a raiva fervilhante que ameaçava me consumir. A ansiedade também não era uma grande companheira, fazendo com que eu me levantasse e me sentasse inúmeras vezes, e pressionasse meu tornozelo inchado em busca de alguma dor – um tipo diferente de estímulo para a ansiedade. Precisava sentir alguma coisa e a dor no tornozelo estava me ajudando a não pensar em toda a maluquice o que aconteceu com a gente.
O tempo parecia se arrastar em passos lentos aqui dentro.
Amber estava em uma espécie de negação, seus soluços ocasionais quebravam o silêncio. Falamos sobre trivialidades, discutindo sobre do clube de dança e as fofocas sem relevância alguma. Uma tentativa fútil, mas necessária, de aliviar a tensão, um meio para passar as horas intermináveis deste maldito lugar.
Minha barriga roncou alto em protesto contra o estômago vazio, ecoando através do silêncio. Fazendo Amber gemer de fome em concordância.
— O que eu não daria por um sanduíche do McDonald's e um milk-shake de chocolate com cobertura de caramelo... — Ela lamentou, segurando as grades da cela com mãos trêmulas e olhando para o corredor com um ar de desejo.
— Tome cuidado com o que diz, Lindinha. — Tento acalmar meu próprio estômago roncando com um sorriso amargo. — Estou a um passo do canibalismo, e a única pessoa disponível aqui é você. Então, por favor, não me tente falando sobre comida agora.
Um sorriso triste apareceu em seus lábios enquanto ela se sentava ao meu lado, passando seu braço no meu.
— Docinho, você acha que eles vão nos matar de fome? — Ela perguntou em um sussurro, sua voz fraca denunciando o medo. — Eu estava pensando... será que eles de alguma forma conhecem o papai e estão fazendo isso tudo para conseguir algum dinheiro dele? Sei que ele não pouparia esforços para nos salvar, mas também acho que se esse fosse o caso, esses homens que nos abandonaram aqui teriam sido um pouco mais gentis conosco.
— Talvez sim, talvez não... — Minha voz vacilou. — Não consigo prever o que passa na cabeça desses monstros. Mas algo me diz que se eles quisessem nos matar, já teríamos sido jogadas em uma vala qualquer. — Virei-me em direção à porta de ferro, as grades frias sob meus dedos. Minha voz ecoou pelo corredor. — Ei, seus idiotas! Mostrem um pouco de senso! Se estão pensando em sequestrar alguém, deveriam pelo menos saber que as pessoas precisam de água e comida para sobreviver! Estamos com fome aqui!— Quando não houve resposta , continuei. — Venham logo seus vagabundos!
Minhas palavras foram respondidas com um silêncio novamente. Nenhum som vinha dos corredores, nenhum sinal de vida além da nossa própria. Apenas a luz do meio-dia atravessando por entre as grades.
— É. — Suspirei, voltando-me para Amber. — Retiro o que disse lindinha. Eles com certeza vão nos matar de fome, mas veja pelo lado bom. Eu posso começar minha dieta do canibalismo pelas suas pernas, o que acha disso?
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MAIS ESCURO DO QUE A NOITE
FantasíaNo ponto mais turbulento de suas vidas, as Irmãs Benvill - Angeline, Amber e a perspicaz Violet - veem seu mundo familiar virar de cabeça para baixo. Uma tragédia inesperada não apenas balança as fundações de sua existência, mas as transporta para u...