O banquete se finda. Eu ainda estou de pé, processando o que acabou de acontecer. Tiberias me apresenta mais uma vez para os nobres. Quer deixar muito bem impregnado na mente de seus aliados que o seu poder não só está nas chamas, mas como também está no sangue de sua família. Guerreiros. É isso o que eles são. O que nós somos. Há orgulho em sua voz. O mesmo tom que usa quando fala de Cal. Por causa disso, me sinto péssima por Maven.
Olho de relance para o príncipe esquecido. Quero que ele levante comigo. Quero me sentir segura perto dele. Mas ele não o faz. Prefere ficar quieto em seu canto. Maven me mostra apenas um sorriso pequeno, porém significativo demais para mim. Estou muito feliz por você.
Retribuo o gesto, mas não por muito tempo. Mais palmas, mais ovação. Me sinto pequena diante de uma corte tão grande. Me sinto fraca quando, na verdade, deveria estar forte para aguentar tudo isso.
- À minha filha!
A corte brinda pela última vez. Eu não estou suportando mais isso. Tem que acabar, por favor. Tiberias percebe o meu olhar incômodo e, enfim, anuncia que o jantar acabou. As cadeiras se arrastam enquanto os nobres se levantam de suas mesas. Uma fila de cores vibrantes desloca-se pela saída do salão. A família real e eu não ficamos para trás. Tiberias e Elara saem primeiro, descendo pelos pequenos degraus que nos separou dos outros durante o banquete inteiro. Depois, o novo casal real, Cal e Evangeline. Por último, Maven se levanta. Se eu estivesse mais distraída teria ficado para trás. Para minha sorte, o príncipe me cutuca a tempo.
- Senhorita? - Ele me estende o braço.
Preciso de apoio para seguir em frente até os quartos. E nada melhor como uma boa companhia para me levar lá. Com um sorriso genuíno no rosto, enlaço os nossos braços e vamos atrás dos outros.
- Você se saiu bem - Maven sussurra ao adentrarmos um longo corredor. - Muito bem.
- Eu sei... - Existe uma mistura de emoções em minha voz. Não sei se estou aliviada por ter sobrevivido ao banquete ou se me sinto culpada pelo dircurso. Tentei ao máximo soar como uma prateada. Mas nunca pensei que poderia chegar tão perto de me transformar em uma.
- Não precisa se acanhar. Você vai se acostumar. Um dia, quem sabe.
Dobro a língua para não falar mais nada além do necessário. Não quero magoá-lo ao usar palavras duras contra ele. Maven, mesmo sendo um garoto forte, dá a impressão de que quebrará a qualquer momento. Não, Maven, jamais irei me acostumar.
- Tomara.
Caminhamos o trajeto inteiro de braços dados. Finjo não perceber quando a rainha Elara tenta não virar completamente o rosto para nos observar. Ela quer ficar de olho, ver se não estou abrindo a minha boca para mais ninguém. Mas a única pessoa na qual eu realmente estou me amparando, mesmo que discretamente, é com o seu filho querido. Elara não tem o que temer. Ainda não.
Andamos pelos longos e enormes corredores até, finalmente, pararmos em frente aqueles que nos levarão diretamente para os quartos. Isso é um grande baque para mim. Ontem mesmo eu dormia naquele quartinho miserável nos cantos mais profundos do Palacete. Hoje, ainda que seja de mentira, dormirei num dos melhores aposentos deste lugar. Duvido que eu possa adormecer tão fácil. Com certeza a maciez da cama vai me engolir antes mesmo de eu me adaptar. Não que minha estadia dure muito tempo.
- Tudo correu bem - diz Elara, quebrando o silêncio. Vejo que até ela ficou tensa, escondendo esse sentimento sob a máscara sorridente e muito bem polida. Liberto meu braço do de Maven. Sinto um frio estranho depois deste gesto. - Levem as meninas ao quartos. - Não preciso perguntar para quem a rainha dá tal ordem. Quatro sentinelas assustadores saem de suas formações com o intuito de nos acompanharem aos aposentos.
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A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]
FanfictionE se a vermelha que caísse na arena da Prova Real não fosse Mare Barrow, mas sim uma outra sanguenova tão forte e poderosa quanto? Uma garota com poderes de ardente que é capaz de criar as suas próprias chamas? Essa é a história de Ravenna Sylvester...