Capítulo 14

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ANA ESTAVA paralisada. Mal conseguia falar qualquer coisa. O armário dourado tinha o interior completamente forrado de veludo e bordado com linhas douradas que espiralavam por todos os lados. Em prateleiras altas, potes de vidro e cristal guardavam pérolas, folhas, flores, algo que podia jurar serem escamas de dragão, pós brilhantes e outras maravilhas.

Em compartimentos acoplados às portas, rolos de pergaminho cintilantes, garrafas com líquidos de cores absurdas, selados com cera cintilante e pedras furta-cor como tampas e velas coloridas faziam seu próprio encanto e opulência. Ela só queria ver e tocar tudo, descobrir as propriedades mágicas daquele novo mundo, mas se conteve.

Ou pelo menos até ver o que guardava o fundo do armário.

- Ah meu... - foi tudo que conseguiu dizer, antes de suspirar diante das belas armas que se encontravam ali.

Clarisse deu um risinho convencido, orgulhosa, como se estivesse vendo as próprias posses pela primeira vez.

Três belas espadas longas se encontravam presas por ganchos dourados. A primeira, de dois gumes, possuía uma gravura de rosa no metal, com um pomo de madrepérola; a segunda, um florete, era fina e pontiaguda, com um punho dourado e delicado; a terceira, uma katana, possuía um punho cilíndrico cintilante como poeira estelar, com cinco pequenos e delicadamente lapidados diamantes fazendo uma fileira em sua lâmina.

Na gaveta de vidro próxima a seus pés, diferentes tipos de adagas, das mais delicadas até as mais afiadas e longas, se apresentavam.

- Isso é incrível. - conseguiu dizer, depois de uma eternidade boquiaberta.

Olhou para Clarisse, que já pegava dois pequenos vidros coloridos lacrados com rolhas de cristal. Apanhou uma bolsa simples de veludo preto e ofereceu para que a menina segurasse.

- Primeiramente, isto - indicou o frasco com uma fita vermelha, contendo um líquido cintilante e furta-cor. - é a espuma que me viu usando mais cedo. Vai precisar para se livrar desses verminhos de menor porte.

A menina assentiu, achando a garrafinha pequena demais. Mas Clarisse pareceu ler seus pensamentos.

- Não se preocupe, rende mais do que parece. - e sacudindo o outro frasco, acrescentou: - Este é um bálsamo para pequenas feridas. Basta espalhar um tantinho e dizer "Aoda". Vai parar de doer o suficiente até que encontre uma curandeira.

Ana pegou o recipiente e observou o creme leve e violeta. Parecia ter pequenas partículas de ouro e, a esta altura, não podia duvidar.

- Obrigada - disse, colocando tudo dentro da bolsa. - Você é... Cheia de surpresas, não?

- Nem tantas, querida - a senhora balançou a cabeça, com um sorriso falsamente modesto. - Agora, escolha uma arma para acompanhá-la na viagem.

- Oh... - embora estivesse tentada, Ana não podia perder o bom senso. Já estava no limite e mal começara a jornada. - Sinto muito, eu preciso economizar para o resto do caminho...

- É um presente. - Clarisse disse, como se não entendesse.

A mulher só podia estar louca. Tudo aquilo deveria custar uma fortuna!

- Me perdoe, eu não posso aceitar. - a menina disse, com um sorriso sem graça. Todos aqueles presentes em menos de uma semana... Absurdo para dizer o mínimo.

- Não pode andar por aí desarmada. Considere um presente por ter tomado chá comigo.

Ana ergueu a sobrancelha. Aquilo não podia ser verdade. Tinha algum preço, alguma condição. Deveria ter um preço.

Aurora | Adhara: Deraia - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora