Capítulo 8 - Distanciar ⊽

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LIANA

— Acabou mesmo, Tom. A cena. Tudo. Nunca mais quero olhar na sua cara. — Despejei as palavras, com o meu coração sangrando, quase passando mal.

Arrependida, eu não podia acreditar que, cedendo a um impulso que beirava à loucura, havia vindo à boate e que, agora, estivesse tudo acabado entre a gente.

Uma amizade de quinze anos!

— Porra... — Tom murmurou, sem reação, deixando o corpo cair na poltrona.

— Só me confirma um detalhe... — pedi, com a voz trêmula. — Você sabia que era eu quando entrei por aquela porta, ou descobriu ao longo da cena?

— Eu já sabia, Li. — Arriscou me olhar com aqueles olhos verdes que transformavam as minhas pernas em gelatina. — Antes mesmo de você entrar pela porta.

Meu coração se quebrou ainda mais com aquela resposta.

Pensando em como lhe falar algo que eu sentia, mas que não sabia bem como exprimir em palavras, simplesmente enxuguei as lágrimas e entrei no banheiro, pegando as minhas roupas para as vestir.

Ao retornar para o quarto, eu o encontrei na mesma posição, sentado, ainda completamente nu.

Como eu poderia voltar a olhar nos olhos do meu melhor amigo? Com ele sabendo que era eu, Liana, durante toda a porcaria da cena?

— Você me enganou. Agora me sinto suja, com nojo de mim e de você — falei, me posicionando ao lado da porta, com o coração disparado, ansiosa para ir embora. — Você se aproveitou do que eu sentia por você, Antônio. Nunca esperei que me enganaria assim.Você me manipulou, me humilhou... Me fez falar, até mesmo, que eu queria te tocar. "O quanto deseja me tocar?", você perguntou, sabendo que era eu! Como pôde? Seu narcisista sem escrúpulos...

— Espera um pouco. Que eu me lembre, foi você quem marcou o nosso encontro. Sabia que eu era o Tyr, e ainda assim se escondeu por trás do pseudônimo da Lilith. — Ele se levantou, impassível, vestindo o roupão que havia deixado no encosto da poltrona. Seu olhar faiscava, irritado. — E, sejamos francos, não fui o único a esconder as verdades. Ou pensa que não a reconheci aqui na Saint Martin, na terça passada, assim você que pisou na sala de exibicionismo?

Sua fala revirou o meu estômago. Mais uma vez, lutei contra a vontade de vomitar. Céus... Ele havia me reconhecido naquele dia e, ainda assim, fez sexo com a mulher na minha frente! E desfilou pelo salão interagindo com aquelas submissas e, o pior, com a escrava!

— Meu Deus... Você sempre soube! — Balancei a cabeça, incrédula. — Só falta me falar que planejou tudo isso, que deixou o cartão de propósito, e...

Me interrompi ao perceber, pelo seu olhar duro, que era exatamente aquilo.

Tom tinha agido de caso pensado.

De repente todas as peças foram se encaixando na minha cabeça, com a tristeza e a mágoa dando lugar à incredulidade e à indignação. As suas frases de duplo sentido. A sua irritação na madrugada que apareceu no meu trabalho. A sua tentativa de me fazer ajoelhar, no banheiro de casa, e...

— Ah... Mas é claro que planejou! Seu desgraçado... Como fui inocente, ingênua, burra! Mas prefiro ser ingênua do que ser podre como você! Você sempre foi frio, manipulador, mas desta vez passou dos limites! Como teve a coragem de me fazer ver aquelas cenas? Você transando com aquela mulher, com toda a plateia ao redor e, depois, tendo os pés beijados por aquela escrava! As imagens me perturbam até hoje!

— Liana, por favor... Sexo, fetiches, fantasias. Grande merda. Somos todos adultos aqui na Saint Martin. Adultos bem resolvidos, com hormônios e desejos — disse, dando dois passos na minha direção. — Foi o desejo que sinto por você que me fez querer lhe mostrar o meu mundo. E foi o desejo você sente por mim que a fez vir aqui. Desejo recíproco, que nos consome há anos. Há anos, porra. E eu não lhe obriguei a nada. A nada! Então, por favor, não se faça de vítima. Chega de drama.

Amor Por Uma Noite [RELANÇAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora