Para Sempre No Meu Coração🔞‼️

Capítulo 49

Augusto sentiu o sangue fugir de suas veias diante dos relatórios apresentados pelo filho. Seus olhos corriam as frases atentamente e as palavras eram processadas com rapidez na mente treinada. O silêncio, aliado ao tempo de leitura, era angustiante para o casal dentro daquele escritório. Dany tremia por dentro, caminhando de um lado para outro com as mãos envolvendo os braços. Vítor se mantinha, em pé, ao lado do pai e também tinha as feições apreensivas.
De vez em quando, Augusto levantava a cabeça e através das lentes dos óculos, procurava encontrar os olhares relutantes da nora e do filho.
O dossiê feito por um grande especialista na área de investigação, não deixava dúvidas sobre a veracidade do que ali se apresentava. Toda a vida pregressa e mafiosa de Celeste estavam naqueles documentos. As fotos anexadas ao dossiê o deixavam de queixo caído.
Como pode se enganar tanto com ela? Como se permitiu ficar tantos anos com uma mulher assim? E pensar que perdera o amor de Lizandra...a filha que ela carregou no ventre por cinco meses...  
Ele jogou a cabeça violentamente para trás, amargando o que tinha feito com sua vida, com a vida de Lizandra e agora, com a vida do filho. Não poderia exigir nada de Vítor! O filho estava fazendo o que deveria ter feito há 22 anos, assumindo sem medir as consequências a mulher que amava! Como poderia pedir que ele não fizesse isso? Se ele, Augusto, um advogado renomado empossado num cargo político pelo voto da sociedade, tinha desposado uma bandida? A dor dos olhos de Lizandra, vieram em sua lembrança, quando cuidadosa, temendo sua reação, contou que se tratava de Celeste, a dona da voz, que por anos assombrou seus pensamentos, como sendo a mandante do crime que vitimou o bebê e que por sorte, não conseguiu matá-la também.
Lizandra amargou calada esse tempo todo aquele sofrimento! Só alguém com um coração de anjo, poderia pôr em primeiro lugar a felicidade de quem ama, em detrimento a sua dor. Liz havia contado a verdade sobre aquela noite, num encontro em Porto Alegre há alguns meses.
Ela fora convidada para palestrar num fórum sobre educação de uma faculdade local e como não poderia deixar de ser, acabaram jantando juntos. No meio de uma conversa, inevitavelmente, falando de passado e sentimentos, ela revelou o segredo que assombrava sua vida desde aquela tardinha no bosque de pinheiros da Universidade. Ele se abriu, lamentando ter provocado sua própria infelicidade ao pedir Celeste em casamento, por puro orgulho e Lizandra, então, só se achou com coragem para contar quando ouviu de sua boca que ele nunca havia lhe esquecido.
Celeste era uma bandida! Um ser nojento e asqueroso, sem um mínimo de escrúpulos!
Num gesto desesperado, jogou a pasta sobre o vidro da mesa do escritório, escondendo o rosto sob as mãos.
___ Desgraçada! Assassina! - a voz raivosa ecoou pelo escritório fazendo Dany arregalar os olhos.
Involuntariamente, segundos após, a voz soou embargada. Um tom de arrependimento profundo podia-se notar nas palavras do padrinho dela.
__Mas tenho minha grande parcela de culpa nisso tudo! Se vocês soubessem o que fiz da minha vida e o que provoquei, na vida de quem eu amava, com as minhas escolhas, sentirão raiva e nojo de mim também! Meu Deus, se pudesse voltar no tempo! O orgulho destruiu o que poderia ter sido algo muito precioso!
Cautelosamente, Vítor o chamou ao perceber que ele soluçava. 
__ Pai, eu sinto muito. Sei que isso é muito duro para o senhor, mas não restou outra alternativa. Ela ameaçou Danyelle! Não posso deixar as coisas assim. Dany é  a mãe da minha filha...a mulher que amo mais que minha própria vida!
Dany também estava sensibilizada, nunca tinha visto o padrinho tão transtornado.
___ Padrinho...depois do que descobrimos dela, temo por mim e por Alice. Na madrugada, em que fui embora... ela me ofereceu o tal dinheiro que sumiu. Não o roubei, eu juro! Se tivesse aquele dinheiro em mãos, não teria cometido a loucura de me expor naquela boate.
Sem coragem para encará-los, Augusto ainda tinha as mãos cobrindo o rosto.
Vítor se aproximou do pai pousando a mão  com firmeza em seu ombro, o consolando.
___ Dany só está viva porque não aceitou os contatos para empregos que ela queria lhe dar. O objetivo era que ela caísse na teia da quadrilha que alicia garotas e levá-la para um outro país, como escrava sexual, assim como fez com muitas!Os relatórios das investigações apontam para isso. Ela lida com gente muito perigosa!
Augusto esfregou as mãos no rosto, desesperado, levantou e limpou os vestígio que ainda restavam das lágrimas. Vítor se preocupou pela sua saúde. Ele estava muito pálido.
__ Pai, aonde vai?- indagou com ele já saindo na porta. __Está se sentindo bem? 
Augusto parou, respirando para se acalmar. Parecia sufocado com as revelações.
__ Chamar Lizandra. Ela, mais do que ninguém, merece saber desse dossiê! Lizandra foi vítima dessa assassina que chamo de esposa!
Vítor e Dany se olharam com ares de interrogação ouvindo a porta fechar. Vítor estendeu a mão, num convite para um abraço, assim que o pai saiu.
___ Tudo vai acabar bem, assim espero. Só não podemos deixar que Celeste desconfie de alguma coisa nesses dias a frente.
Dany o enlaçou pela cintura, procurando proteção no calor do seu corpo.
__ Não vejo a hora disso tudo acabar. O que tem Lizandra a ver com isso? A conversa do padrinho, mais cedo... Ele chamou ela de assassina.... Celeste também prejudicou Lizandra!- concluiu, sentindo um arrepio subir por sua espinha.___ Sua madrasta me mete medo! Só irei me tranquilizar quando ela estiver presa!
___ Não sei onde a filha de Rute se encaixa nessa história, mas logo vamos descobrir! - puxou o ar e soltou pelas narinas para aliviar a tensão. ___Eu e meu pai somos advogados, esqueceu disso?- acariciou seus cabelos.__ Sabemos exatamente os passos que devemos tomar. Celeste não sairá impune!
__ Mas a imagem do padrinho, de político,  como vai ficar nesta história?
__ Então, já tenho algo em mente que discutirei com ele mais tarde. Se tudo der certo, a imagem dele sairá mais forte dessa história toda! Só quero que se acalme, que mantenha os olhos abertos sobre Alice nesse feriado! Não sabemos até onde a ganância e a maldade de Celeste e a filha podem chegar. Priscila é outra que o trem não pega na curva! Não vale muito!
___ Pode deixar, vou recomendar Nanete também. Ela é de extrema confiança, cuida dela desde que comecei a dançar na Butterfly.  Ela gosta muito da nossa filha!
Vítor a apertou mais, deslizando as mãos por suas costas, num gesto para passar confiança.
___ Difícil alguém não se apaixonar por Alice. Cada dia eu agradeço por ter tido a chance de conhecê-la.
A conversa parou com a chegada de Lizandra acompanhando Augusto. Ela sorriu sem jeito para o casal abraçado.
___ Só quero avisar que vim contra minha vontade. Foi insistência de Augusto! Não quero deixá-los constrangidos porque o assunto é particular.
__ Nada disso, Liz! Esse assunto diz respeito a você também! - Augusto afirmou, mostrando a cadeira em que deveria se sentar.
Lizandra estava ansiosa e isso transparecia em seu olhar. Sentou-se cruzando as pernas. Vítor foi o primeiro a falar, enquanto o pai se acomodava atrás da mesa e Dany puxava uma poltrona mais para perto deles.
__Não se sinta assim. Se meu pai quer que fique sabendo do que descobrimos, sei que 'deve ser por um bom motivo. Em breve, o que estamos conversando aqui, será noticiado em rede nacional, pode ter certeza!
Ela desviou os olhos do filho, se fixando na pessoa do pai.
__ Estou ficando curiosa e admito, um pouco assustada, Augusto!
O padrinho de Dany juntou a pasta.
__Por favor Danyelle, alcance para que ela leia. 
A afilhada obedeceu imediatamente o pedido e Lizandra correu os olhos pelo papel grosso com as letras garrafais do título, fazendo ela juntar as sobrancelhas.
__ Um dossiê?- abriu e seus seus olhos dançaram sobre os subtítulos, fazendo sua boca rosada se abrir num O.__ Isso é sobre Celeste!- levantou a cabeça.
Augusto explicou:
__ Sim, Liz, é sobre ela. Acredito que ao ler o que está escrito aí, não vai se surpreender muito. Isso acrescentará no julgamento que faz da minha esposa.
Vítor sentou na guarda da poltrona, passando o braço por cima dos ombros de Dany e ela segurou sua mão. Precisava de força. Sua intuição lhe dizia que Celeste tinha feito coisas bem piores à Lizandra e se não fosse assim, seu padrinho jamais, a chamaria para expôr aquele dossiê.
Ela começou a leitura, enquanto era observada pelos três pares de olhos. Augusto, em certos momentos, não era capaz de sustentar o olhar de dor que Lizandra lhe lançava. Inevitavelmente as lágrimas começaram a cair e ela entregou a Vítor a pasta. 
__O que li já me basta pra trazer todos os meus pesadelos de volta!
Dany se compadeceu. Lizandra tinha perdido a cor da face, seus olhos se derramavam e ela tremia sem conseguir se conter. Dany levantou, se acocorando ao seu lado, segurando sua mão.
__ Lizandra, seja lá o que for, se quiser nos contar...Será de suma importância para pôr essa mulher na cadeia. - olhou para o padrinho, cobrando.__ Assegure a ela, que tudo o que está escrito aqui será denunciado, padrinho!
__ Lizandra tem a minha palavra, já disse isso numa outra ocasião.- garantiu.
__ Quer conversar em particular com Danyelle, Lizandra?- Vítor indagou.__ Talvez, se incomode de contar assim, tudo o que aconteceu na minha presença.
__ Não em absoluto! Vou contar tudo! Vocês só vieram a acrescentar no que já pretendia fazer. Não tenho do que me envergonhar. Guardei segredo por muitos anos. Isso me corrói a alma dia e noite. Se essa for uma possibilidade de juntar mais provas para puni-la, eu contarei e desta vez, não descansarei enquanto não ver essa mulher atrás das grades!
Augusto suspirou profundo.
__ Não tenha dúvidas do que farei a ela, Liz. Já havíamos conversado antes e eu concordei com tudo o que pretendia fazer. Confesso que seu segredo ao ser contado a mim, fez com que repensasse meu modo de vida! Agradeço a Deus por não ter morrido naquele enfarte. Estou tendo a chance de reparar erros e o farei sem remorsos!Não posso compactuar que Celeste tenha matado minha filha no seu útero!Você agora, tem o queijo e a faca na mão para reabrir o inquérito.
Vítor levantou surpreso com a declaração. Dany deixou escapar uma exclamação, horrorizada.
 __ Meu Deus, que monstro!! - segurou ainda mais forte na mão da mulher, que estava gelada e trêmula.
__ Pai, o senhor e Lizandra...- Vítor tirava sua conclusão
__ Sim, mas não pense que traí sua mãe! Amava Lúcia de todo o meu coração, mas ela se foi e eu fiquei desesperado! Quando encontrei Liz, vi que não precisava viver sofrendo. Lucia tinha sido o meu amor, mas eu era jovem e me apaixonei por Liz. - olhou para ela, pausando.__ Desculpa, querida, mas eles terão que saber que vivemos um romance e que fui o mais canalha de todos os homens da face da terra!Não me importo com os julgamentos que virão sobre mim. Estou disposto a pagar pelas minhas escolhas. Elas fizeram eu perder uma filha. - ele limpou uma lágrima, olhando para a afilhada. __ Poderia ter quase a sua idade Danyelle!
__ Padrinho, eu estou chocada!Não é possível que ela tenha chegado a esse ponto!
Lizandra, respondeu, sorrindo com uma amargura de dar dó.
__ Pois fez, Dany, e você não faz ideia do que passei! É praticamente, um milagre eu estar aqui para contar essa história a vocês e lutar por justiça!
Vítor veio apressado para o lado do pai com o dedo em riste.Seu semblante tinha se transformado.
___ E com que direito, naquela noite do aniversário de Priscila, veio me dizer que deveria casar com ela por estar grávida? Com que direito? Me responda Augusto Montenegro! Pelo que estou entendendo, você não assumiu Lizandra! Faça o que digo, mas não faça o que eu faço! É isso, pai?!- ele vociferou.
Dany levantou parando a sua frente, pondo as duas mãos sobre o peito dele, coberto pela malha azul da camisa polo que usava.
__ Amor, por favor, se acalma. Não vamos começar a cobrar nada de ninguém. Nosso foco é Celeste. Vamos escutar Lizandra, escutar o padrinho...depois conversaremos. Isso tudo é muito chocante, Lizandra não precisa ouvir essa discussão. Não vamos fazer Lizandra sofrer mais do que já está sofrendo, por favor! 
__ Impossível, Dany! Meu pai me cobrou várias coisas naquela noite! - ele segurou o rosto dela entre as mãos, tenso e irritado.___ Não entende? Eu quase a perdi! Quase perdemos Alice! Ele me obrigou a fazer o mesmo com você! Em nome, de uma moral, que nem ele sabe o que significa, quase arruinou minha vida!
__ Vítor - Lizandra levantou a cabeça.__ ambos erramos! Eu também fui orgulhosa. Se tivesse contado sobre minha gravidez, acredito que não estaríamos aqui hoje, discutindo isso. Augusto teria tido a mesma atitude que você está tendo com Dany. Acredite, já conversamos muito sobre isso.
Seu pai infartou ao saber a verdade. Não vamos causar mais estresse do que já estamos passando.
Vítor, suspirou, deixando cair as mãos ao lado do corpo, se dando conta que a mulher tinha razão. Apesar de tudo, amava e respeitava o pai. Detestaria se sentir culpado, caso acontecesse algo com ele. Dany o fez sentar para que Lizandra pudesse continuar.
Duas horas mais tarde, Rute bateu na porta avisando que o jantar estava servido. Vítor e Dany, acompanharam a senhora, porém Augusto e Lizandra ainda se demoraram para sentarem à mesa com eles.
Embora, na tivessem ânimo para conversas alegres, tentaram emplacar assuntos cotidianos para não darem na vista dos outros. No entanto, assim que todos se recolheram e Dany foi para a cozinha, como nos velhos tempos, Rute, que não deixava escapar nada, desconfiada, a encheu de perguntas. Dany tentou da melhor  forma desviar de todas. Não poderia contar a conversa, antes que Augusto e Vítor fizessem a denúncia formalmente. Amava Rute, mas como tinham, os quatro combinado, nada sobre o dossiê, poderia sair para fora daquele escritório.
Lizandra, adentrou o recinto para dar boa noite a mãe. Danyelle acabava de guardar a última louça do jantar no armário.
___ Boa noite, mãe. - beijou o alto da cabeça dela.___ Vou me deitar, está começando uma dorzinha de cabeça!
Rute olhou para ambas, seu faro dizia que escondiam algo dela.
___ Acho que todos estão estranhos! Vão me contar o que conversaram naquela sala ou já estou assim tão velha, que estão me dispensando para contar as novidades?
As duas se entreolharam e sorriram. Amavam Rute e num impulso, elas lhe abraçaram ao mesmo, enchendo de beijos a face já cansada dela. Rute faceira, ria.
___ Deixa de bobagem, mãe! - Lizandra pegou de leve a bochecha dela.__ Se fosse algo muito importante, é óbvio que seria a primeira pessoa a saber. 
Rute torceu a boca em contragosto. 
___ Sabe que não gosto quando seu Augusto vem pra cima de você! Ele não merece nada...- pausou pois estava falando demais.
Lizandra a tranquilizou.
___ Danyelle sabe de tudo, mãe! Era justamente sobre isso que falávamos a pouco.
___ Então, contou a Vítor sobre o bebê que perdeu?
___ Sim, Rute, - Dany afirmou.___ e  lamentamos muito o que aconteceu.
___ Contou tudo, Lizandra? Tudo mesmo? - se certificou, para saber de Celeste.
___ Sim, mãe. Em breve, farei justiça!
Temerosa, a mãe aconselhou:
___ Liz, não seria melhor esquecer esse fato? Remexer nisso me deixa preocupada!Faz tanto tempo...Nada vai mudar a situação. Só irá sofrer mais.
___ Não, mãe! Augusto concorda com tudo. Vou lutar!
___ E Vítor também concorda, Rutinha! - Danyelle acariciou os cabelos com o tingimento desbotado. ___Foi monstruoso o que Celeste fez! - argumentou baixinho.
___ Não sei, tenho tanto medo.
___ Fica tranquila, desta vez tudo sairá nos conformes, mãe.
Rute olhou para as duas paradas junto dela no meio da cozinha.
___ Mas vocês não conversaram esse tempo todo só sobre isso...- argumentou desconfiada.
Dany tomou a frente. Detestava esconder algo tão sério e que seria também do interesse de Rute, mas no momento teria que ser assim.
___ Não conversamos só sobre isso.  - sorriu, pausando as frases com carinho para convencê-la.__Se quiser fazer um chá para nós...daqueles que só você sabe fazer...aquele que além de ervas, tem os melhores ingredientes....o teu amor e teu carinho... Prepara o chá e vou te contar sobre o que o padrinho queria falar comigo, Rute.
Lizandra sorriu, balançando a cabeça e sentou à ponta da mesa. Danyelle soube levar o assunto para um lado que deixaria Rute sem desconfianças.
___ Sei que no início, vai ficar brava, vai me julgar... mas depois de tudo, irá me entender porque você é a mãe que não tive! E mães sempre perdoam os erros dos filhos, não é mesmo? - questionou com carinho.
___ Ah, vocês duas! - deu com a mão no ar. __Usam o meu lado afetivo pra me seduzir! Vou fazer um chá de Camomila!- se voltou para abrir um armário, parando, e em seguida, afirmando.
___ Esse chá  você pode beber à vontade, Dany. Não faz mal ao bebê aí dentro.
Danyelle riu, pegando no balcão a suas costas, um vidro com bolachas caseiras. Especialidades de Rute.
___ Rute, não estou grávida! Menstruei mês passado!
___ Ah, pois sim! Quer enganar a mim, que acompanhava minha falecida mãezinha, nos partos que ela fazia nas mulheres daqui da região? Saiba que seus sintomas são de gravidez e sim, têm mulheres que as regras não deixam de vir mensalmente. Só descobrem quando a barriga começa a crescer e o bebê se mexer!
___ Sério, isso, Rute? - ela franziu a testa.
___ Dany, eu se fosse você não duvidaria. Minha avó era parteira. A mãe, foi a primeira a dizer que eu tinha engravidado! Ela sabe do que está falando. A experiência dessas mulheres dos Pampas, substitui, qualquer exame! - ela brincou, mas sabia que a mãe tinha razão, também achava que ela esperava um bebê.
Há 22 anos, mesmo antes de desconfiar que estava grávida de Augusto, Rute já sabia, só pelo modo como fazia caretas para alguns alimentos.
Rute serviu o chá nas xícaras brancas, decoradas com pequenas flores rosadas, dispostas sobre a mesa e sentou, esperando a narrativa da menina que tinha ajudado a criar. 
Danyelle, um pouco constrangida, contou toda sua trajetória em São Paulo, omitindo é claro, como os homens se sentiam em relação a borboleta que dançava no palco. Não queria chocá-la com os fatos que aconteciam naquela boate de encontro sexuais.
Rute ao final de tudo, suspirou, bebendo o último gole do líquido amarelado da xícara, a encarando com seriedade.
__ Cada cabeça uma sentença! Espero que não esteja mentindo quanto aos programas. Dediquei uma boa parte do meu tempo, lhe dando conselhos para que pudesse se tornar uma moça de boa índole!
__ Rute, estou falando a mais pura verdade. Nunca me deitei com nenhum outro homem! Até hoje, só Vítor me tocou! Eu sempre o amei e continuo amando, como se ele fizesse parte de mim. 
__ Eu sei que não seria capaz de se vender ! Assim como sempre soube que nunca pegou aquele dinheiro naquela madrugada. Eu confio em você!
__ Não peguei mesmo! - segurou a mão calejada sobre a mesa.__ Obrigada, por sempre ter sido sempre tão boa comigo! 
Rute levantou, recolocando a cadeira no lugar. 
__ Muito bem! O que não tem remédio, remediado está, não é mesmo? Agora, digo uma coisa: Celeste não irá sossegar até te tirar do caminho de Priscila! Vai usar isso para te jogar na lama! 
__ Ela até pode tentar, como já está fazendo, mas logo, as pessoas esquecerão. Sempre aparece um escândalo maior para o povo tomar conta.
Lizandra acenou com a cabeça.
__ Bem isso! Essa tal de reputação política é um inferno! Sabemos que políticos não são santos, mas basta uma de suas mulheres: filha, esposas, namoradas dar um passo em falso para a mídia cair em cima. É o machismo desenhado na sua pior forma! O negócio é não esquentar a cuca! - sorriu para a mãe.__ E então mãe, satisfeita a sua curiosidade? Vamos dormir?
Rute formou um meio sorriso, olhando para ambas. Não tinha ficado feliz em saber que Danyelle tinha procurado um caminho não muito certo para sobreviver em São Paulo, mas não a condenaria.
Na vida só não há remédio para a morte, pensou.
__ Vamos dormir, que amanhã é outro dia e esta casa está cheia de vida novamente! Sem Celeste por perto tudo fica melhor. Vamos dormir para aproveitar a Sexta-feira Santa, sem ela por perto pra incomodar!  E você - olhou para Danyelle, que já lavava as xícaras na pia, avisando.__ tome cuidado com ela! 
__ Tomarei, Rute! Sei com quem estou lidando!
As três seguiram corredor à fora. Rute trazia a preocupação no coração. Celeste não aceitaria a presença das duas ali, no sábado, quando chegasse da capital.