CAP.1

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     Era perceptível o cheiro úmido da grama e do carvalho abundante. O sol incomodava aquele par de olhos dourados como o milho, os fazendo abrir e seu dono despertar. Um homem, com aparência de garoto se levanta da grama recém molhada devido ao chuvisco de horas atrás, não reconhece o lugar. Ele permanece desprovido de qualquer peça de roupa, sente fome, frio e confusão.
     Não lembra seu nome, onde estava e quem era. Passou a mão na cabeça e lá identificou algumas gotículas de sangue, possivelmente de um ferimento. Andou por entre as árvores, que se tornavam mais bonitas a cada passo dado. O verde era exuberante e chamava toda a atenção, os pássaros piavam numa harmonia fenomenal só distraindo mais o homem que vagava sem rumo, oque o fez tropeçar e cair ladeira a baixo. Só ficou mais confuso ao cair, mas não o suficiente para desmaiar.
     Seus ouvidos rapidamente se atentaram ao barulho de correnteza pouco mais a frente, ele andou até ela vendo a imagem de um belíssimo rio o qual um cervo já bebia do líquido que lá corria. Ele se ajoelhou e lambuzou-se da água, se deliciando a cada gole, a medida que fazia uma concha com as mãos e levava até a boca.
     Pessima hora que um coelinho de pelugem branca decidiu passar, o cervo já havia ido embora e o homem sentia fome.

...

   Já na calada da noite, o garoto misterioso se alimentava do coelho já sem a pelugem e perfeitamente assado na fogueira. O fogo fazia um certo barulho sorrateiro, dos galhos que o acendiam se quebrando e as chamas dançavam em completa sintonia. Barulhos de coruja eram audíveis, também podia-se observar "gotas" brilhantes, pequenos vaga-lumes que pareciam vagar sem rumo.
    O homem viu ao longe voando pelo céu uma fumaça de cor acizentada, mas não vinha de sua fogueira, estava mais longe. Devido a já estar bem tarde e o sono após a densa refeição já bater ele decidiu esperar, ao amanhecer caminharia até o ambiente que o cheiro de fumaça era perceptível.
    A fogueira foi apagada, um monte de folhas foi feito o qual o homem deitou e também se cobriu com as folhas. Ele dormiu olhando as estrelas, as belíssimas constelações que ele gostaria de ter lembrado de ter visto outras vezes. E assim adormeceu.
     Porém em outro lugar, no mesmo momento uma discussão corria solta por uma casa.

-Eu não quero um casamento arranjado.- Dizia uma garota de cabelos inteiramente trançados, quase berrando com sua avó.
-Minha querida, eu não quero que você viva aqui pra sempre. Quero que você se aventure e conheça o mundo, quero que você ame.- A mulher de pele negra e cabelos evidentemente brancos dizia a moça que permanecia irritada.
-Vovó, deixa eu te explicar uma coisa.- A garota disse com doçura se aproximando da avó e segurando suas mãos envelhecidas pelo tempo- Eu não vou embora dessa casa até você morrer, entende? Eu não posso te deixar com você tão idosa assim, eu iria andar cada passo me culpando por não ter ficado aqui. Você não tem mais condições de ir até o vilarejo quase todos os dias.
-Oh Bonnie, você sempre foi tão amável assim como diz seu nome. Mas eu não quero prende-la a uma senhora com o pé na cova.- A avó da garota o qual atendia pelo nome de Maya disse com receio por ela, realmente não queria prende-la a si.
-Eu não quero mais falar sobre isso hoje, conversamos amanhã depois que eu voltar do trabalho tudo bem?- Bonnie propôs com um sorriso meigo.
-Claro meu bem, vamos nos deitar. Amanhã vou fazer uma sopa, sua predileta, o que acha?- A idosa se levantou do lugar onde estava sentada com um sorriso travesso.
-Se estiver tudo bem pra você eu aceito.- Sua neta respondeu também se levantando.

     Bonnie deu um abraço e um beijo na testa de sua avó Maya, esperou ela se dirigir ao quarto para ela ir ao dela. Tirou o vestido do dia, vestiu uma camisola de tecido não tão nobre e colocou em volta de sua cabeça um pedaço se cetim, que havia arranjado alguns anos atrás. Apagou as velas da casa que ainda estavam acesas e retornou ao quarto com um lampião em mãos, o colocou no móvel ao lado de sua cama e foi até a janela observar um pouco a lua. E viu uma fumaça mais adiante, pequena comparada a de que saia de sua chaminé quando acendiam o caldeirão, talvez havia vindo de uma fogueira recém apagada.

CONSOLIDADOSOnde histórias criam vida. Descubra agora