un - eu quero começar de novo

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Hoseok já havia perdido a conta de quantas vezes já havia servido aquela taça naquela noite. Todos os outros empregados já haviam ido dormir, exceto por ele, que não podia deixar o garoto sozinho naquele estado. Não era a primeira vez que o príncipe decidia se embebedar longe dos olhos do pai, mas havia algo errado naquela noite. Hoseok já havia o encontrado escondido na cozinha com uma garrafa de vinho quase vazia no meio da madrugada, mas Hyungwon só o mandou embora e voltou a beber.

Era a primeira vez que ele pedia que Hoseok o fizesse companhia. Ainda que ele não tivesse dito uma palavra, Hyungwon sentia-se ridiculamente menos sozinho com alguém ocupando a cadeira ao seu lado. Hoseok não imaginou que se sentaria para fazer companhia ao herdeiro mais cobiçado dos arredores daquela região, e imaginou que seria o máximo de intimidade que chegariam a ter, mas a julgar pelas próximas semanas, estava errado. Totalmente e completamente errado.

– Seu nome é Hoseok, não?

– Sim, alteza.

Hyungwon mordeu o interior da bochecha ao escutar aquela palavra. Odiava ser tratado de forma tão polida, mesmo que acontecesse todos os dias. Só queria ser alguém normal, como Hoseok parecia ser. Começava a ser servido assim que colocava os pés para fora da cama. Nem as próprias roupas podia vestir sozinho, porque mesmo que tentasse, algum empregado sempre aparecia para fazia isso por ele.

Era patético.

– Não me chame assim. Meu nome é Hyungwon. Só Hyungwon.

– Eu não acho que isso seja adequado, alteza.

– Está aqui para cumprir ordens, não é? – perguntou, e Hoseok assentiu, ainda que odiasse a constante irritabilidade de Hyungwon – Pois eu quero que me chame assim de hoje em diante, você me ouviu?

– Sim... Hyungwon.

O mais novo esboçou algo parecido com um sorriso, já alterado pelo álcool, e arrastou a taça pela mesa, em direção a Hoseok. Ele o serviu outra vez e encarou com tédio a garrafa de vinho ficando vazia. Algo de errado estava acontecendo, porque mesmo que gostasse de se embriagar de vez em quando, Hyungwon nunca passava da primeira garrafa. De toda forma, não era da conta dele. Se Hyungwon o mandasse continuar sentado e servir mais duas garrafas, Hoseok teria que obedecer quieto e sem reclamar.

– Como é a sua vida? – Hyungwon voltou a perguntar, depois de passar alguns minutos em silêncio.

Hoseok ergueu os olhos para o príncipe no mesmo instante, e pensou na resposta mais ríspida que poderia dar, porque já estava cansado e não queria que aquela conversa se prolongasse por mais tempo. Hyungwon não se interessava pela plebe e sequer tinha dirigido o olhar a Hoseok antes daquela noite. Por que de repente começou a se interessar pela vida das pessoas que viviam só para servi-lo?

– Como a de todos os empregados.

– Você parece odiar me servir – comentou o mais novo, e Hoseok suspirou. Por quanto tempo mais iria ter que aguentar as perguntas descabidas de Hyungwon? – Parece me odiar também. Mas por quê?

Hoseok sorriu ironicamente, e por mais que adorasse responder aquela pergunta, só ficou em silêncio. Hyungwon não havia puxado em nada sua falecida mãe, mas era grosso, autoritário e prepotente como o pai. Nada nunca era suficiente para ele. Os empregados se revezavam para decidir quem iria servi-lo durante o dia e reclamavam da forma que eram tratados quando o príncipe não estava mais por perto. Observando a vista escura através da janela, Hoseok se lembrou de quando ainda era só um garoto.

Não tinha muito com quem se divertir em um lugar onde só haviam adultos e o único outro garoto era o príncipe. Mesmo assim, ele e Hyungwon passavam os dias juntos, ignorando os avisos dos empregados que sabiam que aquilo traria confusão caso alguém reclamasse, e algumas semanas depois, Hoseok foi proibido de ver Hyungwon para que o seu pai não acabasse sendo mandada para a rua. Embora o mais novo não lembrasse, para Hoseok era como se aquilo tivesse acontecido há pouco tempo.

The Kingdom - 2wonOnde histórias criam vida. Descubra agora