capítulo quatro - nem tão difícil assim

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     Nem lembro até que horas fiquei acordado esperando Yeonjun voltar, mas sei que foram muitas, muitas horas. O barulho da porta do elevador/porta do apartamento abrindo me fez acordar num susto e foi quando eu percebi que ainda estava no sofá, com meu caderno no colo, meu celular na mão e meus óculos pendurados no meu rosto.

— Não sei se você reparou, mas tem lugar pra dormir lá em cima, não precisa dormir no sofá. — Yeonjun disse enquanto caminhava até a cozinha.

— Eu não dormi no sofá de propósito, eu peguei no sono sem querer...

— Droga, esqueci que não tem comida nesse lugar. O que você comeu ontem?

— Eu pedi pelo delivery. — eu respondia avoado, enquanto me recompunha no sofá.

— Ótimo, pede alguma coisa que sirva de café da manhã, eu tô morrendo de fome.

Ele pegou impulso e se sentou na bancada que dividia a cozinha da sala de estar. Eu não conseguia parar de encará-lo. Estava com a mesma roupa de quando saiu, mas seu cabelo estava molhado, o que o deixava ainda maior. Aparentava estar estranhamente de bom humor, o que já não era o meu caso. O sono que saía do meu corpo dava lugar à uma irritação que eu não sentia por muito tempo.

— Sr. Choi, onde você estava?

Ele desviou os olhos do celular para olhar para mim e sorriu. Demorou alguns segundos antes de me responder.

— Soobin, você esperava mesmo que eu ficasse aqui numa sexta feira?

— Sim, eu esperava. Sr. Choi...

— Olha só, se vamos passar uma semana inteira aqui, você precisa parar de me chamar de Sr. Choi.

— Prefiro continuar com as minhas formalidades, obrigado. E o senhor não está em condições de ser visto em público ainda, principalmente agora que todos sabem do documentário.

— Quando eu assinei o contrato, me disseram que eu teria um jornalista em casa e não uma babá. Não enche.

Seu sorriso se desfez e ele voltou a prestar atenção apenas no celular. Eu podia sentir meu rosto esquentando aos poucos. Era cedo demais para sentir raiva, mas com Yeonjun ali era inevitável. Eu me recusava a ter meu nome envolvido em um projeto fracassado por culpa de outra pessoa, estava fora de cogitação, e era justamente o que aconteceria se ele não colaborasse e não começasse a levar a sério logo. Em menos de vinte e quatro horas, Yeonjun já tinha me contrariado inúmeras vezes. Não que eu esperava que ele fosse apenas acenar e concordar com tudo, mas avaliando a sua situação e o motivo de estarmos ali, imaginei que ele fosse ao menos tentar. Eu estava no meu limite. Quando eu percebi, já estava em pé na frente dele, com seu celular na minha mão.

— Mas que porra é essa?

— Eu quem deveria perguntar que porra é essa, Yeonjun! Eu não tô aqui pra brincadeira e muito menos pra tomar conta de celebridade mimada. Eu concordei em vir aqui pra salvar o resto de dignidade que você tem, usando todo o meu talento no meu trabalho e você pode ter certeza de que eu consigo fazer isso, posso fazer o país inteiro acreditar que você é Deus, se eu quiser. Mas não pense que eu vou ficar aqui fazendo suas vontades, esperando você estar à minha disposição porque não é assim que isso vai funcionar. Você quis que minha equipe fosse embora? Eles foram. Você não quis câmera no seu quarto? Não coloquei. Respeitei o seu espaço e a sua privacidade, então eu peço que, por gentileza, você haja pela primeira vez na vida como um homem adulto e respeite o meu trabalho que, infelizmente, depende da sua colaboração. - as palavras simplesmente saíam disparadas uma seguida da outra e eu precisei parar para recuperar o fôlego - Não é mais só a sua imagem que está em jogo aqui.

24/7 • yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora