Da janela, Catarina observava os para-brisas dos carros que passavam pela estrada se movimentando numa tentativa quase inútil de livrarem-se dos pingos da chuva que aumentava cada vez mais. A garota fez isso por todo o trajeto, enquanto aguardava sua parada chegar.
Em qualquer outro dia, ela estaria lendo algum livro, mas naquele, em especial, o ônibus estava tão lotado que ela ter conseguido sacar o celular do bolso do seu jeans surrado e colocar alguma música para tocar foi um feitio surpreendente.
Finalmente, Catarina chegou ao seu destino, a chuva havia diminuído sua intensidade, mas a probabilidade de chegar seca no local era nula. Apesar de receber, com frequência, avisos de sua mãe para que carregasse o guarda-chuva consigo, ela sempre ignorava, um ato um tanto imprudente, sendo uma verdade universal que mães nunca erram quando o assunto é a previsão do tempo. Por sorte, a universidade em que ela estudava era perto, então a decisão não tão sábia que ela tomou foi correr até lá, por meio de poças que haviam se formado naquela manhã chuvosa.
Como era de costume, ela chegou na aula atrasada e recebeu um olhar repreensivo da professora, que continuou falando de teoremas de matemáticos que Catarina mal sabia pronunciar o nome e, involuntariamente, ela desejou ter se atrasado o suficiente para ter perdido essa aula. Não a entendam mal, Catarina amava seu curso, porém não considerou sua aversão por algumas matérias de exatas na hora de escolher Arquitetura e Urbanismo como seu futuro. Ainda assim, a sua paixão pela outra parte do curso e o fato de ser uma espécie de nerd a faziam ter ótimas notas.
Enquanto divagava pelos seus pensamentos, a garota notou que havia alguém a encarando, que, quando percebeu que havia sido notado, sorriu para ela. Meio sem jeito, ela lhe devolveu um sorriso amarelo e decidiu que prestar atenção na aula era a melhor opção.
***
Nas quartas-feiras, Catarina só tinha aula na parte da manhã, então, ao invés de seguir para encontrar Camila, sua melhor amiga, a garota foi em direção ao ponto de ônibus. De longe, avistou o mesmo menino que havia lhe sorrido durante a aula. Ela acreditava que o nome dele era Pedro ou algo parecido, como estava no primeiro período da faculdade, ainda não tinha se enturmado o bastante pra decorar o nome de todos os seus colegas -sua memória péssima também era um fator importante, nesse caso.
Ele foi quem iniciou o diálogo um tanto constrangedor, resumido basicamente em "oi" e "seu nome é Catarina, né?", mas, após isso, eles conseguiram conversar como adolescentes normais e ficaram comentando sobre coisas relacionadas à faculdade enquanto esperavam seus respectivos ônibus chegarem.
***
Ao abrir a porta de casa, Catarina se deparou com Rafael, namorado de sua irmã, que levou um susto, como se quem morasse ali fosse ele. E a verdade era que ele passava mais tempo na casa delas do que na dele mesmo.
-E aí, Cat, como foi o dia? - disse, sorridente. Rafael tinha um sorriso que facilmente contagiava qualquer um.
-Foi bom, Rafa. Cansativo, mas bom. O que você ta fazendo aqui?
-Caraca, agora não posso nem visitar minha cunhada favorita?
-Rafael, eu sou tua única cunhada. E ainda assim, duvido muito que tu estejas aqui por minha causa.
-Poxa, machucou- disse ele, com uma cara de sofrimento nitidamente fingida. -Eu to esperando tua irmã para irmos almoçar, ta a fim de ir?
Rafael e Júlia namoravam há dois anos. Ele havia se mudado para a vizinhança há seis anos e logo de cara ele e Catarina viraram amigos. Eles costumavam passar a tarde juntos, assistindo filmes, jogando vídeo-game e fazendo pipoca doce, que, quase sempre se transformava em pipoca queimada.Apesar da diferença de idade, que os separavam por três anos, conversavam sobre tudo e planejavam as viagens que fariam juntos quando crescessem.
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Recíproco
RomanceA história de Catarina Santos poderia ser um tanto monótona, tendo em vista a relação pacífica com sua família, amigos confiáveis, notas altas e ônibus lotados. Não fosse a paixão platônica que ela nutria por Rafael Castro, seu cunhado, vizinho e me...