Capítulo 39

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- Me desculpa – Noah passava a dizer, enquanto estávamos na mesa, para o último jantar juntos. Cortesia de Aguirre, segundo ele, para poder dizer que não é um pai tão horrível.

- Pelo que? – perguntei sem conseguir olhar para ele, olhava apenas para a comida em meu prato, sem eu se quer ter tocado um garfo nela.

- Por tudo. Eu acho que deveria ter contado tudo a você, pelo menos saberia com que estava lidando. Mas, eu realmente acreditava que o plano de Miriella daria certo – ele dizia com o seu olhar cabisbaixo, ele também não havia tocado na comida ainda.

- Por que não tenta fazer isso agora, talvez seja sua última chance – respondi, dizendo a mim mesma que era a última vez que implorava pela verdade.

- Acho que é minha última oportunidade mesmo, não é? – ele expressou e aquilo foi com uma pontada em meu peito.

- Eu, eu, não quis dizer nesse sentido... – dizia até ser interrompida.

- Tudo bem Bela, eu sei! Mas, acho que merece saber por mim. Irá saber de qualquer forma a partir de agora. Creio que sou a melhor pessoa para contar, ou tudo poderá ser torcionado. Tudo começou quando eu me mudei para perto de sua casa, aos meus oito anos...

A rua era tranquila, o bairro todo era calmo, então as crianças sempre estavam pela rua brincando, e você era uma delas. Quando eu cheguei, você estava lá, com seu vestido floreado em lilás, correndo de um lado a outro tentando se enturmar. Sua irmã já era mais aberta, com mais amizades, era bem visível, e você sempre na cola dela. E mesmo com apenas oito anos, eu em minha completa inocência, me apaixonei, uma paixão infantil. Você era tão meiga Bela, desde criança! Então, depois de alguns dias, apenas observando pela janela, eu resolvi que queria ir brincar com vocês, e principalmente, me aproximar de você. Mas, o meu pai já havia percebido isso. Ele sempre me pegava na janela olhando. Então, ele me disse um dia:

- Heitor! Você precisa ser igual a mim. Ser um homem forte, determinado, respeitado por todos, para que possa cuidar de meus negócios.

Ele sempre era muito rígido comigo. Eu já tinha medo dele.

Mas, o dia que resolvi ir até a rua, em uma tarde que vocês estavam lá, eu saí na porta e vi as rosas que tínhamos no quintal. Era vermelhas, tão vivas, tão lindas! Eu peguei uma, queria muito dar a você. No mesmo instante, o meu pai já estava atrás de mim.

- O que pretende fazer com essa rosa Heitor? – ele perguntou.

- Quero dar a alguém! – em aquele momento ele agarrou meus dois braços forte, um deles chegou a machucar. Ele me olhava fixamente nos olhos, lembro até hoje.

- Escolha alguém muito especial filho! – ele disse por fim, e eu inocente, sorri.

Eu fui até você e lhe dei a rosa, estava tão feliz naquele momento. Vi o seu sorriso lindo pela primeira vez de perto, foi especial. Me lembro que passamos a tarde juntos, conversamos, brincamos, eu nem me importava com as outras crianças, estar ao seu lado, era tudo naquele momento. E quando voltei, eu jamais esperava o que ia acontecer.

Encontrei meu pai sentando na mesa, pedindo para que eu sentasse na sua frente.

- Escolheu muito bem! – ele dizia enquanto eu sentava, e eu me sentia bem, achando que o tinha deixado orgulhoso de uma forma boa.

- Obrigado papai! – eu respondi contente.

- Agora será sua primeira lição. Eu esperava muito por esse momento – ele dizia com um enorme sorriso no rosto – A rosa, tem um significado muito importante para mim. E como você a pegou, e nem mesmo me pediu, é necessário um pagamento por ela.

- Como assim papai? – eu perguntava.

- Uma rosa, por uma vida. Uma vida, por uma rosa! – ele passava a dizer, e o sorriso dele se tornava assustador.

- Papai, ainda não entendo – disse mais uma vez.

- Esse é o pagamento pela rosa Heitor. Uma vida! – ele explicava, mas eu era criança, não entendia até onde isso chegava.

- Eu pago pai. Pago com minha vida! – eu respondi.

- Não Heitor! A sua, eu já tenho, você é meu filho. A vida para pagar a rosa, é a vida para quem você a deu. Por isso lhe disse que escolheu tão bem.

- O que? – eu exclamei, interrompendo o que Noah me contava – você era apenas uma criança Noah, o que ele queria com tudo isso?

- Ele queria me tornar em alguém como ele Bela. – Noah respondeu e então eu deixei ele continuar.

- Agora você aprenderá a lição, de que sentimentos não devem ser levados em conta Heitor. Negócios acima de tudo! Grave isso. E agora, para mostrar que está aprendendo, você deverá me dar o pagamento pela rosa! – Aguirre por fim concluiu.

- Como dar a vida dela papai? – eu perguntei ainda sem entender nada do que estava acontecendo.

- Você ainda é jovem meu filho, mas logo chegará o momento de isso acontecer. Por enquanto, apenas se torne bem próximo dela!  - ele disse e em seguida se dirigiu ao seu quarto. 

Era tudo o que eu queria, me tornar próximo de ti. Eu achava que estava tudo bem. Até alguns anos se passarem... 

A Fera e a Quase Bela |LIVRO 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora